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PIQUETE -
CIDADE PAISAGEM |
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Na vida de nossa pequena cidade de Piquete, de cinqüenta anos atrás, havia de tudo, menos o clube social organizado. Mas em qualquer casa de família e sobre qualquer pretexto, às vezes sem pretexto algum, reuniam-se moças e rapazes, e ali estava formado um baile. E dançava-se de tudo: samba, xote, mazurca, marcha, charleston. Tocavam-se e dançavam-se também a valsa, o tango, a polca, e quando das festas populares, outros tipos de músicas se faziam presentes.
A primeira
música que gravei na memória, a não ser, é claro, as canções de ninar
ouvidas nos braços maternos, foi a cantada e dançada numa congada, isso lá
pelos idos de 1922. Estávamos brincando em frente de nossa casa, quando
surgiu das bandas do Poço Fundo, um grupo de pessoas formando duas filas.
Todos pretos, mas vestidos de branco: homens, mulheres e crianças. Era uma
congada que festejava o dia da libertação dos escravos. Passos cadenciados
ao ritmo de violas, caixas e reco-recos, numa melodia simples, de compasso
binário, mais triste que alegre. Bem à frente de nossa casa fizeram
evoluções, sempre cantando num dueto de sexta. Essa dança, conforme diz o
nome, procede do Congo e foi trazida ao Brasil pelos escravos. Ainda hoje
se dança a congada, só que atualmente é permitida a presença de brancos e
usam guizos nas ombreiras, marcando cadência, voluteando pequenos pedaços
de pau roliços. A letra, também triste, relembrava a condição de escravos
e era mais ou menos assim: - As meninas
do Itabaquara - As outras
da Tabuleta - As moças
da Boa Vista
O Jongo é outra
espécie de dança que desapareceu de nossa terra. Música e dança típicas da
África, parecia ser a válvula de escape de um povo que trazia na lembrança
as senzalas, o tronco e a chibata do feitor. Posteriormente, passou a ser
simples dança de diversão, embora respeitasse os mesmos princípios de
origem. Os versos consistiam de charadas desafiantes da argúcia dos
participantes. Um jongueiro lançava o desafio, cantando um "ponto" e cabia
aos demais "desatá-lo", isto é, matar a charada. As vezes, levava mais de
uma hora para que alguém o conseguisse e só então era permitido a esse
alguém o lançamento de outro ponto. Somente instrumentos de percussão como
o tambu, o quinzengue e outras caixas menores, todos "temperados" ao calor
da fogueira. "Uma senhora
estava contando vantagem de seu marido: Não podemos omitir aqui os nomes de Benedito Jacó, Amaro Salgado, suas filhas e sua irmã D. Brasilina, Sebastião Mendes Leal, João Miguel e Benedito Miguel, afamados jongueiros daqueles tempos. O Cateretê, agora em completo desuso entre nós, teve sua época, que me lembre, pelas décadas de 1920 a 1950. Tivemos a oportunidade de apreciá-lo muitas vezes e algumas delas na residência do Sr. Antônio Ramiro, já falecido. É uma dança também conhecida pelos nomes de Bate-pé, Chiba e Catira. Existia ainda o Cateretê mineiro, que difere do nosso, dançado só por homens. Sua melodia, de ritmo binário, é simples e, às vezes, apressado. Dançava-se em círculos e seu movimento é ao contrário do ponteiro do relógio. A letra é variada, podendo ser um desafio ou a narração humorística de um fato, quando os participantes dão sua nota de repentistas. E havia os
bailes comuns. No Carnaval a nossa banda de música se desdobrava em quatro
partes, quer dizer, formava quatro grupos. Um ia para o Cassino dos
Oficiais da Estrela, outro para os bailes no prédio da Prefeitura, outro
para o hotel de D. Maricas Eufrásia e o último para o cinema, a fim de
musicar os filmes mudos de então. Fora do Carnaval, como dissemos antes,
dançava-se em qualquer casa de família. Bastava a reunião de três pares de
moços e já mandavam chamar o Cocó e Pedro Coelho com seus clarinetes, o
João Ângelo com seu violão e o Zé Caxixa com o reco-reco, e estava formado
o baile. Em outras casas eram o Henrique Masiero, Antenor Ramos, José
Palma e outros músicos. E tinha também os forrós de sábado, animados à
sanfona, lá pelas bandas da Vargem Grande, Itabaquara, Tabuleta, etc.
Terminada a função, já madrugada, ouvia-se ainda alguém mais animado, em
demanda de sua casa: |
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