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Naqueles
tempos, havia várias benzedeiras, geralmente senhoras de idade avançada
que, à mercê de rezas misteriosas e mímicas extravagantes, "curavam" todo
o tipo de doenças: dor de dentes, de cabeça, de barriga, de ouvido,
cólicas, quebranto, mau olhado e outras tantas, era só levar na benzedeira
, e pronto. Havia ainda as mais competentes que curavam até doenças da
falta de ter crianças. E havia também, outras superstições, e
crendices: Para a parturiente ficar logo livre bastava o marido vestir
pelo avesso a camisola da esposa. Para que doença alguma entrasse em
casa, pregava-se uma ferradura de sete furos atrás da porta de
entrada. Beija-flor e borboleta que entrassem em casa, era sinal de
visita; no quarto, doença; na cozinha, fartura. Para que não se pegasse
carrapato, bastava enganchar um raminho de cambará no cós da
calça. Virar a vassoura com o cabo para baixo e jogar um pouco de sal
no fogo, fazia a visita importuna sair logo. Galinha cantar como galo
queria dizer que mulher mandava no marido. Quando o peixe escapava do
anzol era preciso cuspir três vezes na água, para que ele não fosse contar
aos outros que ali havia um pescador e que estava com o queixo
machucado. Vestir a camisa no avesso livrava de cachorro louco. Quem
descascasse ou chupasse laranja ou mexerica não podia visitar
recém-nascido antes de oito dias de idade. Atirar em urubu estragava a
espingarda. Bater com colher de pau na cabeça de gago curava a
gagueira. Para que doenças epidêmicas de pessoas, ou de animais não
entrassem no sítio, era preciso fincar, na noite de São João, uma árvore
de nome "sete casacas" junto à porteira do terreiro. Também para que a
laranjeira "carregasse" bem no ano seguinte era necessário colocar uma de
suas frutas no topo do mastro de São João.
Carlos
Vieira Soares Folclore de Piquete (Pequena
Contribuição) |