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PIQUETE -
CIDADE PAISAGEM |
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O Grupo Escolar de Piquete, diziam, era mal assombrado. Sito à rua Cel. Luiz Relvas, a única que ligava a cidade à então Vila Braga, hoje Vila São José, soltava à meia noite, uma porca com sete leitões, que barravam o caminho de quem precisasse passar por ali, a desoras. Havia também, no porão, um quarto em que morrera um escravo, acorrentado em uma argola presa à parede. A alma desse escravo costumava sair pelas imediações, a pedir fogo para seu cachimbo. Havia ainda uma mula sem cabeça, um saci brincalhão que trançava a crina dos animais, um caipora barbudo e feio, e mais uma corte de assombraçõezinhas a apoquentar o povo. Seu Feliciano, coveiro, dizia que no cemitério tinha um túmulo que gemia, e que nas noites de sexta-feira o portão se abria sozinho para dar passagem a uma mulher vestida de branco, que vinha sentar-se nos degraus da escada da matriz. E tínhamos um carro de bois que andava pelas ruas, da meia noite a uma hora, cantando nos eixos e que fazia ponto numa figueira velha daqueles lados da Raia. Na linha férrea, de Piquete até a Estação da Estrela, havia seis cruzes marcando a morte de algum andante, todas elas mal assombradas.
O trenzinho
apita na curva da reta da estação. Estamos a postos, nós, os carregadores
de malas, que diariamente íamos esperá-lo no horário das três horas. Pode
parecer estranho à nova geração o fato de serem precisos vários garotos
para atender aos viajantes. É preciso que se diga que a Piquete daqueles
tempos era estação climatérica e de águas consideradas virtuosas, sendo
portanto visitada por muitos turistas para temporadas no hotel de Dona
Maricas Eufrásia e em casas particulares, fora os "cometas" (caixeiros
viajantes) em suas visitas de negócios. O preço que cobrávamos variava
pelo tamanho das malas. Mala grande, de mais de sessenta centímetros,
quatrocentos réis, cada; malas menores, duzentos réis cada; embrulhos
pequenos e valises, cem réis (um tostão). Já tentei fazer uma comparação
do valor do dinheiro de então com o atual, mas não cheguei a uma
conclusão. A mudança do réis para o cruzeiro e depois a retirada dos três
zeros do cruzeiro fizeram uma confusão tremenda, que não sabemos a
quanto andamos com relação ao velho mil réis. Sabemos somente que
vendíamos, a varejo, seis bananas por um tostão e que um quilo de carne
custava 1$200 (mil e duzentos réis). Carlos
Vieira Soares |
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