FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA |
Navios Brasileiros Torpedeados
Quadro escaneado do livro
"Eu estava lá"
Elza Cansanção Medeiros
Os alemães,
herdeiros dos mais aguerridos povos, que desde a Antiguidade atuavam como
bárbaros, e mais recentemente com a rigidez dos militaristas prussianos,
não podendo conter as suas características bélicas, tentaram reviver as
aventuras de 1870 e 1914. Para realizarem seus sonhos de dominar o mundo,
contaram com a presença, em suas hostes, de um carismático megalômano
austríaco, de origem judaica, Adolf Hitler. A presença daquele fanático,
possuidor de um inegável poder de liderança de massas, à frente do governo
da Alemanha, começou a inquietar os povos democráticos. A derrocada da
Alemanha em 11 de novembro de 1918, com o término da Primeira Guerra
Mundial, foi uma humilhação muito grande para os germânicos. Limitações
impostas à Alemanha feriram o orgulho nacionalista e reacenderam os sonhos
de retomada da posição de grande potência mundial que perdido em 1918.
Vindo de soldado, Hitler se agigantou no cenário político e fundou o
Partido Nacional Socialista. Como chanceler de Hindemburgo passou a adotar
soluções drásticas, como o desligamento da Alemanha da Liga das Nações em
1933. Quando foi formado o gabinete de Von Papem, tendo como chefe Adolf
Hitler, o III Reich foi implantado! Hitler passa a se intitular "Führer".
De posse do poder, começa a fechar os partidos políticos, exceto o
Nacional Socialista. Investe também contra os sindicatos, que passam a ser
vigiados pela Gestapo. Inicia a perseguição aos intelectuais, judeus,
religiosos, cientistas, direitistas, socialistas de esquerda, comunistas e
a todas as minorias raciais. A partir de 1936, a Alemanha tornou-se uma
ameaça à paz mundial, passando a desrespeitar compromissos assumidos e a
trair os seus aliados da véspera. Todos estes desmandos passaram a
preocupar os outros países, pois não se poderia prever o caminho que ela
escolheria para atingir seus objetivos. Intensifica-se então o período de
conquistas com a invasão da Polônia a 1°de setembro de 1939. Firmando o
"Pacto de Aço" com Hirohito e Mussolini a 7 de abril de 1939, as tropas
italianas invadem a Albânia, objetivo estratégico que passou a servir de
base ao Eixo Berlim - Roma - Tóquio. Esta união com aliados de tanto valor
veio complicar ainda mais a situação e ampliar a extensão do conflito. A
América do Norte vê o perigo avizinhar-se e, em 1938, durante a
Conferência Internacional de Lima, firma o acordo da Política de Boa
Vizinhança, com todas as nações do continente, inclusive o Brasil. Até
então estavam todos assistindo passivamente as derrotas sofridas pela
França e o desespero da Inglaterra para sua sobrevivência. À medida que na
Europa a situação evoluía, os compromissos assumidos nas Américas
tornavam-se mais sérios. Elas procuravam manter uma posição de
neutralidade de acordo com o espírito de Monroe: "América para os
americanos". De início se mantiveram em posição de defensiva neutralidade,
mas a posteriormente tiveram que reagir. O Pan Americanismo se fortalece
através das conferências de Havana, do Rio de Janeiro e de Buenos Aires,
onde os países signatários assumem o compromisso de que "todo atentado de
Estado não americano contra a integridade ou inviolabilidade do
território, contra a soberania ou independência política de um Estado
americano, será considerado como ato de agressão contra os Estados que
assinam esta Declaração". As vitórias do eixo eram retumbantes e, baseado
nisto, em 1941 o Japão ataca traiçoeiramente os Estados Unidos em Pearl
Harbour, deixando em pânico os povos do continente. Surge então em 1942, a
primeira declaração conjunta dos aliados da América, na qual se
comprometiam a empregar todo o seu potencial contra o eixo. Foram 26 os
signatários, entre eles o Brasil. Entretanto, na realidade o que vimos foi
que só o Brasil cumpriu rigorosamente o compromisso, cedendo de imediato
as bases no nordeste para facilitar as comunicações com a África. O fato
de nos termos engajado a fundo no sistema continental irritou os alemães,
que em contrapartida deram início às represálias, desencadeando uma ação
devastadora sobre nossa Marinha Mercante. A 15 de fevereiro de 1942, foi
atacado o primeiro navio brasileiro e nenhum outro país sul-americano se
manifestou. Pudemos comprovar isso pelo caso do cruzador alemão Graaf
Spee, que abasteceu e fez reparos na Argentina, país simpatizante dos
alemães. A partir daquela data os alemães passaram a torpedear nossos
navios mercantes, num total de 33, além de uma barcaça. Perdemos no mar
975 vidas e mais de 117 000 toneladas, ou seja, cerca de 25% da tonelagem
de arqueação de nossa Marinha Mercante. Enquanto a guerra se desenrolava
na Europa e na África do Norte, pudemos manter uma certa tranqüilidade,
mas com os sucessivos ataques aos nossos navios e a atuação da "quinta
coluna" aqui no Brasil, os brios do povo se alevantaram, tornando-se
impossível manter a população tranqüila. A reação eclodiu de norte a sul
mostrando que os brasileiros, apesar de pacifistas, não são cordeirinhos,
no momento oportuno reagem. O gigante, que estava adormecido, despertou. A
opinião pública reagiu. A juventude foi para as ruas em comícios, exigindo
o revide do Presidente Getúlio Vargas. Nossa soberania havia sido
atingida! O Brasil, país pacifista por natureza, pois a única vez que se
empenhou em uma guerra externa foi contra o Paraguai e apenas em defesa de
seu território, foi arrastado pela conflagração européia não só pelos
vínculos de solidariedade continental, mas também em revide às agressões
diretas e indiretas feitas pelos nazi facistas. Premido pela população e
pelos acordos assinados, Getúlio Vargas se viu obrigado a declarar no dia
22 de agosto de 1942, primeiro, o "Estado de Beligerância", e só em 31 de
agosto de 1942 foi finalmente declarado "Estado de Guerra". A vingança dos
alemães não tardou. Intensificaram os torpedeamentos. O submarino italiano
Leonardo Da Vinci matou muitos brasileiros e foi na realidade o primeiro a
atacar um navio nosso, seguido de um verdadeiro enxame de submarinos
alemães, U-432, U-94, U-162, U-502, U-156, U-203, U-66, U-155 (este
afundou dois navios) e U-507 que foi o maior assassino de brasileiros. Sob
o comando de Harro Schacht, este submarino pôs a pique 5 navios e 1
barcaça, mas foi posto a pique por um de nossos aviões da base de Aratu.
Continuando o desfile de submarinos em nossa costa, tivemos também o U-514
e o U-170 que afundaram 2 navios nossos, os U-516, U-163, U-518, U-513,
U-590, U-185 e U-161 afundaram um navio brasileiro cada, e o Barbarigo, de
nacionalidade italiana, esteve aqui três vezes, sendo que nas duas
primeiras afundou um navio brasileiro de cada vez e ao retornar pela
terceira vez foi atingido. O Archimedes, outro submarino italiano, esteve
aqui e foi afundado pela nossa aviação, próximo ao Atol das Rocas.
Encontram-se no fundo do mar, bombardeados por nossa aviação, os seguintes
submarinos: U-164, U-507, Archimedes, U-128, (recentemente encontrado a 10
milhas da costa de Lagoa Azeda-Alagoas) U-590, U-513, U-662, U-598, U-591,
U-199, U-161, U-604. Embora sem soçobrarem, foram também atingidos o
Barbarigo, italiano, e nos dias 26 de agosto de 1942, 05 de abril de 1943
e 08 de maio de 1943 outros submarinos cujos números não possuímos. Toda a
nação brasileira empenhou-se na guerra de uma forma ou de outra. A
interrupção do tráfego naval e a carência quase total de rodovias que
ligassem o norte ao sul fizeram com que os produtos de primeira
necessidade fossem racionados. A falta de gasolina fez com que fossem
engendradas novas alternativas, como o gasogênio e o álcool, mas mesmo
assim os transportes eram escassos. A dificuldade em conseguir açúcar e
farinha de trigo criou as filas, que até hoje proliferam para qualquer
coisa. Toda a população brasileira, de uma forma ou de outra, deu a sua
contribuição para o esforço de guerra e pagou o seu tributo. A
participação efetiva em ato de guerra, entretanto, esteve a cargo das três
Forças Armadas e da Marinha Mercante, que apesar de todos os reveses,
continuou no tráfego para o abastecimento, algumas vezes comboiada e
outras não, enfrentando os perigos sozinha. Nossa Marinha de Guerra era
insuficiente para a vastidão de nossas costas. Em 1° de janeiro de 1939,
possuíamos apenas: 2 Encouraçados, 2 Cruzadores, 6 Contratorpedeiros, 2
Contratorpedeiros já descomissionados, 1 Tender de contratorpedeiro sem
valor militar, 4 Submarinos, 1 Tender de submarinos, 1 Navio-Escola, 4
Navios na flotilha de Mato Grosso, 2 Navios na flotilha do Amazonas, 3
Navios-mineiros antigos e adaptados, 4 Navios hidrográficos, 4
Navios-tanque , 2 Navios auxiliares que eram ex-mercantes e vários
rebocadores. Era somente esta a disponibilidade do Brasil para a defesa de
7 408 quilômetros de costa. Com a efetiva entrada do país na guerra a
partir de 31 de agosto de 1942, foram feitos os aprisionamentos de navios
inimigos imobilizados nos nossos portos e, através da lei de "lend-lease",
a nossa Marinha passou a ser reequipada. Foram criados os seguintes
Comandos Navais: "Eu estava
lá" |
Cruzador Bahia, antes da explosão
Foto escaneada do
livro "Eu estava lá"
Elza Cansanção Medeiros
Getúlio Vargas, simpatizante do Eixo, não desejava que o Brasil entrasse na guerra ao lado das Democracias. Mas, o povo brasileiro, sobretudo após o afundamento de navios, com o trucidamento de brasileiros, apesar da ditadura do "estado novo", sob a liderança de defensores dos valores democráticos, saiu às ruas, em todo o País, pedindo a declaração de guerra ao nazi nipo fascismo. A mocidade tomou parte ativa naquela batalha admirável. Em Fortaleza, o movimento crescia, dia a dia. Comícios se sucediam na velha e querida Praça do Ferreira e em bairros afastados. Foi o período das denominadas Pirâmides. Era a convocação de todos para fornecerem tudo o que servisse para a indústria de guerra. Tudo isso ocorreu no início da década de quarenta, pois a guerra, como se sabe, iniciou-se em 1939. Em 1942, nossa geração foi convocada para o serviço ativo das Forças Armadas. Os moços que participavam de comícios e passeatas, exigindo a declaração de guerra ao Eixo, foram chamados aos quartéis. A vida de caserna, bem, recordam os convocados, como o cabo Stênio, era dura. A disciplina militar era rigorosa. Na verdade, era melhor discursar nas praças e gritar nas passeatas, que fazer instrução, praticar ordem unida e levar a efeito a terrível maneabilidade... A fuga foi grande. As facilidades surgiram, com os adiamentos de incorporação, além de problemas de saúde. Até que surgiu um aviso do Ministro da Guerra, permitindo o adiamento da incorporação daquele que provasse ser pai, mesmo de filhos espúrios. Não foi pequeno o número de "pais solteiros" que obtiveram a sonhada dispensa da convocação. Na mesma época, foi instalado, em Fortaleza, o N.P.O.R. (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva), no qual ingressaram convocados que freqüentavam escolas superiores ou que tinham o curso secundário completo. Estes, também, deixaram as fileiras. Aquela convocação se destinava ao preparo de tropa para ser mandada ao território italiano, a fim de ser incorporada às fileiras da Força Expedicionária Brasileira, que integraria o Teatro de Operações do Mediterrâneo. As dispensas noticiadas ocorreram em todo o Brasil, e não apenas no nosso Ceará. Daí a FEB, de modo geral, somente contar com integrantes que se originavam das camadas mais humildes da sociedade. Em São Paulo, Getúlio Vargas teria mandado convocar grupo de moços pertencentes à classe alta, porque os escolhidos combatiam com firmeza (os paulistas, como sabido, nunca engoliram o ditador dos pampas), o "estado novo". Do Rio Grande do Sul, recordo, foi convocado um filho do Oswaldo Aranha, que caíra das graças do seu conterrâneo, a quem servira, desde 1930. Bem recordo, e com muita nitidez, que os convocados apresentaram-se, nos dois quartéis de Fortaleza (23° e 29° Batalhão de Caçadores), no dia 18 de agosto de 1942. Relembro, bem, essa data, pois nela ocorreu o "quebra-quebra", em Fortaleza. O povo, revoltado com o afundamento, no dia anterior, de navio brasileiro, que conduzia uma unidade de Artilharia, no qual morreram muitos cearenses, saiu às ruas, destruindo todos os estabelecimentos comerciais pertencentes às pessoas que, no seu entender, por sua origem racial, eram ligadas ao Eixo. Nós, os convocados, ficamos o dia inteiro nos quartéis, nada assistindo, o que lamentamos. Noticiou-se que o interventor, Prof. Francisco de Menezes Pimentel e a maioria dos seus secretários abandonaram a cidade deixando-a entregue ao furor popular. Não passou muito tempo, o ditador declarou guerra aos integrantes do Eixo. Todos os convocados que permaneceram nas fileiras foram submetidos a instrução rigorosa, certos, todos, de que iriam; mais cedo ou mais tarde, para a Itália. Em outubro de 1944, houve a dispensa de grande número de convocados. Saí do serviço ativo, nessa oportunidade. Recordo, muito bem, a data da minha saída: dia 26 de outubro do ano citado. Mas, o prazer demorou pouco tempo. Nos primeiros dias de dezembro do mesmo ano, ou seja, de 1944, fomos reconvocados. Na ordem de convocação era declarado: "os chamados deverão apresentar-se em três dias, sob pena de serem capturados como desertores"! Sinceramente, não ouvi falar em deserções. Todos se apresentaram nos locais indicados, na respectiva convocação. Aí, teve início a inspeção de saúde. Exames rigorosíssimos. Vieram, inclusive, oficiais-médicos do Rio de Janeiro. Após a inspeção de saúde, ficamos aguardando o dia do embarque para o Rio de Janeiro, de onde seguiríamos para a Itália, como, realmente, ocorreu. É preciso que se esclareça que as unidades militares do Ceará, Piauí e Estados do Norte integraram o terceiro escalão, ou seja, o último. Eu pertencia, então, ao contingente do Quartel-General da 10ª Região Militar. O embarque, pelo que se ouvia dizer, no meio dos soldados, ocorreria a qualquer dia, e à noite. De tal sorte, que fiquei, diariamente, juntamente com os outros companheiros dali, no Quartel-General da 10ª Região, prontos para o embarque. Até que chegou o dia "D"... No dia 24 de dezembro de 1944, no começo da noite, os pracinhas de Fortaleza embarcaram no navio "Itapé". Recordo, bem, que no dia 25, à noite, chegamos no porto do Recife. Naquela cidade, deveríamos aguardar, por três dias a vinda de dois navios que traziam as tropas do Norte (Maranhão, Pará e Amazônia). Em Recife, algo aconteceu que não posso deixar de narrar, nesta pequena nota. Um companheiro de Recife integrava a tropa transportada. Ele servia em Fortaleza e ia, como foi, para a FEB. Esse companheiro, cujo nome era Ivan Conde Ferreira, tinha autorização expressa do Comandante da 10ª Região Militar, para desembarcar no Recife, afim de visitar seus familiares. Pelo que se sabia, os demais viajantes deveriam permanecer no navio, sem o abandonarem um só momento. No dia 26, assim que o navio encostou no porto do Recife, eu me encontrava com alguns companheiros olhando a paisagem, quando chegou um major, cheio de alamares. Apresentei-me, e ele determinou que eu o levasse à presença do comandante da tropa transportada. O Major ingressou na cabine que servia de posto de comando, apresentando-se, como era de seu dever. Fiquei à porta ouvindo a conversa, com grande atenção. O Major, então, afirmou: "Senhor Coronel, o Ex. Sr. General da 7ª Região Militar determina a esse comando que nenhum soldado da tropa transportada deverá descer do navio, pois S. Exa. teme alguma arruaça". O comandante da tropa transportada, que era o Tenente-Coronel Florêncio José Carneiro Monteiro, que comandava o 23º Batalhão de Caçadores, sem pestanejar, disse: "Major, comunique ao seu comandante, que não sou subordinado de S. Exa. não estando sujeito às suas ordens. Pertenço à tropa da 10ª Região Militar, a cujo comando estou subordinado. Como comandante da tropa transportada, darei as ordens que me parecerem pertinente, assumindo, por elas, como chefe que sou, as respectivas responsabilidades. Acrescente, ainda, que não comando tropa indisciplinada. Estamos conversados. Pode retirar-se". O Major saiu rapidamente do navio e foi embora. O comandante mandou-me chamar o corneteiro. Mandou tocar comandantes de destacamentos. E, quando todos chegaram, determinou que autorizassem seus subordinados a deixarem o navio, devendo regressar, nas horas do rancho, os que não fizessem refeição fora, e obrigatoriamente até as 22:00 horas. E, assim, ficamos três dias na bela cidade do Recife. Somente íamos ao navio para comer (aqueles que não tinham dinheiro para o restaurante) e para dormir. Do Recife, após a chegada dos outros dois navios, devidamente protegidos por um comboio, para a defesa contra os submarinos, seguimos viagem, chegando no Rio de Janeiro, no dia 02 de janeiro de 1945. Raimundo
Pascoal Barbosa |
Cruzador Bahia da
Marinha de Guerra do Brasil, que explodiu quando
regressava de um comboio,
logo após ter terminado a guerra.
Foto escaneada do livro "Eu estava
lá"
Elza Cansanção Medeiros
O
Quebra-Quebra No Tempo do
Black-Out Em Tempo
de Guerra Vanius Meton
Gadelha Vieira |
Um Herói nunca morre!
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