FERNANDES VIANNA







Sete sílabas num verso
que entre as musas te consagre,
a TROVA é o próprio universo,
na pequenez de um milagre.

Que vale toda a ternura
por alguém que a gente tem,
se esse alguém, por desventura,
quer ternura de outro alguém?

Quando se foi meu amor,
fez-se o mundo tão escuro,
que, perdido em minha dor,
ainda hoje me procuro.

Cabe nas pontas dos dedos,
o meu verso pequenino.
Tão perto dos meus segredos...
Tão longe do meu destino!

Deus nos deu o amanhã
para enchermos de esperanças,
que a vida reduz, malsã,
a ossuário de lembranças!

Deus, se não fora a criança,
que ainda preservo em mim,
quem me daria a esperança
de encontrar-Vos no meu fim?

Que seria das estrelas
não fosse o fulgor da noite?
À luz do sol, para vê-las,
quem haverá que se afoite?

Fui rever a mocidade,
voltar sobre os próprios passos...
- Só meus sonhos em pedaços
no ossuário da Saudade!

Vagalume intermitente
acendendo lampião,
quem te segredou que a gente
traz trevas no coração?

Mil castelos que se fez,
vãs palavras que se disse,
sonhos que nunca tem vez:
- eis em resumo, a Velhice.

Relembrar uma saudade
é calcar velha ferida...
Mas quantas vezes, na vida,
apraz-nos essa maldade!

"Em busca do poema-pérola"
Coletânea de Fernandes Vianna

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