LUIZ ANTÔNIO BARBOSA GIGIO |
Rua Descalça
Rua
descalça, outrora trilha...
Este menino assistiu a vida,
mas não viu o tempo...
Olhou a boiada, nuvem de poeira.
Viu a casa, chão batido e tábua.
Rua
descalça, riscada na terra...
Não lembro de antes.
Nela me sinto: carrinhos de lata,
forquilha e borracha,
poças d'água, caminhos de barro.
Rua
descalça abrigou os sonhos
do menino franzino que não viu o tempo...
Abriu a porteira.
Levou para os mestres os desejos de ler
do pequeno menino...
Rua
descalça assistiu a chegada
de outros pequenos.
Seu menino não viu o tempo...
Brincou de esconde,
balança caixão, mocinho e bandido.
Amarelinha no chão...
Rua
descalça ensinou-nos a vida.
Foram-se alguns...
Outros com Deus...
Feliz, sem saber, assistiu a vida,
levou a inocência...
Rua
descalça, eu hoje te olho.
De preto se cobre;
não passa boiada...
Cadê os meninos?
Levanta o tapete!
Marcas
de pés haverá, descalços sempre...
Rua descalça, mostra tua cara
feliz de criança e vamos sonhar...
Não mostra prá eles os segredos calados,
bilhetes de amor feitos e desenhados...
Rua
descalça, assista agora,
em tua preta capa, um pequeno a caminhar...
É o rebento deste que chora,
que, um dia, contará duma rua descalça
com porteira e meninos...
Que nos assistiu a vida, sem nos contar
que o tempo passou...