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PIQUETE - CIDADE PAISAGEM |

Cartão postal de 1906 - Vila Vieira do Piquete
No primeiro plano a estação ferroviária e ao fundo o Hotel das Palmeiras.
Imagem escaneada de "Estação Rodrigues Alves - 90 Anos"
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São freqüentes na imprensa as críticas ao nascimento de muitos municípios, ocorridos após a reforma da Constituição. Até costuma-se dizer que conseguem viver com o que recebem de impostos dos governos federal e estadual, já que não têm arrecadação suficiente e nasceram para a criação de empregos para membros das famílias dominantes. É certo que se muitas críticas são procedentes, outras resultam das cidades-mães, para quem as filhas nunca estão em condições de auto-govemo, esquecendo-se de que a dependência não cria o estímulo de governo próprio, com todos os seus problemas e responsabilidades, impedindo o desenvolvimento das filhas. A emancipação da Vila Vieira do Piquete, a 15 de junho de 1891, mostra algumas facetas da questão, como passamos a mostrar.
Se desde 1828 Piquete já aparece nos velhos documentos (1) como bairro rural
de Lorena, a denominação deveria resultar do posto de registro de impostos
para quem subia ou descia a Serra da Mantiqueira. Este Registro Novo, como foi
chamado, para não se confundir com o Registro Velho, no Embaú, provavelmente
estaria situado no fim da Vila Barão de hoje, início da estrada para ltajubá
Velho, e devia ter um piquete de cavalaria para ajudar na fiscalização,
generalizando o nome para as casas ao longo do caminho(2). Seria o primórdio
para a fundação da Vila, que deve ser contada a partir da Provisão
Episcopal de D. Sebastião Pinto do Rego, Bispo de São Paulo, de 20 de
dezembro de 1864 (3), autorizando a construção de uma capelinha, com orago
de São Miguel, pedida por Joaquim Vieira Ferreira e outros moradores. Ou se
preferirem a data de 22 de setembro de 1865, quando, segundo o historiador
Carlos Vieira Soares, foram celebrados os primeiros atos litúrgicos
festejando o padroeiro. Esta ligação da fundação da povoação com a da
capelinha, bem justificada pelo prof. Aroldo Azevedo (4), deve ter resultado
na primeira praça e nas primeiras ruas, junto ao templo. Fica-nos, porém,
uma dúvida: por que tão longe do Registro Novo ou este não estaria no início
da estrada que subia a Serra? O fato é que as construções foram aparecendo
e ficamos admirados com o número das casas de comércio já existentes em
1875, segundo o "Almanak da Comarca de Lorena", de Olímpio Catão
(5), que registrou 8 negociantes de fazendas e 12 negociantes de molhados, mas
não se pode esquecer que 6 trabalhavam com ambos os artigos e as casas de
molhados seria um eufemismo para as vendinhas de aguardente. Já existia um
hotel, o "Santa Cruz", do Ten. José Mariano Ribeiro da Silva, e
duas escolas, sendo a masculina do prof. Franklin Gonçalves Ramos e a
feminina da profª Francisca Benedita de Assis. Naturalmente, o forte da
economia estava com os fazendeiros da cana e café, de que Catão relaciona
todos os da Comarca, sendo reconhecíveis o Ten. Basílio Monteiro de Castro,
na Fazenda da Limeira, e o Cap. Custódio Vieira da Silva, na Fazenda Estrela
do Norte. Tudo estava mostrando o pequeno crescimento do povoado, tanto que a
22 de março de 1875 foi criada a Freguesia de São Miguel do Piquete, com as
divisas que seriam as do futuro município (6). Todavia, a nova freguesia não
teve provido o cargo de vigário, porque, segundo a Câmara Municipal de
Lorena, "tal a sua pobreza e falta de elementos de vida e nenhum
sacerdote poderia ali viver, por falta de recursos pecuniários com que
provesse sua subsistência". Assim, foi uma grande surpresa para todos
quando o Governo Provisório do Estado sancionou o decreto n° 166, de 17 de
maio de 1891, elevando a freguesia à Vila, com a denominação da Vila Vieira
do Piquete, nomeando ao mesmo tempo seu Conselho de Intendência, composto
pelo Com. Custódio Vieira da Silva, Ten. Antonio Tristão Moreira da
Silva, Ten. João Rodrigues Pereira, Carlos Augusto Tacques Bittencourt,
Alferes Camilo José Barbosa, Francisco Marques de Freitas e Ten. Antonio Luiz
Ferreira (7). Não houve, ao que parece, campanha popular para a aprovação
da medida, nem diálogo com a Municipalidade de Lorena, aproveitando-se
simplesmente a oportunidade de não haver Assembléia Legislativa ou qualquer
outro órgão consultivo e o poder discricionário da novíssima República.
Naturalmente, alguém trabalhou nos bastidores, pressionando o presidente do
Estado e até indicando os membros do Conselho de Intendência. Teria sido o
Com. Custódio Vieira? Não sabemos. A posse ocorreu a 15 de junho, há 110
anos. Com festas? Também não sabemos. O que sabemos é que o Conselho da
Intendência, no ano seguinte, oficiou ao Governo do Estado, pedindo a revogação
do Decreto n° 166, mostrando o que nele "havia de prejudicial e mesmo
ilegal". Se aceita a idéia pelo governo estadual, Piquete voltaria a
ficar sob as asas da mãe, perdendo a autonomia. Não houve nenhuma resposta
governamental. Talvez surpreendida com o Dec. 166, a Municipalidade de Lorena
não se manifestou na época, o que só ocorreu em 1894, quando chamada a
opinar sobre o projeto n° 39, apresentado pelo Dr. José Pereira de Queiroz,
que revogava o decreto de 1891. Então, os ressentimentos lorenenses
apareceram, nem sempre desapaixonados mas que nos indicam como era a nova Vila
(8).
Dizia, para iniciar, que não existia edifício para a Câmara e Cadeia,
forçando o Município e o Estado a pagar aluguel, o que contrariava a Lei nº
40, de 11-10-1885; que o seu território não tinha 50 Km²; que o seu colégio
eleitoral não chegava a 200 eleitores e seu corpo de jurados escassamente
alcançava 36 pessoas. De outro lado, a renda municipal era de 6 contos de réis
anuais, mal dando para pagar os empregados municipais, nada restando para as
obras necessárias à coletividade. Por fim, a população urbana não ia além
de 600 pessoas, não existiam mais de 120 casas, das quais somente umas 40
cobertas de telhas, não havia ruas, nem alinhamento das casas. Mesmo com razões
tão fortes, o Senado Estadual não as aceitou e acabou rejeitando o Projeto n°
39, do Dr. Juquinha Pereira de Queiroz, o que confirmava a emancipação da
nova vila. Só que ela iria iniciar sua vida emancipada num período
extremamente difícil, do ponto de vista econômico, com a libertação dos
escravos sem indenização aos senhores e a decadência da lavoura de café. E
iniciativas grandiosas, como a do Barão da Bocaina, de construir uma linha de
bondes e telegráfica aos Campos de Buriquí, no alto da Serra, para transformá-los
em estância climática, como Campos do Jordão, ou até uma ferrovia, como
sugerida aos dirigentes do Engenho Central de Lorena ou ainda um ramal da
"Pedro II", partindo de Cruzeiro, não foram para frente (9). Assim,
a querida Vila Vieira do Piquete permaneceu estirada em sua pobreza,
titubeando em subir os morros pré-Mantiqueira ou alongar-se pelas pequenas
planícies de soleira, como enternecedor presépio.
José
Geraldo Evangelista - "Professor Zito" - é membro efetivo do IEV em
Lorena. Comunicação apresentada durante a Sessão de Estudos realizada em
Piquete, no dia 28 de julho de 2001. |
1) Lista de Moradores de Lorena - 1825 a 1850, Caixa n° 104, Divisão do
Arquivo do Estado. |
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