FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA |
Desembarque dos pracinhas brasileiros
Arquivo Diana
Oliveira Maciel
A chegada à Itália causou espanto na terra. Vestiam um estranho uniforme, parecido com o dos "tedescos", mas evidentemente não o eram. Ou seriam? Eram alegres, conversadores, e os "tedescos" não o eram. Eram claros e louros como os "tedescos" alguns; morenos e trigueiros, como os filhos da terra outros; negros como os africanos do outro lado do Mediterrâneo, outros; amarelados e de olhos amendoados como os filhos do Oriente, outros; e para aumentar a confusão, uma mistura de todos esses tipos e raças, outros. Um outro companheiro febiano descreveu os brasileiros como: "luso - tupinambás - batavo -negro - espano - teuto - sino - nipo - bororo - franco - xavante - brasileiros" que julgamos de admirável precisão. (Mário Fernandes - "Xavantes na Itália"). E porque usavam aqueles uniformes tão parecidos com os dos "tedescos"? Em pouco, porém, tudo se esclarecia: eram "brasiliani", da terra para onde partiam os jovens italianos que não tinham horizontes na sua própria pátria, e aspiravam construir um futuro num mundo novo. Sim, do Brasil, o primeiro país sul-americano que armava um exército e cruzava o Atlântico para lutar pela liberdade da velha Europa, de onde partiram os ancestrais de muitos deles, que agora tornavam remoçados nos seus filhos e netos; lutar pela conservação do berço da civilização que dera ao mundo seus maiores valores; lutar para que esse mundo não mergulhasse nas Trevas para sempre! E começou a nova vida. Treinamento duro para aprimorar e completar o recebido no Brasil, conhecer melhor as novas armas, familiarizar-se com as "manhas" alemãs, especialmente as armadilhas para pegar os menos cuidadosos ou simplesmente desprevenidos, inexperientes, enfim, aprenderem tudo que fosse possível antes de seguir para a frente de combate. No intervalo de tudo isso, e como não podia deixar de ser, pois viviam cercados por uma população ao mesmo tempo curiosa e simpática - pois não era possível isolar, num país com as dimensões da Itália, uma população de cerca de 40 milhões de habitantes, de população predominantemente feminina - namorar... namorar. Um colega febiano, naturalmente um poeta, chegou a escrever na apresentação de pequeno livro por ele escrito: "Em toda a solidão que foi o torvelinho da guerra, o brasileiro não esteve só. Acompanhou-o sempre, gentil e terna, a mulher italiana. E corações marcados por solidão antiga houve que, na surpresa de um encontro, viram surgir para a vida uma esposa, uma irmã, uma filha, e até mesmo uma mãe". Por sua vez, eram os "brasiliani" os mais alegres, afetuosos e bondosos soldados estrangeiros - seriam mesmo estrangeiros? - que os italianos já haviam conhecido; crescia o número de famílias que tinha uma gentileza para contar - os brasileiros eram, via de regra, carinhosamente recebidos no seio das famílias -um "bambino" que recebera um "regalo"; uma bela "signorina" que ouvira o mais terno dos madrigais numa língua que não entendia muito bem, mas que lhe soara aos ouvidos como a mais linda canção de amor; um "paisano" que recebera uma dádiva maravilhosa naqueles dias: um maço de cigarros. Sim, os "brasiliani" conquistaram logo um dos maiores aliados com que contariam daí por diante, durante toda a guerra: o povo italiano. Por seu lado, a rádio alemã, em irradiações especiais, procurava ridicularizá-los, chamando-os mestiços bisonhos, e ameaçando-os com a morte certa longe da família, se persistissem em lutar contra os invencíveis alemães. Em pouco tempo, porém, receberiam a resposta devida, como veremos, pois os brasileiros, aqueles meninos sorridentes, que mais pareciam colegiais em férias, não foram à Itália para se fazerem admirar pelos italianos e... italianas. A "Cobra ia fumar..." "Um Batalhão
da FEB no Monte Castelo" |
Os oficiais da FEB deixam o navio
Arquivo Diana Oliveira
Maciel
NÁPOLES E A
REALIDADE "Recordando
os Bravos" |
Ao embarcar para além-mar a 22 de setembro de 1944 o Regimento Sampaio, era o seguinte o corpo de Oficiais que, salvo repetidos reajustamentos, foram os arquitetos e fautores da grande transformação operada para a guerra: COMANDO E ESTADO MAIOR Comandante:
Coronel Aguinaldo Caiado de Castro ÓRGÃOS REGIMENTAIS COMPANHIA DE
COMANDO (3) COMPANHIA
DE OBUZES COMPANHIA
DE CANHÕES ANTI-CARRO COMPANHIA
DE SERVIÇOS: (Órgão de execução do Oficial de
Suprimentos) DESTACAMENTO DE SAÚDE - (Órgão diretor do Serviço de Saúde
Regimental) I BATALHÃO (6) Comandante do Batalhão: Major Olívio Gondin de
Uzêda 1ª COMPANHIA DE
FUZILEIROS 2ª COMPANHIA DE
FUZILEIROS 3ª COMPANHIA DE
FUZILEIROS COMPANHIA DE
PETRECHOS PESADOS II BATALHÃO Cmt. do
Batalhão: Major Syzeno Sarmento 4ª
COMPANHIA DE FUZILEIROS 5ª COMPANHIA DE
FUZILEIROS 6ª
COMPANHIA DE FUZILEIROS COMPANHIA DE PETRECHOS
PESADOS III BATALHÃO Cmt. do Batalhão:
Major Franklim Rodrigues de Morais Oficial de Motores e Transporte: 1º Ten. Alberto Firmo de Almeida Oficial de Transmissões: 1º Ten. Newton Hiller Rangel Oficial de Informações: 1º Ten. Arthur Guaraná de Barros Oficial Anti-Carro: 1º Ten. José Alfredo Barros da Silva Reis Oficial de Remuniciamento e Minas: 1º Ten. Hunaldo Teixeira Gomes Capelão: 1º Ten. Padre Urbano Rausch Médicos, chefe e adjunto, citados. (Dest. Saúde). Alterações: Sub-Cmt. do Batalhão: Cap. Luís Gonzaga de Oliveira Leira (9 de dz) e Cap. Eduardo D'Avila Melo (27 de jl) Cmt. da Cia. de Cmdo.: Cap. José Bienachewski (28 de out); 2º ten. Tadeu Cerki (promovido a 2º Ten. em campanha, vindo de Sgt). 7ª
COMPANHIA DE FUZILEIROS 8ª
COMPANHIA DE FUZILEIROS 9ª
COMPANHIA DE FUZILEIROS COMPANHIA DE
PETRECHOS PESADOS Do Terço Velho ao
Sampaio da FEB |
A simples travessia do Atlântico se fizera para o REGIMENTO SAMPAIO seu primeiro florão: fez parte da primeira força terrestre latino americana a cruzar os mares para combater numa guerra européia. Alertados pelos torpedeamentos da costa brasileira, a viagem se fez em comboio, escoltado até Gibraltar por belonaves de guerra americanas e brasileiras. Cruzado festivamente o Equador, dias depois o comboio defrontava as calmarias da costa da África, evocando aquelas 13 rústicas naus de Pedro Álvares Cabral que 450 anos antes, pelo aviso de Vasco da Gama delas se deveria afastar. Viveu "in loco" o REGIMENTO, a influência daquelas paragens no descobrimento do Brasil... A passagem por Gibraltar se fez; à noite, não sem que se pudesse vislumbrar, muito ao longe, o Farol de Trafalgar, diante do qual o Grande Nelson destruiu a esquadra francesa, e com ela as esperanças de Napoleão de invasão da Inglaterra... No dia seguinte, o comboio passou ao largo das Baleares, a ilha dos amores de Chopin e George Sand... NÁPOLES Finalmente, sempre no rumo inverso dos antigos fenícios, a 6 de outubro o REGIMENTO SAMPAIO, com o 2º Escalão da FEB, atingia o seu destino, o porto de Nápoles, recentemente libertado. Era a primeira visão de guerra do Regimento, por entre ruínas e devastações de um "porto outrora magnífico e foi também o seu primeiro contacto com o que é a miséria de um povo vencido. E nossos pensamentos se volveram ao Brasil, diante de tão gritante e cruel contraste, numa incontida homenagem de fé e de confiança no seu risonho futuro; e ali mesmo, frente aquele quadro comovedor, vivemos em plena grandeza, a dignidade de nossa missão! Dois dias depois, numa flotilha de L.C.I. que tomara parte nos desembarques do Sul da França, o Regimento se fez rumo a Livorno. Magnífica a visão daqueles 56 "cabritos do mar", em gigantesco comboio, apesar do mau tempo e das guinadas. E muitas foram as apressadas cartas de "lobos do mar" que então se rasgaram... Ao largo de Elba, Napoleão e Waleska nos rememoram o exílio do Grande Corso, os 100 dias e Waterloo! LIVORNO De Livorno, com seus balões de barragem "a Londres", todo o 2º Escalão foi transportado para a Área de S. Rossore, nas vizinhanças de Pisa. Com ele seguiu também o REGIMENTO SAMPAIO, por entre deploráveis destruições, ruínas e miséria. Imenso e de aprazível aspecto, antigo Campo de Caça da Real Casa de Itália, com suas alamedas arborizadas de pinho, álamos e ciprestes bem traçadas, era o local. Instalado com todos os recursos higiênicos e disposto em impecável ordem, a vista do acampamento militar causa à tropa brasileira agradável impressão. PISA Aí permaneceria até 13 de novembro, armando-se, equipando-se e recebendo a dotação do material bélico que lhe competia. A instrução tática de além mar foi intensificada e várias turmas de oficiais e praças estagiaram no front do 6º Regimento de Infantaria, na região de Braga. Da Área de Treinamento de Pisa; passou o REGIMENTO a de Filetole, onde foi submetido a um período de verificação de treinamento, sumário, donde os acontecimentos o levaram, antecipadamente, à entrada em linha de batalha, no Vale do Reno. A chegada, pois, do REGIMENTO SAMPAIO ao Teatro de Operações, já o DESTACAMENTO FEB (1º Escalão) estava engajado a fundo contra o inimigo alemão. E curiosa fora a simbologia da estréia dos brasileiros, nesta luta da civilização contra a barbárie: a Torre de Pisa e a Linha Gótica, dois contrastes em confronto. E à sombra muitas vezes secular da venerável Torre que Galileu imortalizara, guerreiros da livre América, com o romper-lhe o cerco, resgatariam à pátria de Colombo a nobre dívida do descobrimento do audacioso flibusteiro genovês... Do Terço
Velho ao Sampaio da FEB |
O dia 15 de outubro foi passado na expectativa da chegada do general de divisão Eurico Gaspar Dutra, Ministro da Guerra do Brasil, que estava inspecionando as tropas brasileiras, após ter permanecido cinco dias no teatro de operações brasileiro na Itália, onde recebeu a distinção de comandar, durante sua estada, todo o front da Itália, seguindo depois em visita ao ocidente. Seu regresso estava marcado para o dia 15 de outubro; entretanto não conseguiu alcançar a Itália nesse dia, o que aconteceu no seguinte, a despeito da chuva que caía, e às 11 horas saltava S. Excia. do avião, passando em seguida revista à tropa brasileira do 2º escalão. Sua Excelência fez-se acompanhar de general Kroner, adido militar americano no Brasil, dos generais Zenóbio, Cordeiro e Falconière, Coronel Bina Machado, Chefe do Gabinete do Ministro da Guerra, Major Mário Gomes e 1º tenente Antônio João Dutra. Ao terminar a revista Sua Excelência manifestou sua impressão satisfatória, enquanto o general felicitava o Comandante do 11º R. I. pela ótima apresentação da tropa. A noite tive que apagar a vela da barraca mais de uma vez, devido à aviação alemã que estava voando sobre nosso acampamento. No dia seguinte regressava ao Brasil o general Dutra, Ministro da Guerra, acompanhado de sua comitiva, tendo comparecido ao seu embarque numerosos oficiais e civis brasileiros. Com surpresa geral, após uma noite em que o vento soprou enfurecido, o dia amanheceu lindo como uma manhã primaveril, claro e esplendoroso que nos fez esquecer a temperatura que vínhamos suportando. A alegria percorreu o acampamento até as mais escondidas barracas e os soldados foram atingidos por uma onda de contentamento, parecendo-nos uma manhã de maio no nosso incomparável Brasil. "O 11º RI na
2ª Guerra Mundial" |
Um Herói nunca morre!
Simples História de um Homem
Simples
As Origens
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