MITOLOGIA GREGA
HÉSTIA Os
homens honram-na, oferecem-lhe sacrifícios. Oram para que lhes proteja a
família e o lar. E ela, que nunca teve família nem lar, atende-lhes as
preces. É
impenetrável e só, a tocha eterna das comunidades humanas, o eixo em torno
do qual se organizam os indivíduos. Apolo amou-a, mas nem com toda a sua
luz conseguiu conquistá-la. Posseidon também a amou, mas as ondas do mar
não provocaram, na fria deusa, nenhuma sensação poética, nenhuma
nostalgia, nenhum desejo. Ela fugiu de ambos. Continuou virgem e
inatingível em sua solidão. Em
todas as casas, em todos os Estados, no cerne de todas as instituições,
Héstia, a casta deusa, jamais se corrompeu pela paixão, conferindo às
criaturas o sentimento de segurança e pureza que elas precisavam para
reger suas vidas sôfregas e violentas, feitas de amor e ódio, de dor e
alegria, de procuras e desencontros. A
deusa do lar era irmã de Zeus, Hera, Posseidon, Deméter e Hades e ajudou
Zeus a tornar-se senhor do universo. Adorada antes dos outros deuses em
todas as festas, considerada a mais antiga e preciosa das deusas do
Olimpo, um juramento feito em seu nome era o mais sagrado dos
juramentos. Héstia era uma deusa do fogo, mas do fogo doméstico, o fogo
da lareira que fornece calor e coze os alimentos, que aconchega e
fortalece a unidade familiar. No santuário de Vesta, divindade romana à
qual foi associada, seis vestais protegiam o fogo sagrado, a chama eterna.
Seu culto era simples e despojado de grandes
requintes. O
Colégio das Vestais foi instituido em Roma por Numa Pompílio. Eleitas por
sorteio entre as famílias nobres, as vestais ingressavam no colégio
sacerdotal entre os seis e os dez anos de idade, ali permanecendo trinta
anos. Faziam rigoroso voto de castidade e as que violavam este voto eram
punidas com a morte. Seu cúmplice na quebra dos votos era açoitado no
mercado da cidade, no Foro Boário, até
morrer. Terminados os trinta anos dedicados a deusa, as vestais
podiam casar, mas poucas usavam este direito, preferindo manter-se virgens
e com todo o prestígio que isso lhes proporcionava, podendo até mesmo
perdoar um condenado à morte. Sua principal função era manter aceso o fogo
sagrado.
Parada, fria, Héstia observa o movimento
das ondas do mar. Nada sente: nem amor, nem medo, nem remorso. Toda a sua
vida fora feita de castidade.
Ela fizera o voto de manter-se pura e
solitária. Jamais oferecera de si, o corpo, a alma, o riso ou a compaixão.
Em seu espírito vive um poderoso abismo, sem imagens, cores ou respostas.
Não há nela emoção alguma.
Preservadora da castidade, é a mais velha filha de Cronos e
Réia. Seu pai é o deus do tempo, mas Héstia não aprendeu com ele a insone
cavalgada dos homens, em busca da paixão. Imóvel, no centro do mundo que
lhe rende homenagens, ela não pode participar nem da glória, nem da
miséria.

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