|
PIQUETE -
CIDADE PAISAGEM |

Vista de
Piquete
Foto de Lety
Você sabe melhor
do que ninguém, sábio Kublai que jamais se deve O exemplo piquetense O
discurso mais usado na cidade de Piquete é o de que nela tudo já acabou.
Nas cinzas do passado o imaginário tem constituído em fotos, depoimentos,
lamentações, ressentimentos e elogiosas referências aos emblematizados
como fundadores de uma memória que se repete contemplativa e imobilizada.
As cidades vale-paraibanas têm, entre si, referências comuns de origem e
desenvolvimento. Vinculadas, principalmente no setor paulista, ao
deslocamento dos bandeirantes, desbravadores e mineradores, tiveram na
produção cafeeira, as marcas do desenvolvimento; e, portanto, na
conseqüente queda dessa produção, o seu problema. Marcadas pela
estagnação, algumas delas registram-se como decadentes, enquanto outras,
pela retomada do impulso através do industrialismo, tornaram-se
polarizadoras e focos de prestígio regional e inter-regional. Piquete,
cidade valeparaibana do sopé da encosta Mantiqueira, guarda algumas dessas
marcas, individualizada pela origem ligada a um registro de controle de
passagem, sob a administração da Vila de Lorena e a produção cafeeira, que
semeou fazendas e um contingente escravo, responsável por significativo
peso no elemento étnico e cultural. Instalada como vila e emancipada na
sua trajetória de núcleo populacional, recebeu do governo republicano
recém-instalado, a designação para abrigar uma fábrica de pólvoras. Na
primeira década republicana enquanto arduamente se discutiam questões
institucionais e se definiam rumos, a produção da pólvora era requerida
como alicerce importante pelas Forças Armadas, principalmente o Exército.
A idéia republicana de progresso combinado com modernidade e positivismo
fizeram tornar realidade o projeto acalentado pelo Ministério da Guerra e
o plano foi executado. No caminho dessa história fundadora, Piquete traçou
seu destino imediato e conjugou forças sociais na construção de um ideário
de forte influência entre seus habitantes. Dessa destinação produziu-se um
significado que a individualiza na rede urbana do Vale do Paraíba, e a
torna símbolo de um episódio histórico construído no Brasil, como proposta
de mudanças: o republicanismo no conservadorismo das
elites. Órgão da Fundação Christiano Rosa de Piquete, a publicação mensal denominada, "O Estafeta", completou 100 números publicados no corrente ano 2005 - especificamente no mês de maio. Nos números publicados desse periódico, os colaboradores revivem a memória dos moradores, os eventos e os episódios da história que deu nascimento ao antigo bairro da Vila de Lorena, (Bairro do Piquete, da 7ª Companhia de Ordenanças), depois emancipado como Vila Vieira do Piquete, a 15 de junho de 1891, e abrigou a partir de 15 de março de 1909, a Fábrica de Pólvora sem Fumaça, depois denominada Fábrica Presidente Vargas (1942). Daí, as histórias de uma e outra passaram a ser ligadas e representadas. No imaginário construído pelos habitantes da cidade, a Fabrica, assim designada e reconhecida, é seu significante e significado, como referente simbólico e como significação ou equivalente. Foi nessa condição que a cidade se modelou e é nesse modelo que se atém seus antigos moradores em suas mais recorrentes rememorações. Vários periódicos anteriores tiveram sua referência na vida da cidade e de seus habitantes com durações de publicação mais extensas ou menos duradouras, ligadas ao jogo político e às possibilidades em mantê-los ativos. Atualmente, além do citado, outro periódico circula sob a denominação de Jornal Cidade Paisagem, de publicação mensal como O Estafeta. Registra os fatos da vida urbana e tem abertas as suas colunas aos prováveis colaboradores. Diferentemente de O Estafeta, publicação fundamentada na memória do município, como seu principal objeto, o Jornal Cidade Paisagem - remete-se a uma proposta crítica, à busca das questões cuja solução poderia estar pautada pelos anseios da população nos interesses imediatos e no reconhecimento dos problemas causados pela prática política, dela derivados, ou por ela encaminhados. Os editoriais deste são a principal prova dessa preocupação. Bem construídos, eles são sempre, um convite ao questionamento e à tomada de posições. Este periódico já conta com 14 anos de publicação e através de farto material iconográfico, enfatiza o presente mediado pelos textos em foco. Referem atualidade com imagens e textos. Piquete - Uma cidade valeparaibana? Entre as áreas
urbanas do Vale do Paraíba, Piquete possui uma história própria, fruto que
é, como cidade, por designação de 1915, da organização bélico-militar que
lhe acompanha os passos, define e qualifica. Por razões estratégicas
quando da instalação da Fábrica de Pólvoras esteve protegida da exposição
aberta, e não referida na secção valeparaibana a que se insere, por
localização geográfica e referência de ocupação. Mas, a continuidade do
não referimento, levou-nos, a nós, os habitantes da cidade, a julgar como
desprestígio, esquecimento convencional ou exclusão. Por suposto, o
desígnio do sopé da serra - seu sítio urbano - fazia entender afastamento
do núcleo relativamente ao eixo principal da bacia do rio Paraíba do Sul,
e, portanto, do conjunto histórico populacional de origem. Entretanto,
estudos mais bem focalizados, com temática e nível acadêmico, permitem
reconhecer como participantes da bacia valeparaibana todas as bacias dos
rios formadores e tributários. Daí hoje ser a citada bacia amplamente
referenciada. Além do reconhecimento da área regionalmente considerada,
principalmente quando são colocadas em tela, as questões de
sustentabilidade e preservação ambiental. Definir geograficamente com
apoio nas pesquisas por GPS e sensoriamento remoto permitem definir áreas
com mais exatidão além de localizar e referenciar seus componentes
precisamente. De onde tornam-se possíveis as revisões e análises de
impactos demonstradas na preocupação de equacionar o encaminhamento de
projetos. Aspectos da comunicação de massa e seus conteúdos As
comunicações sociais de massa em Piquete, se fazem por eventos seja da
Igreja seja de festas anuais como as do Ciclo do Tropeirismo e do Peão de
Boiadeiro além do Carnaval. Uma tentativa em retomar manifestações
folclóricas está em curso principalmente voltadas para as escolas públicas
e particulares. Piquete carece de emissoras de rádio de referência
comercial, (já as possuiu no passado), e a divulgação por serviço de
alto-falante visa a propaganda dos serviços e eventos, com alcance nas
principais praças e ruas e horário controlado de funcionamento. Difunde
músicas dirigidas aos jovens e faz deles, seus focos para consumo. De
população cujo crescimento não avança muito, segundo dados dos três
últimos recenseamentos, Piquete tem um elevado contingente de composição
infanto-juvenil a requerer escolas e trabalho. Este, mais difícil, dado o
município não contar com instalações industriais além da Fábrica
Presidente Vargas e uma de plásticos - a Renaplast. Assim, quanto as
instalações industriais, numericamente está em total desfavorecimento com
sua vizinha mais próxima, Lorena. Entretanto, é a Fábrica Presidente
Vargas a que polariza a vida da cidade, e é nela, que estão depositadas as
esperanças da garantia de trabalho por muitos de seus habitantes. Porém,
dadas as circunstâncias geopolíticas, tecnológicas e de expansão moderna
do capitalismo, a Fábrica de Piquete foi perdendo sua posição destacada de
núcleo industrial bélico, e hoje, sob a direção e manutenção pela IMBEL -
Indústria Brasileira de Material Bélico -, tenta manter-se, e garantir
continuidade, por seus produtos químicos associados à pólvora e a
dinamite. Nos áureos tempos, a Fábrica foi o principal foco de onde
derivavam todos os referentes da comunicação social, quer pelas escolas
que instalava e mantinha, quer pelas diferentes instâncias de atendimento
sanitário e médico-hospitalar, de moradia e de abastecimento, de promoção
de eventos ligados ao lazer e às competições esportivas. O período áureo
esteve entre os anos de 1945 e 1974, quando um Departamento Educacional e
Social magnificava um modelo de qualidade inigualável em território
brasileiro e era admirado mesmo além-fronteiras nacionais. O orgulho da
Fábrica Presidente Vargas era o seu DAE - Departamento de Assistência
Educacional, que em 1959, contava com 1465 alunos e cuja criação fora
estabelecida estatutariamente pelo Boletim nº 88 de 18 de abril de 1945.
Neste, se oficializavam e se apontavam as diretrizes segundo a designação
de Boletim do Departamento Educacional, publicado em Suplemento de O
Labor, órgão do Pessoal da Fábrica Presidente Vargas, em agosto de 1949.
Como órgão de comunicação social entre os operários, funcionários e a
hierarquia militar, a publicação denominada O Labor, exibia as notícias
enfatizadas pelos lados social, ocupacional e educacional dos membros da
atividade fabril. Dava conta, por exemplo, que a 1 de junho de 1948, eram
registrados como elementos da Assistência Social: a Educativa, a
Alimentar, a Recreativa, a Hospitalar e a de Habitação. Mas ao lado, na
mesma página, registrava reclamações ao IPASE e ao IAPC, órgãos
pertencentes ao governo federal que pretendiam, no Rio de Janeiro,
atender, (mal), as necessidades de seus filiados. O que pode ser
considerado como uma expressão de liberdade de imprensa num período de
controle hierárquico forte. E essa liberdade era mesmo garantida pelo seu
brilhante diretor - Francisco F. Leite, de tão boa memória em nosso
recanto valeparaibano Lorena-Piquete. Mas o interessante desse órgão de
imprensa vinculado à Fábrica Presidente Vargas e dirigido ao seu pessoal,
era a pluralidade de seus textos - estes, sempre direcionados ao seu
público, e dele mesmo emanados. De circulação quinzenal O Labor teve seu
período glorioso enquanto durou o momento de apogeu da Fábrica,
principalmente emblematizado pelo Departamento de Assistência Social. As
escolas preenchiam um amplo leque de escolhas, desde a pré-escola, o
primário, o ginasial, o agrícola, o industrial, o artesanal masculino e
feminino, o comercial, o colégio acadêmico: científico e clássico e a
escola normal. Contemplava todos os segmentos do ensino básico,
fundamental e médio. As bibliotecas, a rádio escolar, os jornais mantidos
nos diferentes níveis com produções dos alunos, os esportes, as
manifestações cívicas, os desfiles militares, os eventos e as competições
tanto no nível acadêmico: concursos literários, como nos esportivos em
várias modalidades, davam vigor e animavam a comunicação sócial entre os
piquetenses. Não menos importante foi o estabelecimento da chamada
Sociedade Beneficente do Pessoal da Fábrica Presidente Vargas, para
socorrer e suplementar os momentos difíceis. Por sua vez, o Departamento
Educacional, da F.P.V. foi alvo de reconhecida admiração pelo eminente
educador, professor Lourenço Filho, em visita em 1944, acompanhado do
Técnico de Administração Escolar do Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos, o professor Álvaro Neiva, que especificamente manifestou, seu
entusiasmo em carta aos dirigentes, Tenente Coronel José Pompeu Monte e
Coronel Waldemar Brito de Aquino. Motivos pelos quais até hoje vibram
emocionados os corações engrandecidos pela referência à obra educativa,
tida como única e exemplar. O Labor noticiava todos esses acontecimentos,
e embora quisesse, por seus diretores, garantir um espaço social
democrático, vinculava-se a uma hierarquia, atenta à ordem no progresso e
na modernidade segundo os padrões da era Vargas. A ideologia do processo
estava sempre visível. O Estado Novo implantara suas raízes moldadas no
setor educacional pela Reforma conduzida por Gustavo Capanema e o famoso
staff de notáveis que lhe davam brilho. Entre eles, Carlos Drummond de
Andrade, Rodrigo de Mello Franco de Andrade, Francisco Campos, Mário de
Andrade, Alceu Amoroso Lima, e outros, cuja preocupação baseava-se na
concepção de que o mundo moderno deveria ser definido como aquele em que
predomina a cultura de massa, geratriz da mentalidade de massa, pela
difusão e ampliação dos meios de comunicação. Foi o que sustentou o
princípio da ditadura Vargas, pelo entendimento de que um líder
carismático, (e Getúlio Vargas o era), deveria ser o centro de integração
política e sustentáculo de uma idéia totalitária. E, portanto, não foi sem
motivos, que a Igreja se aliou a esse plano, já que estava entre seus
objetivos, garantir a tradição cristã e lutar contra o materialismo
comunista. Assim, Gustavo Capanema no Ministério da Educação e Saúde, (de
1934 a 1945), projetou-se por um plano plenamente entendido pelas escolas
da Fábrica Presidente Vargas como semeador de esperanças depositadas em um
desempenho de papel central firmado na formação profissional, moral e
política, como membros da população brasileira e integrantes do Estado
Nacional. Afinal, estava-se justificando a substituição de "uma república
oligárquica", por um Estado Nacional forte e voltado para o progresso e o
futuro. As paradas cívico-militares como foram tão valorizadas em Piquete
nesse momento, (décadas de 1940 e 1950), os demonstrativos de estética e
força física do Dia da Raça, (6 de setembro) no estádio de futebol para a
massa popular e os apelos nativistas dos monumentos do professor Antonio
César Dória, a pontuar pela cidade em homenagem à Fábrica, com titãs,
emblemas, figurações, égides e placas comemorativas e mais as bandas
marciais, e o canto orfeônico. Tudo posto a orquestrar um tempo social
fortemente comunicativo. Lembrado até hoje, como "idade de ouro" do
patrimônio da cidade, do seu imaginário, e como prova testemunhal. Dessa
forma, sob os símbolos dessa mitologia animada pelo mecenato militar,
Piquete constituía um meio, o qual, pela Fábrica e em nome da cultura
nacional, deveriam ser agregados os grupos para definir uma identidade a
ser reconhecida na sociedade valeparaibana como progressiva, nova, coesa e
única. Portanto, Piquete, com um sistema educacional de qualidade, e como
agente social de reformas, representava um ideal a ser mantido com
entusiasmo. A par disso, numa atenção aos setores sociais, como
garantidores do equilíbrio e do apoio, sustentáculo insofismável de uma
vitoriosa ação. Num país, cuja história construída pelas ambigüidades, era
necessário, segundo o plano, conter as liberdades democráticas
desentendidas por suas liberalidades, em nome de um cimento coesivo
autoritário. A desagregação desse sistema e de suas idéias geradoras não
se fez de imediato - razões as mais diferenciadas faziam-na desagregar-se
aos poucos, ainda que atos violentos registrados no país tenham
intermediado o processo a partir de meados da década de 1960. Em Piquete,
ficou a saudade e a lamentação interminável pelo modelo
esgotado. Piquete, vive do passado? Hoje, nos
jornais da cidade as repercussões desse fausto aparecem travestidos na
imagem criada no passado, e principalmente no "O Estafeta", da Fundação
Christiano Rosa, no qual esta imagem é um baluarte na rememoração como
lugar de honra, apostando num futuro que, provavelmente a luta pelo
ambientalismo poderá compensar. A recorrência da temática nos 100 números
publicados é patente representação desse ponto de honra para os herdeiros
de uma época irrecuperada. Não sem motivos igualmente, a Fundação
Christiano Rosa como órgão catalizador de aspirações sociais, investe na
memória através de sua publicação mensal, em exposições fotográficas de
arte e temáticas, e nos eventos direcionados às representações dos
componentes do patrimônio cultural imaterial. Entre esses, o "boi" do
Carnaval e o jongo, a ser revivenciado, como símbolo de um bairro - a Raia
e por extensão, a Vila Eleotério, na tradição de seus habitantes negros e
na memória da escravidão, que nas fazendas de café do Vale, traçaram um
destino que nuançou a pele dos habitantes e estigmatizou uma herança
cultuada apenas como folclore. A recorrência às imagens fotográficas hoje
amplamente usadas em ambos os períodos - O Estafeta e o Jornal Cidade
Paisagem contém o que no conceito de imagem é representado pelo campo
semântico determinado por dois pólos opostos como foram citados por Lúcia
Santaella e Winfried Nöth (Imagem: coguição, semiótica, mídia - São Paulo.
Iluminuras, 1997). Esses dois pólos referem-se, um à descrição da imagem
como tal (representação icônica) e o outro, como "representação mental
simples, que na ausência de estímulos visuais, pode ser evocada" (op. cit.
p. 36). Dessa maneira o imaginário é construído como fixação de
mentalidades para definir um projeto de recorrente memória, entretanto,
imobilizada em suas ações, essa memória ainda não encontrou uma fórmula de
reerguimento do ideário para a construção de um futuro. Nos dias atuais a
Fábrica Presidente Vargas, hoje pertencente à IMBEL (Indústria Nacional de
Material Bélico) passa por grandes dificuldades em se manter em operação.
Uma greve se estendeu pelo mês de maio de 2005 e alguns movimentos
políticos têm sido organizados para reivindicar seu funcionamento como
principal e praticamente único meio de garantir empregos na cidade. À
busca de um futuro a cidade de Piquete investe atualmente em projetos de
turismo e ambientalismo. Sua situação privilegiada no sopé da Mantiqueira
com reservas preservadas de Mata Atlântica - preservação particularmente
garantida pela Fábrica Presidente Vargas e o Pico dos Marins, com 2.421
metros de altura, são seus principais referentes para atrair esse turismo
ecológico. Vinculada à projetos de preservação a Fundação Christiano Rosa
desenvolve junto ao Comitê da Bacia do Paraíba do Sul um planejamento de
estudo, conservação e preservação da micro bacia do Ribeirão Passa-Quatro,
cujas nascentes estão no Pico dos Marins, projeto que foi potencializado
pela citada Fundação para desenvolver a Educação Ambiental e o Ecoturismo.
Outro projeto ao qual se vincula a Fundação Christiano Rosa é o da
preservação das matas ciliares através de um plano-piloto a ser
implementado. |
Antigos periódicos que circularam em Piquete 1. Sentinela -
órgão do PRP 1926-1927 |
| Home
|
Contato |
Cantinho Infantil |
Cantinho Musical |
Imagens da Maux |
l
Recanto da Maux |
Desenterrando Versos | História e Genealogia
l
l Um Herói nunca morre l Piquete - Cidade Paisagem l
MAUX HOME PAGE- designed by Maux
2003 Maux Home Page. Todos os
direitos reservados. All rights reserved.