O Canto da Beralda

Era sexta-feira santa.
Noite a dentro,
Beralda deixava para a sucessora
seu canto pungente.
Verônica era.
Era Verônica pela última vez.

Subia Beralda a alameda
João Rodrigues Ramos.
Mágoas e lágrimas contidas.
Em negro ia.
Um desenho nublado
em noite enevoada.
Antecipava-se à chegada da procissão.
Solitária, Beralda ia
para o seu último solo,
de missão cumprida.
Carregava na bruma, a espuma
de um sonho que, por ser humano,
se desfazia.

Ia Beralda cumprir seu desígnio...
Pela última vez,
plenificou os pulmões.
Cantou soprano - dramática.
Afinou-se...
Foi um lamento exaltado.
As névoas fecharam
os cumes da serra.
As aves noturnas,
mudas, ouviram.
As musas estremeceram
no aconchego dos tempos...

Dóli de Castro Ferreira
Página formatada em 19 jun 2004

 

 

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