Vem do mar doce lamento no cantar de uma sereia, e
estas cantigas do vento, são trovas da lua cheia...
A lua serena
e pura, quem a pesquisar se afoite, verá que é um lírio
plantado no jarro negro da noite.
Na torre da capelinha era
tão lindo o luar, que eu creio que a lua vinha na capelinha
rezar.
Navegando em rumo incerto nos mares da solidão, eu
encontrei rumo certo no cais do teu coração.
É bem rico o
violeiro e esta certeza o consola: valem mais do que dinheiro seu
verso, sua viola.
Foi-se embora o seresteiro. Adormeceu toda a
rua e Deus fez um travesseiro de nuvens brancas prá a
lua.
Nesse mapa do destino que são as linhas da mão, tenho
rios de saudade e marcas de solidão.
Se o carnaval é
tristeza mascarada de alegria, minha vida, com certeza, é
carnaval todo dia.
Aprendi a fazer trovas contemplando a luz da
lua. E as trovas viraram rosas enfeitando a minha rua...
Ó
meiga lua encantada das nuvens ao forte açoite, és rosa branca
pousada nas tranças negras da noite.
Quando partir deste
mundo peço a Deus prá minha cova, o silêncio mais profundo e a
pureza de uma trova.
Escondi toda a saudade e do amor a dura
prova, na magia incomparável dos quatro versos da
trova...
Quer saber o que é saudade? Escute bem, meu
irmão: saudade é o som da viola que eu trago em meu
coração.
Neste mundo de amargura, para resistir às
provas, transformo espinho em ternura, enchendo a vida de
trovas.
Deus fez a flor perfumada e o sonho que nos
renova; fez no céu da madrugada de cada estrela uma
trova.
Vejo na tarde tristonha, pelo vento, solto ao léu, o
lenço branco das nuvens limpando o rosto do céu.
Do São João a
vida inteira, trago no peito guardados, cinza de muita fogueira,
muitos balões apagados.
Estas cantigas tristonhas de uma dor
que não tem fim, são recados que a saudade manda sempre para
mim.
Há pastores nesta vida de todas as qualidades. Os
trovadores, querida, são pastores de saudades...
Ao deixar a
minha aldeia trouxe saudades de lá: do encanto da lua cheia, do
canto do sabiá...
"Lua Cheia" César
Coelho |