BERTOLT BRECHT

 

Da Sedução dos Anjos

Anjos seduzem-se: nunca ou a matar.
Puxa-o só para dentro de casa e mete-
-Lhe a língua na boca e os dedos sem frete
Por baixo da saia até se molhar

Vira-o contra a parede, ergue-lhe a saia
E fode-o. Se gemer, algo crispado
Segura-o bem, fá-lo vir-se em dobrado
P'ra que do choque no fim te não caia.

Exorta-o a que agite bem o cu
Manda-o tocar-te os guizos atrevido
Diz que ousar na queda lhe é permitido

Desde que entre o céu e a terra flutue -
Mas não o olhes na cara enquanto fodes
E as asas, rapaz, não lhas amarrotes.

Tradução de Aires Graça

 

Do Prazer dos Homens Casados

Mulheres minhas, infiéis, adoro amá-las:
Vêem meu olho em sua pelve embutido
E têm de encobrir o ventre já enchido
(Como dá gozo assim observá-las).

Na boca ainda o sabor do outro homem
Ela é forçada a dar-me tesão viva
Com essa boca a rir para mim lasciva
Outro caralho ainda no frio abdómen!

Enquanto a contemplo, quieto e alheio
Do prato do seu gozo comendo os restos
Esgana no peito o sexo, com seus gestos

Ao escrever os versos, ainda eu estava cheio!
(O gozo ia eu pagar de forma extrema
Se as amantes lessem este poema.)

Tradução de Aires Graça

 

Soprava o Vento pela Fresta

Soprava o vento pela fresta
A menina comia nêspera
Antes de dar em segredo
O níveo corpo ao folguedo:

Mas antes provou ter tacto
Pois só o queria nu no acto
Um corpo bom como um figo
Não se vai foder vestido.

Para ela em tempos de ais
Nunca o gozo era demais.
Lavava-se bem depois:
Nunca o carro antes dos bois.

Tradução de Aires Graça

 

Maria seja louvada

Maria sejas louvada
Como és tão apertada
Uma virgindade assim
É coisa demais p'ra mim.

Seja como for o sémen
Sempre o derramo expedito:
Ao fim dum tempo infinito
Muito antes do amen.

Maria sejas louvada
Tua virgindade encruada
'Inda me pões fora de mim.
Porque és tão fiel assim?

Por que devo eu, que dialho
Só porque esperaste tanto
Logo eu, o teu encanto
Em vez doutro ter trabalho?

Tradução de Aires Graça

 

Reivindicação da arte

A boa, que ao seu amor nada nega
E se lhe entrega com antecipação
Saiba: que não é boa vontade não
Mas talento, o que ele deseja na esfrega.

Mesmo se à velocidade do som
Do sou-tua dela à cópula chega
Não é pressa que o botão dele carrega
Quando às bolas seminais dá vazão.

Se é o amor que primeiro atiça o fogo
Precisa ela depois, para Inverno amparado
De ser dona ainda de um traseiro dotado.
De facto, mais que o fervor no olhar
(Também faz falta) um truque há que usar:
Coxas soberbas, em soberbo jogo.

Tradução de Aires Graça

 

 Aula de amor

Mas, menina, vai com calma
Mais sedução nesse grasne:
Carnalmente eu amo a alma
E com alma eu amo a carne.

Faminto, me queria eu cheio
Não morra o cio com pudor
Amo virtude com traseiro
E no traseiro virtude pôr.

Muita menina sentiu perigo
Desde que o deus no cisne entrou
Foi com gosto ela ao castigo:
O canto do cisne ele não perdoou.

Tradução de Aires Graça

 

Hábitos de amar

Não é exacto que o prazer só perdura.
Muita vez vivido, cresce ainda mais.
Repetir as mil versões prévias, iguais
É aquilo que a nossa atracção segura:

O frémito do teu traseiro há muito
A pedi-las! Oh, a tua carne é ardil!
E a segunda é, que traz venturas mil,
Que a tua voz presa exija o desfruto!

Esse abrir de joelhos! Esse deixar-se coitar!
E o tremer, que à minha carne sinal solta
Que saciada a ânsia, logo te volta!
Esse serpear lasso! As mãos a buscar-me
Tua a sorrir!
Ai, vezes que se faça:
Não fossem já tantas, não tinha tanta graça!

Tradução de Aires Graça

 

 

Maria

A noite de seu primeiro parto
Havia sido fria. Mas anos depois
Ela esqueceu inteiramente
A frieza nas vigas sujas e no forno fumegante
Mas sobretudo esqueceu a amarga vergonha
De não poder estar só
Comum aos pobres.
Principalmente por essa razão
É que anos depois aquilo tornou-se uma festa
Com todos presentes.
A conversa rude dos pastores calou.
Depois tornaram-se reis na história

O vento, que era muito frio
Transformou-se em coro de anjos.
Sim, do buraco no teto que deixava passar o gelo
Ficou apenas
A estrela que olhava através dele.
Tudo isso
Veio do rosto de seu filho, que era leve
Amava o canto
Chamava a si os pobres
E tinha o hábito de viver entre reis
E de ver uma estrela sobre si na hora da noite

 

Elogio do Aprendizado

Aprenda o mais simples!
Para aqueles cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!
Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Arenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Frequente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.
Você tem que assumir o comando. Não se
envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixei convencer
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: O que é isso?
Você tem que assumir o comando.

 

 

Desconheço os tradutores dos poemas que não possuem esta referência.

Se alguém conhecer os seus nomes, por favor me envie para que sejam colocados os devidos créditos.

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