FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA


Homenagens aos pracinhas
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Quando a silhueta do transatlântico militar despontou no horizonte, o mar da Guanabara já estava coberto por dezenas de embarcações de todos os tipos e tamanhos num espontâneo festival de recepção aos heróis que chegavam. Vapores mercantes de bandeiras amigas, canoas de pobres pescadores e barcos de pescadores ricos, unidades da Marinha de Guerra, lanchas e iates de luxo reuniram-se solidários, para acompanhar o “General Meigs” que nos devolvia 5 300 brasileiros da Força Expedicionária, num regresso triunfal. Camaiore, Monte Prano, Monte Castelo, Castelnuovo e outros baluartes, já haviam entrado para o rol das lembranças, embora recentes e frescas. Já eram versos de um poema épico escrito com o sangue e a coragem de muitos bravos na acidentada topografia da velha Itália, e o anúncio da paz ecoara pelo mundo como o prelúdio de uma nova era para os homens. 

Florença, Roma, Nápoles, Montecatini, Lucca representavam recordações amáveis de amores e amizades que ficaram, de romances com italianinhas meigas e marcadas pelo sofrimento da guerra, nascidos e alimentados entre um e outro bombardeio, no intervalo dos ataques, nos curtos períodos de uma licença concedida pelo comandante. Não provariam mais o saboroso vinho toscano ou os vesuvianos copos de Lagrima Christi. Nem “biancos” nem “neros”. Cantariam apenas a “Lili  Marlene”, recolhida pelos ingleses em El-Alemain e Tobruk para se transformar na coqueluche dos combatentes de todos os “fronts”, porque era de poucos compassos, em andamento “moderatto”, melancólico retrato evocativo de uma pequena que namorava com seu querido soldado sob a luz de um lampião, porque “Lili Marlene” é uma entidade universal, de mulher que gosta de farda e que deixa uma suave recordação por onde quer que passa, na Alemanha, na Inglaterra, nos Estados Unidos. É datilógrafa, arrumadeira, caixa de bazar, cozinheira, ou ainda, não tem profissão. É a mulher moça que tem na alma alguma coisa que bate como caixa surda quando ouve corneta e sabe dizer palavras encantadoras à luz dos candeeiros ou mesmo no escuro das ruas mais ou menos desertas.

Devagar o navio dos combatentes caminhava sobre o Atlântico brasileiro. Da lancha americana que conduziu os jornalistas - os primeiros a conversar com os pracinhas - o repórter fotógrafo de O Globo, Indaiassu Leite, conta-me que reconheceu o cabo Darci, maroto morador do Grajaú. - Seu Leite, como vão as morenas? - Lá no bairro, esperando por você - foi a resposta. E estavam mesmo, eram as Lilis Marlenes nacionais. A imprensa foi recebida com entusiasmo pelos componentes do 1º Escalão, e a esbelta belonave navegava mansamente para o porto colorido, entre velas, remos e mastros formando um bloco que o vento ondulava numa procissão marítima de original encanto. Na Avenida Rio Branco, fora construído um “Arco do Triunfo” e um cronista da época escreveu que, ao passar por ele, estariam os nossos bravos transpondo, simbolicamente, os umbrais da História “em cujo seio só se abrigam os Deuses, os santos e os heróis”. As armas da FEB, que libertaram um povo e vieram cobertas de sangue e de glória “são as armas do nosso Exército e do nosso povo, as armas do Brasil livre e democrático”.

Às 8 horas da manhã, o sol dando brilho às águas, o “General Meigs” cruzou a barra do Rio de Janeiro, saudado pelos canhões das fortalezas, pelos apitos dos navios em roda, pelas sirenes das fábricas, pelos repicar dos sinos dos templos e pelas evoluções dos barulhentos “Thunderbolts” P-47 do Coronel Nero Moura, enquanto uma multidão emocionada se unia no mesmo entusiasmo para acolher os jovens guerreiros. Desde muito cedo começou o povo a afluir aos pontos principais, concentrando-se de preferência na Avenida Rio Branco, na Praça Mauá e no Cais do Porto, para assistir a um dos mais grandiosos espetáculos já desenrolados na cidade. Em cada janela não havia lugar para mais ninguém. Todos seguiam com os olhos ansiosos a marcha do barco-transporte, e as amuradas de Botafogo, do Flamengo até a Praia das Virtudes estavam repletas de gente. Pouco antes das 9 horas o “General Meigs” atracou ao Armazém Nº 10, encerrando uma serena viagem de doze dias de Nápoles ao Rio de Janeiro. Ali estavam o Presidente da República e seus Ministros, além dos Generais Clark, Crittenberger e Ord, dos Estados Unidos, convidados pelo governo para assistir à chegada dos Pracinhas. Ninguém mais permanecia no local, à exceção dos jornalistas e dos encarregados do policiamento. O Sr. Getúlio Vargas não podia esconder o seu contentamento. Cá fora, era imensa a expectativa popular, repetiam-se os vivas e os gritos, confundindo-se as alegrias com as lágrimas. Vargas, acompanhado do Comandante do V Exército (Clark) e do Comandante do 4º Corpo de Exército (Crittenberger) e seu auxiliar imediato (Ord), subiu a bordo e pronunciou algumas palavras, mas em voz tão baixa que quase nada se ouviu. Em seguida, cumprimentou os oficiais e o comandante do “General Meigs”. Foi nessa ocasião que, solicitado pelo repórter de O Globo, Pedro Luis de Amaral Teixeira, a fazer uma declaração sobre o desembarque das tropas, o General Clark declarou: - Antecipo para o seu jornal o que vou dizer em discurso público: O Brasil nada reivindicou nesta guerra, a não ser o pequenino pedaço de terra onde, na Itália, repousam os seus heróis.

Às 11 horas daquela inesquecível manhã de 18 de julho de 1945 começou o desembarque, e a Legião Brasileira de Assistência ofereceu um lanche a cada homem. Os que não foram, mas que aqui permaneceram vigilantes, trabalhando na retaguarda interna contra as manobras da quinta-coluna nazi-integralista, compareceram à festa da FEB, e garbosos apresentaram-se à Escola Naval, a de Aeronáutica e a Academia Militar, o Colégio Militar, o Corpo de Fuzileiros Navais e batalhões da 1ª Região Militar. A Prefeitura do Rio, além de sua participação direta nas homenagens, ornamentou todo o trajeto do desfile com bandeiras do Brasil, escudos e distintivos históricos da FEB e do Grupo de Caça. O DNC distribuiu café aos Pracinhas. A comissão Nacional do Movimento de Unificação dos Trabalhadores reuniu o proletariado para saudar os combatentes. Firmas comerciais fabricaram serpentinas para o povo, bandeirinhas brasileiras para serem colocadas nos pára-brisas de ônibus e automóveis e nas vitrinas. O Presidente da República assinou decreto considerando o dia Feriado Nacional. As cenas eram empolgantes, entravam para a história, a metrópole estava em apoteose. Dona Darci Vargas saudou o General Mascarenhas de Moraes, dizendo da sua honra em apresentar-lhe boas vindas, no seu nome e no da Legião Brasileira de Assistência. Mais tarde, o Comandante chefe da FEB seria homenageado no Palácio da Guerra, e o jornalista presente à cerimônia afirma que o quadro foi tocante: - Quando o General entrou no Salão Nobre, as palmas estrugiram com veemência e o herói sorriu contrafeito como que ofendido na sua modéstia. Forçou o passo até onde se encontrava o General Eurico Dutra, que cumprimentou afetuosamente. Todos os demais colegas queriam abraçá-lo, para dizer-lhe que todos haviam apreciado a sua atitude impávida conduzindo os denodados soldados expedicionários do Brasil na luta pela liberdade do mundo. Crescia o entusiasmo da massa, um agudo estado de excitação perturbava as gentes, eletrizava a capital da República, dominada inteiramente por uma descarga nervosa interna, em que misturavam o riso e o choro. “Será pouco tudo o que os senhores puderem fazer por eles” - disse ainda o General Clark ao General Milton Freitas de Almeida. Os Pracinhas eram louvados em versos e em prosa. No rádio, Ataulfo Alves e suas pastoras, cantavam : “...E por isso a Nação vos recebe pondo flores no vosso fuzil. Salve, bravos soldados da FEB. Salve heróis, filhos bons do Brasil.”

Quando Zenóbio apareceu, trajando o seu uniforme de combate, sua velha mãe desmaiou. Um sargento, diante da descomunal demonstração de carinho, gritou que tamanha recepção compensava o terrível e duro inverno passado na Itália. Somente às 14 horas iniciou-se o desfile, ou melhor: a marcha lenta em coluna por um, porque o povo, descontrolado, entusiasmado, rompeu os cordões de isolamento e impediu a parada em coluna por quatro, como era o regulamento. A princípio, a tropa mantinha-se séria, compenetrada, de acordo com os hábitos militares. Mas logo compreendeu que aquela atitude marcial e seca, magoava o povo, e então se misturou com ele. Casas comerciais e grandes edifícios estavam enfeitados com bandeirolas, dísticos, cartazes. “O povo chamava-nos de heróis” - diz o Coronel Newton de Andrade Melo. No meio daqueles milhares de homens, apareceu o cabo Marcílio Dias - já conhecido do público pelas suas façanhas na Itália - ornamentado de condecorações, que traduziam a sua história gloriosa. Destacou-se entre os outros para receber maiores aplausos. Mas todos eram acarinhados, abraçados, beijados pelas moças. Longos e comoventes eram os encontros de noivas com noivos, pais com filhos, irmãos com irmãos, amigos com amigos. O primeiro quadro verdadeiramente emocionante foi o da chegada dos feridos da FEB, que foram trazidos do Hospital Central do Exército (HCE) para presenciar a passagem de seus companheiros. Todos eles com cicatrizes da guerra foram aclamados pelas autoridades e pelo povo. Na Avenida Presidente Vargas, um popular conduzia enorme papagaio com as cores verde e amarela, que elevou aos ares como sua homenagem aos expedicionários. Os acordes da “Canção do Soldado” serviam de “back-ground” ao espetáculo e os combatentes cumpriam o seu roteiro através da Avenida Cinelândia, Avenida 13 de maio, Rua Uruguaiana, Avenida Presidente Vargas, de onde cada unidade tomou rumo dos seus quartéis de origem. Um praça do 6º RI - o Regimento de Nelson de Melo e Segadas Viana, do poeta Jamil Amiden (que tem o corpo estraçalhado pelas metralhadoras alemãs) e do soldado que encontrei faminto no subúrbio da Casa Verde em São Paulo. Um praça desse regimento, espantado com tanta solidariedade, exclamou: - “Nossa Senhora! Até parece que também libertamos o Rio!” E explicou: - Na Itália era assim, quando tomávamos uma cidade, o povo vinha todo para as ruas nos beijar e abraçar...

Diversos pracinhas tinham inscritos nos capacetes nomes femininos. Uma senhora, muito curiosa, muito indiscreta, quis saber o que significava  “Lili” e o dono do capacete, pilheriando, decepcionou-a: - É o nome de uma cadela que deixei na Itália. Mas a mulher era insistente e perguntou a outro que era “Carmen”. Ouviu a mesma resposta: - É uma cadelinha que deixei lá em Roma... Adiante alguém gritou: - Jorginho! Jorginho! Era a noiva de um expedicionário que, reconhecendo-o, atirou-se loucamente de um palanque, rasgando as vestes, mas conseguindo vencer o povo e cair nos braços de seu amado. Indiferente a multidão, apertou-o entre os braços, beijou-o sofregamente e só o largou quando o Batalhão prosseguiu a marcha. Em plena Avenida Rio Branco, um velho atravessou a massa e jogou-se perigosamente sobre um jeep, que no volante estava seu filho. Seu salto poderia ter significado a morte, mas o ancião foi feliz e abraçou o jovem. Pouco depois aconteceu o contrário, um soldado que vinha ao lado do companheiro que dirigia a pequena viatura militar, sorria. Mas de repente, seus olhos se fixaram num ponto qualquer no meio da multidão e o combatente, como que alucinado, jogou-se do veículo sobre o povo, alcançando uma velhinha que era sua mãe. Beijaram-se em silêncio e em silêncio se separaram. Os vendedores de frutas fizeram duplo negócio, acabaram as peras e as maças, venderam os caixotes a 12 cruzeiros para aqueles que desejavam colocar-se melhor para ver e aplaudir os soldados. À noite, os oficiais e praças tiveram licença para assistir e participar dos festejos em sua homenagem e retornar a seus lares. Cordões carnavalescos formaram-se nas ruas e o povo dançou. Era o dia da FEB, que a população amava, que a população estimava.

José Leal  - Jornal "O Globo"
Rio de Janeiro - 18 de julho de 1945

 


Arco do Triunfo - Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro
Foto escaneada do livro "E foi assim que a cobra fumou..." - Elza Cansanção

A DIÁSPORA DA FEB, O ABANDONO DOS PRACINHAS

A apressada desmobilização da FEB foi matriz geradora de uma série de problemas. Na opinião do Major João Felipe Sampaio Barbosa, em estudo sobre o assunto, seus reflexos se fizeram sentir na expressão do poder nacional, e particularmente nos campos político, psicossocial e militar. No campo econômico as conseqüências foram poucas ou nenhuma. A economia feita com a manutenção da tropa, argumento usado tanto para recusar o uso da FEB como tropa de ocupação em território estrangeiro, como para justificar sua rápida desmobilização, não se fez sentir de maneira apreciável. A despesa foi eliminada do orçamento, mas em contrapartida nunca se quantificou o que de benefícios haveria nos campos estratégico e social, se a política adotada fosse outra. O benefício que se esperava com a integração da força disponível, em conseqüência do licenciamento da tropa, não ocorreu. A desmobilização imediata não permitiu um planejamento adequado para tirar melhor proveito da nova força de trabalho que retomava ao mercado. Pelo contrário, a dispensa, como foi feita, veio criar problemas de toda ordem, sobretudo psíquicos, o que inutilizou muitos dos componentes desses contingentes, que passaram à condição de inadaptados à vida civil, transformando aqueles que seriam elementos de produção em ônus para a sociedade. Toda a tropa que se desmobiliza após uma guerra tem dois problemas fundamentais: a readaptação e o amparo psicossocial e material. Nada disso foi feito a tempo quando da desmobilização da FEB. O povo brasileiro não foi preparado adequadamente; o soldado não foi esclarecido de como deveria proceder para se readaptar ao dia-a-dia e o povo não foi informado como deveria recebê-lo. Recepção triunfal, como ocorreu na chegada da tropa, não significa que exista um preparo psicológico da coletividade para receber em seu meio homens possivelmente portadores de neuroses ou de síndromes que evoluíram para uma inadaptação à vida civil. Festa é uma manifestação lúdica. Saber receber um ex-combatente de forma a facilitar sua reintegração é uma questão de conscientização. Isso não houve, não por culpa do soldado ou do povo, mas por falta de planejamento, por falta de uma política realista para enfrentar esse difícil e delicado problema. Imediatamente após o desembarque, o soldado era licenciado. Oferecia-se todas as facilidades para que o desligamento fosse rápido e sumário, sem maiores entraves administrativos. O ex-combatente recebia seu certificado de serviço militar impresso na Itália. Não deixa de ser um aspecto curioso: em meio a tanta falta de planejamento, esse documento indispensável para que se efetuasse a desmobilização foi confeccionado no local que, nas vésperas, havia sido palco de batalhas, e os homens que iam receber esse certificado ainda ocupavam militarmente o território onde o certificado fora impresso. Os oficiais, militares e profissionais, desembarcaram após breve licença, com ordens para irem servir em pontos mais diversos. Todas essas transferências tiveram uma constante: o curto prazo para seu cumprimento. O Coronel Da Camino, um oficial superior que comandou o II Grupo de Artilharia em toda a campanha da Itália, ao regressar recebeu ordens para se apresentar na guarnição de Santiago, no Rio Grande do Sul, seu novo posto, dentro do prazo de 10 dias. Esse exemplo serve para demonstrar que a ordem de dispersão da FEB atingia indiscriminadamente a todos, não importando o posto. Essa diáspora teve seu lado positivo: os oficiais levaram, para onde iam servir, o espírito da FEB. Como eram em menor número no corpo de oficiais do Exército, passaram a sofrer os problemas de aceitação, fenômeno comum a qualquer tipo de minoria. Houve atritos, decepções e mesmo frustrações, e muitos oficiais requereram transferência para a reserva, cortando suas carreiras. As incompreensões provocaram na tropa divergências sobre os aspectos da disciplina militar. Mas o tempo começou a agir, e aos poucos passou a haver melhor aceitação das idéias preconizadas pelos oficiais que participaram da FEB. Assim, modificou-se a disciplina que deixou de ser a imposição de uma disciplina drástica para dar lugar à compreensão e ao entendimento, sem que houvesse quebra da hierarquia e do respeito ao superior. Por outro lado, costumes tradicionais no Exército brasileiro permaneceram convivendo com a nova mentalidade que surgiu. Esses conceitos, princípios e idéias amalgamaram-se para resultar no Exército de hoje: uma corporação diversa da existente no começo da II Guerra Mundial. Apesar desse fenômeno, os valores humanos inerentes aos oficiais que fizeram a campanha da Itália acabaram se fazendo valer, mas no campo do aprendizado e do treinamento da tropa muito foi perdido. Após a II Guerra Mundial, o Exército começou sua reestruturação tendo como base as Grandes Unidades. Com a desmobilização repentina da FEB, desmobilizou-se também a única Grande Unidade que tinha experiência de combate - a 1ª DIE, organizada pelo Exército com imenso sacrifício -, dispersando-se seus elementos. Essa diáspora atingiu mais fundo os "pracinhas", soldados e sargentos convocados ou voluntários, todos os que não pertenciam à carreira militar. Excluídos do Exército, por força da desmobilização, tiveram assim cortados todos os vínculos com o Exército. Para esses a situação tornou-se muito mais dura. Com algum dinheiro no bolso, sem nenhuma orientação, o ex-combatente ia ao encontro da família. No entanto, como muitos que foram desmobilizados no Rio eram oriundos de outros Estados, não regressaram de pronto aos lugares de origem, saindo em busca de novas aventuras. Esgotando os poucos recursos que economizaram, tiveram de enfrentar a realidade do cotidiano. A ruptura foi brusca. Esses homens passaram longo tempo no Exército, que os alimentava, vestia e cuidava da saúde, tendo somente como dever e preocupação o cumprimento da missão recebida. Passaram de um ambiente de ordem hierárquica para outra vida completamente diferente, e logo constataram que arranjar um emprego não era coisa fácil. Retomar ao emprego antigo, em inúmeros casos, também era impossível: o lugar estava preenchido. A falta de esclarecimento fez com que muitos empregadores recusassem emprego a ex-combatentes. Existia o preconceito de que todos eram portadores de neurose de guerra e, portanto, incapazes de realizar, de forma útil, as tarefas inerentes ao emprego desejado. Passados mais de 40 anos, essa situação tem hoje aspectos tão estranhos que até custa a crer que tenha havido tal rejeição. Mas ocorreu com uma freqüência bem acima de qualquer estimativa. No caso dos cabos e sargentos especializados o procedimento foi idêntico. Não houve nenhum esforço para reter esses homens, cujos conhecimentos adquiridos em campanha, se úteis ao Exército, pouca aplicação tinham na vida civil. Com esse procedimento, a grande oportunidade de utilizar a FEB como núcleo de treinamento do Exército brasileiro foi total e irrecuperavelmente perdida. O alarido que ocorreu por ocasião do regresso acabou se tomando um eco distante. De heróis festejados, passaram a ser homens comuns, tendo que concorrer com os demais, em pé de igualdade. Os mais aptos e fortes prosseguiram, enquanto os mais fracos e inadaptados, sem receberem qualquer ajuda, não conseguiram superar os obstáculos. Muitos dos portadores de neurose ou de qualquer outra forma de inadaptação à vida civil sucumbiram antes de receberem a ajuda de que tanto necessitavam. Em 1950 houve uma manifestação de ex-combatentes, em forma de parada: Desfile do Silêncio, foi o título. Cerca de dois mil ex-combatentes desfilaram da sede da Associação de Ex-Combatentes até a Câmara dos Vereadores. Desse desfile fizeram parte mutilados, doentes e muitos carentes de recursos. A parada comoveu a opinião pública, mas conseguiu pouco resultado prático, pois o ato, que devia ser um brado de protesto, transformou-se também numa manifestação de acentuada conotação político-partidária. A situação servia perfeitamente aos políticos demagogos para arrecadarem dividendos, procurando estender e ampliar os benefícios realmente devidos aos ex-combatentes a outros, de forma às vezes indiscriminada. Em seu trabalho sobre o problema de desmobilização da FEB, o Major Sampaio Barbosa fez a denúncia: "As discussões em tomo da reivindicação dos expedicionários colocaram em risco o equilíbrio disciplinar do Exército", tudo fruto do afã dos políticos e parlamentares, desejosos de aproveitarem o problema, complexo e doloroso, para tirar resultados políticos a seu favor. Como conseqüência, resultou uma legislação caótica, excessiva em alguns pontos, escassa ou inexistente em outros e, sobretudo, pouco prática. O jornal O Globo, no mês de setembro de 1957, publicou uma série de reportagens de autoria do jornalista José Leal, com farto material fotográfico feito pelo fotógrafo José Peter. Está relatada com precisão e abundância de detalhes uma série de casos dolorosos, conseqüência dessa diáspora da FEB. Expurgando algum sensacionalismo, natural nesse tipo de reportagem, encontram-se perfeitamente registrados os casos de neurose, de inadaptação à vida civil normal e do sofrimento de alguns "pracinhas" que, tendo servido à Pátria, viviam completamente à margem da sociedade. Essa série -"O Outro Lado da Glória" - dá bem a medida do problema da época, e serve como registro de eterna incúria e despreparo com que são tratados os problemas sociais do Brasil. Ninguém retratou melhor essa situação, de forma sóbria, mas candente, que o General Raul da Cruz Lima Júnior, que fez a guerra como tenente, em seu livro Quebra Canela: "As neuroses de guerra tiveram as manifestações mais extravagantes, em grau maior ou menor, naqueles organismos que sofreram, diretamente, os horrores da guerra. Com o passar do tempo, todavia, as marcas foram desaparecendo e a vida se normalizando. Uma pequena parcela foi para os hospitais psiquiátricos. Outra, após uma temporada em hospitais, foi devolvida à vida comum, porém em estado precário. Não obstante as medidas tomadas, a sociedade brasileira não teve condições de absorver estes homens, e não é surpresa encontrar ainda um pracinha perambulando pelas ruas, como o filho esquecido pela Pátria." O quadro político vigente na época em que a FEB retomou foi o fator principal e talvez único que determinou essa desastrada decisão de desmobilização. Concluiu o Major Sampaio em seu trabalho: "A dissolução da FEB foi um ato de caráter essencialmente político, cujos efeitos foram desastrosos para o aprimoramento do Exército." O Exército é uma corporação baseada na honra, no cumprimento do dever e no respeito às tradições. Os problemas trazidos com essa política de desmobilização da FEB foram superados; o vendaval de origem política que determinou essa medida, cessou de existir e a corporação, através do seu corpo de oficiais, febianos ou não, soube aperfeiçoar a força terrestre. O espírito da FEB inegavelmente muito contribuiu. Esses episódios pertencem ao passado, mas merecem um estudo profundo, que extrapola os limites deste trabalho. Há lições a serem tiradas, é tão importante o planejamento de uma desmobilização quanto o da mobilização. Um não pode dispensar o outro, para evitar que a desmobilização, feita sem preparo, desperdice os frutos conseguidos com a mobilização.

"A FEB por um Soldado"
Joaquim Xavier da Silveira


A multidão saudava os pracinhas brasileiros
Foto escaneada do livro "100 Vezes responde a FEB"" 
Marechal José Machado Lopes

No dia 6 de julho partiu o 1º Escalão de Embarque, de Nápoles, a bordo do transporte norte-americano General Meigs, constituído pelos mesmos elementos que primeiro chegaram à Itália. Dele faziam parte a 1ª Cia de Engenharia (Cap. Moller) e alguns componentes da Companhia de Comando e Serviços. Recebeu apoteótica recepção no Rio de Janeiro. No dia 25 do mesmo mês, embarcou o 9º Batalhão de Engenharia com o grosso de sua tropa, a bordo do navio brasileiro Pedro II, com escalas em Dacar, Recife e Rio de Janeiro. A travessia foi calma, sem os contratempos dos 'postos de combate', sem black-out e com comida brasileira. O pessoal passava o tempo como podia: apreciando a natureza, jogando cartas, ouvindo música e fazendo os preparativos para a chegada. O navio escalou em Dacar e, a 9 de agosto, aportou em Recife. Realizou-se um desfile da tropa, muito aplaudido pelo público. A bandeira alemã capturada fazia parte do cortejo, sendo transportada por seis soldados que a seguravam horizontalmente. Quando o povo avistou-a, avançou sobre ela, cuspindo e tentando rasgá-la. Foi necessário protegê-la, para não ser destruída. Finalmente, a 13 de agosto, revimos o Pão-de-Açúcar, e penetramos na Baía de Guanabara, de onde partíramos cheios de dúvidas e incertezas, e para onde agora voltávamos repletos de saudades, mas felizes por termos cumprido o nosso dever. A alegria entre a tropa era indizível. Todos esperavam rever, sem demora, os pais, as esposas, as noivas ou namoradas, as pessoas queridas. Qual não foi nossa decepção, ao atracarmos, em verificar, que toda a área estava isolada e policiada tal como quando partíramos, em setembro do ano passado. O trem da Central do Brasil nos esperava, e nos conduziu para Realengo, antigo quartel da Escola Militar, de onde saíramos Aspirantes nos idos de 1937. Lá estavam as famílias à nossa espera, suavizando a decepção anterior. Tudo já estava esquecido e tudo era alegria, beijos e abraços. Guardamos nossas bagagens no interior de uma das antigas salas de aula e tivemos folga por alguns dias. Gozamos, então, do aconchego do lar, dos parentes, dos amigos, com quem apagaríamos as imagens da guerra que ainda nos assaltavam em sonhos agitados. Parecia um pesadelo o que se passara. Tanto sofrimento, tanta canseira, tanto sobressalto, para acabar com uma ditadura que, pela ambição de conquista, havia incendiado todos os quadrantes da terra, com maior ou menor intensidade. Foi necessário esmagá-la, pelo poder das armas, para não mais se repetir. Milhares de vitimas jaziam nos túmulos ou ainda sofriam nos hospitais; o mundo estava cheio de mutilados de guerra e neuróticos que, durante toda a vida, pagariam um pesado ônus, por um pecado que não tinham cometido. Paradoxalmente, encontramos no Brasil uma ditadura, instaurada com o chamado Estado-Novo, desde 10 de novembro de 1937 e que ainda perdurava sob a chefia do Dr. Getúlio Vargas. A FEB lhe criara uma situação incômoda: como continuar num regime político que fora inspirado nas ditaduras que acabavam de ser destruídas pela guerra? O povo, ao receber, apoteoticamente, os outros escalões, não estava manifestando o seu desejo pela volta à Democracia? Os combatentes, recém-chegados, não eram uma pedra no sapato do regime vigente? Tratou-se de desmobilizá-los, o mais rápido possível, e distribuir seus oficiais e sargentos de carreira por todo o país, de forma a fazer desaparecer sua presença incômoda. E assim foi feito. Voltamos algumas vezes ao quartel de Realengo, tomando as últimas providências para a desmobilização do 9º BE, velho de guerra que, em tão pouco tempo, havia gravado, com letras de fogo e sangue, uma odisséia nas montanhas da Itália. Pela última vez reunimos a 2ª Companhia, cujo efetivo, em sua grande maioria, retornaria às lides da vida civil. Não estavam presentes os heróis que deixáramos sepultados no cemitério de Pistóia; os feridos que ainda permaneciam em tratamento nos hospitais militares; éramos os restantes, dando graças a Deus por nos ter preservado de maiores sofrimentos. Ali estavam os antigos pracinhas de Aquidauana, Três Rios e Rio do Janeiro, que haviam partido, bisonhos e despreparados para o além-mar. Agora, veteranos e experimentados, combatentes de tantas batalhas, ganhas ou perdidas, com o mesmo olhar de simplicidade e modéstia. Despedimo-nos daqueles que tinham escrito, com espontaneidade e coragem, uma das mais belas páginas da história do Brasil.

Gen. Raul da Cruz Lima Júnior
"Quebra Canela"


O retorno dos pracinhas brasileiros
Foto escaneada do livro "100 Vezes responde a FEB" 
Marechal José Machado Lopes

COMO NO BRASIL TUDO VIRA PIADA,
INJUSTIÇA E EXPLORAÇÃO DE SEU POVO...

No desenvolver destas páginas sobre a FEB expus por várias vezes o meu pensamento sobre a forma como foram tratados os pracinhas brasileiros. Tratamento dispensado desde sua convocação, até a sua morte, para a maioria, e sua velhice, para uns poucos que ainda sobrevivem... Adquiri recentemente o livro "E FOI ASSIM QUE A COBRA FUMOU" de Elza Cansanção. Em suas páginas finais, com o direito que possui quem participou desta Guerra, com o melhor de suas energias, dedicando a Pátria um período irreversível de sua juventude e uma parcela de seus sonhos, ela traduz o pensamento de todos aqueles que de alguma forma fizeram parte desta história. Reproduzo o texto na íntegra. Para que fique o registro dos injustiçados neste enorme País do Carnaval...

Maria Auxiliadora Mota Gadelha Vieira


Elza Cansanção
Foto escaneada do seu livro "E foi assim que a cobra fumou..." 

OITO DE MAIO - CONSAGRAÇÃO DA VITÓRIA

Embora a guerra tenha terminado no dia 2 de maio, o Armistício só foi assinado no dia 8. Esse dia tem para o mundo, e principalmente para nós, um significado muito especial. Foi o dia em que aquela tropa, que havia saído do Brasil desacreditada e que, com o correr da campanha, foi-se agigantando, cobriu-se de glória. Retomaria à Pátria com os louros da vitória! Mesmo antes de chegarem de volta os pracinhas, essa vitória e suas conseqüências começaram a assustar os dirigentes. Vivíamos em um regime ditatorial, e a FEB estava justamente combatendo o mesmo tipo de governo. O retorno dessa tropa altamente treinada e completamente imbuída do espírito de liberdade era uma ameaça para o governo. A fim de tentar evitar que eclodisse uma outra guerra, dessa vez interna, sendo a grande parte do pessoal integrante da FEB da reserva, baixaram as autoridades um decreto considerando a convocação somente até o dia 8 de maio. Assim sendo, a FEB FOI DESMOBILIZADA AINDA NA ITÁLIA. Quem morreu no dia 9, ou foi ferido em escaramuças de patrulhas, ou mesmo ferido ou morto por minas, não foi considerado como tendo realizado ato de guerra. Só mesmo no Brasil poderiam acontecer casos como esse. E FOI ASSIM... que nossos pracinhas voltaram vitoriosos e com conhecimentos muito diferentes e muito avançados, tanto na parte militar como na visão global da situação interna e mundial. Os reflexos dessa vitória na vida do País foram enormes. O povo passou a acreditar nele mesmo, a sentir-se mais confiante em sua capacidade, conscientizou-se de que não era nenhuma "sub-raça", pelo contrário, que era uma raça sui generis. Procurou progredir em todos os setores. Desenvolveu tecnologia própria na indústria, na medicina, na aviação; enfim, a desgraça de uma guerra trouxe o progresso para nossa Pátria. Nosso Exército, que vivia na era da guerra de trincheiras, aprimorou-se, modernizou-se e hoje já exporta material bélico com modelos brasileiros. Só lamentamos que não tivessem sido mais bem aproveitados aqueles homens, altamente treinados, que, por serem oficiais da reserva, foram de imediato desconvocados, e assim perdeu a tropa excelentes instrutores. O pessoal da ativa, ao retomar, foi de imediato espalhado pelos quatro cantos do território, pelo medo de que se agrupasse e, sendo uma tropa altamente treinada e que havia lutado para libertar os povos da Europa do jugo totalitário, se voltasse contra o regime vigente no País. Mas de nada adiantou tal providência. O povo já estava conscientizado de que os regimes ditatoriais não servem, o que vale mesmo é a democracia, e se encarregou de depor a ditadura que aqui imperava.

TERMINA O GRANDE SACRIFÍCIO

E FOI ASSIM... que, com a rendição da 148ª DI, mais a Infantaria e as de II tropas alemãs que lutavam na Itália, não havia como prosseguir lutando. Assinado o armistício, o povo corria às ruas disputando os poucos jornais. Famílias acorriam aos comandos aliados procurando notícias de parentes desaparecidos. Os mais desesperados eram os judeus, pois centenas de milhares deles foram exterminados nos famigerados campos de concentração. Recentemente tivemos, Tenente Jandira Faria de Almeida e eu, ocasião de visitar o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, e comprovar as atrocidades que ali eram cometidas. Para que se tenha uma pequena idéia do que ali era feito, basta dizer que só de cabelos humanos foram exportadas para as fábricas de tecidos da Alemanha 17 toneladas. Esse campo foi tomado de assalto, de forma que nada foi destruído, nem a documentação nem as fotos. Enfim, tudo pode ser comprovado. Os fornos crematórios ainda lá permanecem, e na cela solitária onde foi morto a fome o Padre Colber, hoje canonizado pelo Papa, permanentemente bruxuleiam velas, e o seu retrato está sempre com flores.

DESFILE DA VITÓRIA

E FOI ASSIM... que, com a vitória final, vários desfiles foram organizados. Como não podia deixar de ser, um dos mais bonitos foi o da semidestruída Londres. De todas as tropas que lutaram nessa terrível II Guerra Mundial, havia uma representação e, como tal, não podia faltar a brasileira. No palanque encontravam-se o Rei Jorge e a Rainha Mary à frente. Poucos passos atrás, aquela jovem que era predestinada a reger os destinos da milenar Inglaterra, a Princesa Elizabeth. Nossa representação foi composta de oito pracinhas, oito marinheiros e oito soldados da FAB, comandados por um oficial de cada arma, sendo a bandeira conduzida pelo oficial da Marinha, por ser esta a corporação mais antiga no Brasil.

A VOLTA

Terminada a guerra, teve início a organização para o retorno à casa. No Brasil também o povo se preparava para receber seus heróis. No Rio, em frente à Biblioteca Nacional foi armado um enorme Arco do Triunfo encimado pelo primitivo distintivo da FEB com os seguintes dizeres:

AOS HERÓIS DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA 
A PÁTRIA AGRADECIDA 

A chegada do 1º escalão foi apoteótica. O povo invadiu a pista por onde deveriam desfilar as tropas e passou a arrancar botões, emblemas, medalhas, tudo que pudesse servir de souvenir . Mas... o tempo foi passando e o entusiasmo arrefecendo. O pracinha que, enquanto tinha dinheiro para pagar as rodadas de bebida, contava com um grande auditório para ouvir suas histórias, foi ficando relegado com o escassear do dinheiro da etapa de soldo que aqui ficara depositado e foi se transformando em um "chato" que conta sempre as mesmas coisas. Nossas tropas eram, em sua maioria, constituídas de lavradores que trocaram o cabo da enxada pela coronha do fuzil. Nosso homem que comia jabá com farinha aprendeu a comer corned beef, compotas de frutas e outras iguarias. No afã de desfazer rapidamente a FEB, não se preocuparam em preparar aqueles homens para a desmobilização. Esta é a razão pela qual até hoje, passados mais de 40 anos, ainda encontramos pracinhas desajustados e com suas neuroses exacerbadas pelas injustiças de que ainda são vítimas. Ensinaram-nos com muito afinco a matar, mas não os ensinaram a viver. Vencemos a guerra lá fora, mas perdemos a batalha aqui. Hoje somos considerados loucos, neuróticos ou desajustados. Pessoas que devem ser postas à margem. Enquanto em todos os países do mundo que estiveram em guerra se cultua e respeita a figura dos veteranos, aqui os menosprezam. Até nos transportes coletivos existe um lugar reservado ao veterano de guerra. Aqui, esses veteranos não têm direito a nada, nem ao respeito público. Se pleiteiam algo, quase sempre a resposta é de que "pelo simples fato" de terem estado dando umas "voltinhas" na guerra, querem ter regalias... Pobre pracinha! Este meu relato sobre a II Guerra Mundial não tem a pretensão de ser nenhum compêndio militar nem tampouco um trabalho de literatura. A minha finalidade foi trazer às gerações que nos sucederem a verdadeira história de um punhado de jovens compatriotas, que não se acovardou diante do fantasmagórico "maior soldado do mundo" e o fez se render submisso diante dos pigmeus e simplórios brasileiros. Somos um povo pacífico. Temos por hábito resolver nossas questões internas com revoluções até sem sangue. Temos um ditado que bem define o povo: "O brasileiro dá um boi para não entrar em uma briga, mas dá também uma boiada para dela não sair sem a vitória." Nossas questões são resolvidas por nós mesmos. Jamais permitiremos que quem quer que seja, de direita ou de esquerda, ou mesmo de centro, venha interferir em nossa maneira de viver, em nossa "baguncinha" organizada. Já temos dado sobejas provas de que o povo brasileiro é um povo pacífico, mas não é subserviente, nem covarde. É bom que os que porventura pensarem em se aproximar de nós com segundas intenções se lembrem de que temos "uma boiada muito grande".

NÃO NOS ESQUEÇAMOS DE NOSSOS BRAVOS,
DE NOSSAS GLÓRIAS

Jovens de minha querida Pátria, meditem sobre o que aqui foi relatado sem rebuscos literários, sem termos técnicos, mas com o coração de quem viveu o dia-a-dia junto com aquele punhado de bravos que soube legar-lhes uma Pátria livre e forte. Esses homens eram jovens como vocês e viviam uma vidinha mansa, feliz mesmo, dentro dos parâmetros da época. De um momento para o outro, foram sacudidos por um choque mortal. Viram sua Pátria ser agredida, seus irmãos inocentes serem mortos sem nenhuma razão de ser, nossos pequenos e frágeis navios mercantes serem torpedeados. Esses jovens sofreram além das agruras da guerra a incompreensão de sua geração, e ao retomarem à Pátria, trazendo os galardões de uma VITÓRIA inconteste e grandiosa, foram pelos invejosos de sua coragem relegados ao invés de serem glorificados. Foram execrados pelos asseclas de Hitler, que não se conformavam com a derrota de seu ídolo. Principalmente por esta lhe ter sido imposta em parte pelo mestiço enfermiço pracinha brasileiro. Espero ter respondido, com esta narrativa, a pergunta que sempre me é feita: COMO FOI QUE O BRASIL, ESTANDO TÃO LONGE DA EUROPA, FOI SE METER NAQUELA GUERRA ? Na condição de veterana da II Guerra Mundial, deixo nas mãos dos jovens de hoje a responsabilidade de manterem aquilo que nós, PRACINHAS DA II GUERRA MUNDIAL, fomos buscar na Itália, e com o sacrifício de tantas vidas jovens conseguimos conquistar e trazer para a nossa Pátria: A PAZ, A TRANQÜILIDADE E O PROGRESSO DO BRASIL.

Elza Cansanção
"E FOI ASSIM que a cobra fumou..."

Um Herói nunca morre!

Simples História de um Homem Simples
As Origens
Força Expedicionária Brasileira
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Homenagens aos Heróis
Saudade
A vida felizmente pode continuar... 

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