Aventuras de Pedro Malasartes

 

Compiladas por Luiz da Câmara Cascudo

 

 

 

 

 

Nas cercanias da casa de Pedro Malasartes morava um homem rico e muito avarento.
Vivia enganando toda a gente e sendo detestado por todos os vizinhos.
Não pagava ordenado aos seus empregados porque fazia apostas com eles.
Não era possível cumprir-se as condições que ele impunha, pois tinham sido escolhidas com intenção de burla.
Malasartes ofereceu-se para criado e o homem aceitou. Se Malasartes ficasse trinta dias sem pedir a conta, seria pago três vezes; não o fazendo, nada teria de direito.

O homem mandou Malasartes com mais de duzentas ovelhas para o campo, com ordem de passar por uma garganta de serra muito estreita. As ovelhas recusaram-se a avançar; os empregados anteriores haviam desistido por conta desse embaraço. Malasartes chegou ao boqueirão, agarrou uma ovelha, amarrou-a e saiu na frente puxando o animalzinho. As outras então o acompanharam sem dificuldade.

Não deram rede para Malasartes dormir.
- Durma onde quiser, disse-lhe o homem.

Pedro, vendo que o casal guardava a comida num armário grande, trepou-se para cima dele, com as pernas descidas e recusou-se a sair, dizendo ser aquela a sua cama.
Como o casal queria comer, ofereceram ao novo empregado o direito de fazer as refeições com eles, marido e mulher. Vai que então só puderam comer pão e bolachas, o que davam a Pedro quando ele se empregou.

Mandou o dono que Malasartes levasse o carro de bois e o metesse numa sala sem passar pelas portas. Malasartes despedaçou o carro, partiu os bois em quatro e jogou tudo pela janela.
Dias depois, o dono da casa foi viajar e recomendou a Pedro que desejava, na volta, encontrar o gado muito bem tratado, rindo-se com o tempo.
Quando o homem voltou, Malasartes havia cortado os beiços dos bois, vacas, novilhos, touros, deixando-os com os dentes de fora, como se estivessem rindo.

Não quis mais conversa.
Pagou três vezes e mandou que Pedro Malasartes fosse embora antes que ficasse completamente arruinado.

Entrou por uma porta e saiu por outra.
Quem quiser que conte outra

 

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