“A feira é
invadida por uma verdadeira multidão. Vendedores disputam os clientes aos
gritos. E com chapéu de couro de bode, ao sol do meio-dia, um homem
mestiço, com uma voz rouca, canta em versos em meio a um pequeno grupo de
nordestinos curiosos”.
É o poeta, transformando seus versos em registro da
vida nordestina, impressos em papel pardo, com belas ilustrações
xilográficas. Trata-se da denominada Literatura de Cordel, que leva esse
nome devido a sua exposição em barbantes ou cordas, com folhetos presos
por pregadores de roupas. A literatura de cordel surgiu na Europa, no
século XVIII. No Brasil, esse tipo de literatura tornou-se uma tradição
literária tipicamente nordestina. Os romanceiros de cordel são grandes
narradores da vida local: Reproduzindo fatos sociais, políticos,
econômicos e, também, históricos, com seus relatos em versos
característicos. Os folhetos de cordel são verdadeiros “blogs”, pois assim
como estes, se encontram difundidos numa espécie de internet popular,
sendo encontrados nos mercados públicos, feiras, praças, sebos, museus,
dentre outros espaços não menos importantes do nosso cotidiano. O escritor
Ariano Suassuna, quando lançou o Movimento Armorial, no dia 18 de outubro
de 1970, viu na Literatura de cordel uma fonte de inspiração importante
dentro do contexto do ideário Armorial.
"A Arte Armorial Brasileira
é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito
mágico dos 'folhetos' do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de
Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus
'cantares', e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o
espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo
Romanceiro relacionados".
Ariano
Suassuna, Jornal da Semana, Recife, 20 maio 1975.
Hoje, a historiadora Maria Ângela de
Faria Grillo, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco,
descreve a importância da literatura de cordel na própria dinâmica
histórica:
“O cordel é como uma janela aberta para se investigar
outras visões e outras versões das narrativas históricas”.
Maria
Ângela de Faria Grillo, Revista História da Biblioteca Nacional. Outubro
de 2006.
É evidente que a
literatura de cordel, assim como todas as manifestações populares diversas
daquelas eleitas pela mídia, têm sofrido muito com a falta de incentivos
oficiais e divulgação. Sem um projeto sério que apóie a diversidade
cultural, os romanceiros são cada vez menos vistos, ficando assim, no
passado, a busca eterna por meios a não serem esquecidos e nem calados.
Investigando a história das famílias nordestinas vamos encontrar vestígios
dessa prática popular, tão impregnada aos seus costumes.
Texto
de http://vbemtempo.blogspot.com/2007/05/literatura-de-cordel-blog-de-matuto.html |