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PIQUETE - CIDADE PAISAGEM |

Há 50 anos elas chegavam a Piquete, para dirigir o Hospital da Fábrica
Presidente Vargas. Aqui aportaram a 02 de janeiro de 1949: Irmã Ema Tommazella, a diretora, mais as Irmãs Elizabet Catarina Zimermman, Maria
Inês Xavier Ribeiro e Natália Cordeiro. Acompanhadas da representante da Madre Provincial, precisamente às
15 horas e trinta minutos aqui desembarcaram, para um trabalho de intenso apostolado. Estava criada mais
uma Casa Salesiana no Vale do Paraíba. Grande número de pessoas as aguardava. Além de operários e diversas famílias
de Piquete e Lorena, achavam-se à porta do Hospital o Sr. General Waldemar Brito de Aquino, diretor da Fábrica Presidente Vargas, o Sr.
Bispo Diocesano Dom Luiz Gonzaga Peluso, o Sr. Prefeito Municipal Luiz Vieira Soares e o
vigário da paróquia Padre José Francisco Von Atzingen. O evento foi registrado no jornal "0 Labor", nº 69 , de 15 de
fevereiro de 1949, com o título "Recepção Festiva das Irmãs Salesianas".
Lembro-me, era aluno do ginásio do Departamento Educacional da Fábrica: passávamos na
frente do Hospital e víamos aquelas mulheres de hábito branco, rodeadas de adultos e crianças. De longe,
pareciam garças, tal a brancura das vestes. Gostavam que as chamássemos de Filhas de Maria Auxiliadora. Solícitas, ouviam a todos com muita paciência,
virtude pregada por São Francisco de Sales, a quem Dom Bosco consagrou sua ordem religiosa. A missão dessas irmãs era cuidar de doentes, e o fizeram
com desvelo e dedicação. Com autoridade e determinação, coadjuvadas por
excelentes médicos e enfermeiros, transformaram o Hospital num centro modelar, cuja ação benéfica repercutiu pelo Vale do Paraíba e Sul de Minas.
Primavam pela disciplina e atendimento. Tudo feito com calma e esmero, nada de se transviar no pessimismo, o tempo convertido numa espécie de
construção. Quantas crianças, ao nascer, sentiram o aconchego de suas mãos! Quantos enfermos tiveram, ao seu lado, as dores mitigadas ou a esperança da
paz em Jesus Cristo! Quando as explosões na Fábrica nos cobriam de luto, elas se solidarizavam com a nossa dor e carinhosamente assistiam os feridos,
cheias de amor e compaixão. Rezavam e velavam junto aos leitos. Sua presença
era apoio, conforto e refrigério. 0 bom gosto, que lhes era peculiar, despontava nas pequeninas coisas. Pelos corredores do Hospital, vasos de
begônias, avencas e samambaias ornamentavam o silêncio povoado de vultos brancos. Jardineiras delirantes de flores matizavam os portais de acesso. Na
capela, rosas frescas por elas cultivadas perfumavam os rituais. Na parede do hall de entrada, Maria Auxiliadora, de coroa e cetro exibia o Menino
Deus, velava pelos enfermos e intercedia pelas curas. Elas cuidavam também da ação evangelizadora. Falavam, com unção, da transcendência e da alegria
em se praticar o bem. Serenamente semeavam a palavra. Com elas muito se aprendeu sobre Dom Bosco e a Madre
Mazzarelo. Com elas conheceu-se Domingos
Sávio e Laura Vicuña, jovens santos da modernidade. Quem não se lembra da festa de Maria Auxiliadora, comemorada a 24 de maio, oficial no nosso
calendário? Tudo com muita pompa - missa campal à frente do Hospital, o coro afinadíssimo dos seminaristas salesianos de Lorena e a apoteose final, com a
procissão, a Virgem entronizada num carro de flores, ladeada de pequeninos pajens. E lá ia o cortejo, a Auxiliadora dos Cristãos a abençoar a cidade
que se transformara numa comunidade salesiana. Para finalizar, quase sempre a palavra do Padre José Pereira, que, com sotaque nordestino, coroava a
festa com seus dotes literários. As irmãs salesianas passaram por nós e nos deixaram como saldo o culto a Nossa Senhora Auxiliadora. Devoção, que desde
o início do século, já era aqui cultivada. O Padre salesiano João José
Crippa, que nos atendia no período de 1903 a 1908, quando ainda não tínhamos vigário, trouxe para cá a primeira imagem da Virgem Auxiliadora, venerada na
antiga matriz de São Miguel. A permanência das Irmãs entre nós vivificou a devoção e reavivou o espírito marial. Às primeiras Irmãs sucederam-se
muitas no trabalho hospitalar e catequético. Destaque especial para Irmã Maria
Clara Romeiro Moreira, que, pela doação sem limites, foi agraciada com o título de Cidadã Piquetense outorgado por nossa Câmara Municipal. Quem não
se lembra da sua fragilidade física e da sua fortaleza de alma? Ela passou por nós como um anjo tutelar - foi mãe, conselheira e amiga dos pobres.
Ficou como exemplo de silêncio, humildade e abnegação. Pena que as Irmãs Salesianas partiram. Partiram e nos deixaram órfãos. Uma perda irreparável.
O importante é que com elas crescemos e amadurecemos um pouco na dimensão da espiritualidade. |

As freiras salesianas do
Hospital da FPV.
Da esquerda para a direita em primeiro plano: Irmã Emma (Irmã Diretora), Irmã
Maria Clara Moreira
e o Prefeito Luiz Vieira Soares. Atrás do Prefeito, aparece a cabeça do Dr.
Leopoldo Wanderley.
Foto escaneada do Jornal "O Estafeta"
Convivi com as
freiras de nosso hospital por toda a minha vida, como irmã e filha
de pacientes nele internados. Estudante de Medicina conheci outra
faceta destas mulheres maravilhosas, os detalhes de seu trabalho e
de sua dedicação. Maravilhoso e completo o texto de Chico Máximo,
principalmente quando destaca a delicadeza de Irmã Clara. No
entanto, gostaria de ressaltar a figura ímpar de Irmã Conceição.
Enfermeira competente e dedicada, esta freira querida mostrava-se
atenta aos mínimos detalhes. O desconforto de um paciente anônimo,
o balbucio de um moribundo, a insegurança e a solidão das pequenas crianças na
enfermaria infantil, as necessidades das famílias dos doentes -
nada lhe passava despercebido. Até mesmo os cuidados com os
médicos... Quantas vezes, nos intervalos das cirurgias, encontrávamos
a mesa posta a nossa espera, com uma laranjada gelada e biscoitinhos delicados. Um
fato sempre me ficou na lembrança: certa feita, após uma explosão
da Fábrica, com muitos feridos exigindo cuidados, Irmã Conceição
foi insistentemente chamada para a Capela, onde se encontrava o
Bispo de Lorena. Ela não atendeu aos pedidos e, já cansada de
negar-se a comparecer ao encontro, mandou dizer que havia muita
gente precisando dela, para desperdiçar seu tempo beijando o anel
do bispo. Sua atitude rebelde e a coragem de sua resposta me
cativaram naquele momento. Sua fé era enorme mas se julgava mais
necessária ao lado dos sofredores do que rezando. Esta sua
oração: o trabalho com os enfermos. Poderia haver atitude mais
cristã? Muito teria que contar desta querida Irmã. Não sei onde
se encontra, nem sei se ainda vive, mas jamais esquecerei a sua
postura profissional. Quiçá todas as enfermeiras do Brasil fossem
como nossa querida e inesquecível Irmã Conceição.
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Antiga
Capela do Hospital da Fábrica Presidente Vargas
Foto
de Lety
Há quase dois meses da saída das Irmãs Salesianas do Hospital da Fábrica Presidente Vargas, torna-se urgente cumprir um dever relativamente à cidade. Com sentimentos de comoção lemos o artigo publicado na "Folha de Piquete" de 15 de novembro p.p. e recebemos ofícios de muitas Entidades locais bem como listas de abaixo-assinados, pedindo a permanência das Irmãs. Teria sido uma satisfação para a Diretoria das Irmãs Salesianas da Inspetoria de São Paulo poder atender a solicitação de tão bons amigos piquetenses. Infelizmente, levada pela falta de pessoal para atendimento hospitalar, esta diretoria não pôde manter as Irmãs do Hospital de Piquete, embora reconhecendo a importância de seu abnegado trabalho. No entanto, as Irmãs Salesianas não se retiraram de Piquete; elas continuam presentes na Obra Educacional - Promocional Santa Maria Mazzarelo, procurando responder a uma parte das atividades que desenvolviam (como afirma o já citado artigo) "em outros misteres, seja no amparo aos necessitados, seja como conselheiras de pessoas carentes de ajuda, e, principalmente, na orientação das meninas", acrescidas da ação pastoral junto à Igreja de Piquete. Além disso, Irmã Clara, verdadeira "cidadã piquetense", não só pelo título que honrosamente lhe foi outorgado,mas também pelo grande afeto que a liga a toda a população de Piquete, continua bem próxima, no Lar São José, de Lorena, sempre disponível, recebendo a todos com a bondade de seu sorriso e procurando atende-los com a dedicação que a caracteriza. A Diretoria das Irmãs Salesianas quer apresentar publicamente o seu agradecimento a todos os Excelentíssimos Diretores Clínicos do Hospital nesses 26 anos de seus serviços, e muito particularmente ao Dr. Leopoldo Wanderley, e a todos os Excelentíssimos Generais, Diretores Gerais da Fábrica Presidente Vargas, especialmente ao Excelentíssimo Gen. Bda. Jary de Matos Guilherme, pela compreensão, apoio, incentivo e amizade com que brindaram as religiosas da Comunidade do Hospital e a todas as Irmãs Salesianas que tiveram a oportunidade de passar por Piquete. E agradecendo as autoridades máximas, entendemos agradecer também a todos os Senhores Médicos, Enfermeiros e Funcionários do Hospital e a todos os Excelentíssimos Membros da Direção da FPV, bem como as suas distintas Famílias. Só Deus poderá recompensá-los na medida justa. Fique porém o nosso sincero agradecimento, transformado em orações e votos pela felicidade de todos.
Pela Diretoria das
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