LENDAS, USOS E COSTUMES I Talvez porque existisse menos gente, naqueles tempos a vida em comunidade era mais intensa que agora. Também, quando não era parente, era-se compadre duas vezes. Todo o mundo se conhecia e vivia numa extrema camaradagem, cuja maior característica era o "empréstimo". Emprestava-se de tudo e tomava-se emprestado quase tudo, desde uma pitada de sal - que não era devolvida, porque "sal emprestado não se devolve porque dá azar" - até o cavalo para um passeio pelos bairros distantes. Um dia, a vizinha da casa de baixo, chegou junto à cerca do quintal e pediu à minha mãe: - Dona Cotinha, a senhora tem uma dúzia de ovos galados pra me emprestar? São para chocar... Minha mãe, que conhecia bem a vizinha, responde perguntando: - Mas a senhora tem galinha choca? - Não tenho, mas pedi uma emprestada para a vizinha cá de baixo... Outra característica dessa bendita camaradagem era o mutirão. Havia um entrelaçamento de ajuda entre as famílias, muito bem organizado e que dava sempre o resultado esperado. Um lavrador sozinho não podia "tocar" seu serviço de amanho da terra. Roçar, queimar, lavrar a enxadão e plantar. Então convidava os vizinhos, às vezes vinte, ou mais pessoas. O serviço que deveria ser feito em vinte dias, por ele, sozinho, era realizado em um só dia. Para isso era preparado tudo com  antecedência para ser servida a bóia para toda aquela gente. E ele ficava desimpedido pra ir ao mutirão de outros vizinhos. Também para construir casas, fazer colheitas e construir cercas, pontes, etc, era usada essa modalidade de ajutório. Carlos Vieira Soares Folclore de Piquete (Pequena Contribuição)

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