FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA |
Estudantes brasileiros satirizam o regime nazista em peça
teatral
Foto do site da FGV - CPDOC: www.cpdoc.fgv.br
Muralha Anti-Semita Inspiradas
em idéias racistas, autoridades do Estado Novo impediram a entrada de
refugiados judeus no Brasil Maria Luiza
Tucci Carneiro é professora do Departamento de História da Universidade de
São Paulo e autora dos livros O Anti-semitismo na Era Vargas, 3ª ed.,
Perpectiva, 2001, e O Veneno da Serpente, Perspectiva,
2003. |
Movimento
anti-getulista
Foto do site da FGV - CPDOC: www.cpdoc.fgv.br
Perigo Amarelo Apontados
como “súditos do Eixo”, suicidas e fanáticos, imigrantes japoneses foram
perseguidos pelo governo brasileiro Já pesaram sobre os japoneses, no Brasil e em boa parte do mundo, os mesmos preconceitos que estigmatizam hoje o povo árabe, sobretudo após os atentados de 11 de setembro de 2001. Desde os primórdios do século XX, os japoneses eram considerados os “terroristas, fanáticos e suicidas” que pretendiam desencadear um confronto sanguinário a fim de abrir passagem para suas mercadorias baratas e consolidar sua hegemonia na Ásia, e por ocasião da Segunda Guerra Mundial, tornaram-se o “perigo amarelo”. Mas no Brasil, já em seu início, em 1908, a história da imigração japonesa sempre foi cercada de ambigüidades. Se para os setores ligados à agricultura paulista os imigrantes nipônicos eram considerados os braços que poderiam incrementar as lavouras depois do decréscimo das levas imigratórias européias, para outros segmentos da sociedade, interessados na “melhoria da raça brasileira”, não passavam de uma raça feia e inferior, que em nada poderia contribuir para a “formação nacional”. Juntamente com outras minorias, os japoneses ocuparam o centro do debate étnico do Estado Novo – o governo ditatorial instaurado por Getulio Vargas (1937-1945). As teorias de depuração da raça influenciaram fortemente a discussão acerca de quem seriam os “povos indesejáveis” para o Brasil dentro da política imigratória. Assim, o discurso – embasado em teorias “científicas” – que associava japoneses a degenerescência racial, taras, distúrbios psíquicos, terrorismo e ameaça à soberania nacional transformou-os em “elementos indesejáveis”. Mas foi por ocasião da Segunda Guerra Mundial que cresceu o sentimento antinipônico. Logo após o ataque da Marinha japonesa à base americana de Pearl Harbor, em dezembro de 1941, milhares de imigrantes japoneses e seus descendentes passaram a ser tratados como inimigos de guerra nos Estados Unidos, o que deu início uma série de ações repressivas. O Departamento de Justiça norte-americano calcula que, na Costa Leste dos Estados Unidos e no Havaí, mais de 120 mil cidadãos de origem japonesa foram enviados para campos de internamento. Na América Latina, milhares de imigrantes japoneses e seus descendentes também foram retirados de suas casas e internados nos campos norte-americanos. O “perigo amarelo” também freqüentou o imaginário popular no Brasil. A acusação de ser um “quinta-coluna” – ou seja, um agente ou colaborador de um suposto plano de invasão japonesa – afetou nipônicos e seus descendentes de várias maneiras. Em São Paulo, atribuía-se comumente aos japoneses a culpa de todas as privações que a guerra impunha aos brasileiros, até mesmo o racionamento de alimentos. Segundo alguns jornais, os japoneses eram “vampiros do solo”, praticantes de uma “agricultura predatória”, sendo eles os principais responsáveis pela escassez de gêneros de primeira necessidade de que sofria a população. Combinada a outros ingredientes, esta onda de histeria coletiva criada em torno de um perigo iminente acabou por fazer com que muitos imigrantes fossem expulsos da orla marítima brasileira. Essas transferências compulsórias ficaram conhecidas como “evacuações”. No litoral paranaense, imigrantes alemães, italianos e japoneses, chamados de “súditos do Eixo”, foram obrigados, em 25 de setembro de 1942, a desocupar todas as áreas até 60 quilômetros da costa em menos de 24 horas, sob acusação de espionagem e sabotagem. No litoral paulista, consta que cerca de 10 mil imigrantes, dos quais quase nove mil eram japoneses e os demais alemães e italianos, residentes na Baixada Santista, foram retirados de suas propriedades em 8 de julho de 1943. Muitos imigrantes japoneses retirados do litoral paranaense foram internados em campos de trabalho e, com o término da guerra, abandonados à própria sorte, na mais absoluta miséria. Rosangela
Kimura fez mestrado em História na Universidade Estadual de Maringá com a
dissertação “Políticas Restritivas aos Japoneses no Estado do Paraná:
1930-1950 (de cores proibidas ao perigo amarelo)”, e integra o Grupo de
Estudos sobre os Movimentos Autoritários do Século XX, da UEM. |
Manifestação contra o fascismo em 1942, em frente à
Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro.
Foto do site da FGV - CPDOC: www.cpdoc.fgv.br
Fascismo à Brasileira Integralistas da AIB podiam admirar Mussolini e Hitler,
mas nem todos comungavam inteiramente com as idéias nazistas, como a que
pregava a “pureza racial” Nos anos 1920/30, com a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha, movimentos congêneres surgiram em várias partes do mundo. No Brasil, o escritor Plínio Salgado criou a Ação Integralista Brasileira (AIB), que apresentava semelhanças com o fascismo europeu. Tinha organização militarizada e seus adeptos usavam uniforme com camisa verde e uma braçadeira com a letra grega sigma, ao estilo da suástica nazista. A AIB conservava, no entanto, algumas diferenças em relação ao nazismo. Num país de mestiços, não insistia, por exemplo, na pureza racial, o que não impediu que o segundo homem na cúpula do partido depois de Salgado, Gustavo Barroso, fosse um fervoroso anti-semita. Os próprios integralistas diziam ter um milhão de adeptos, achando-se o maior número de filiados em São Paulo, seguido de Bahia e Santa Catarina. Mesmo que não se saiba quem eram os integralistas de São Paulo, e mesmo que os da Bahia provavelmente não fossem de origem alemã ou italiana, não há dúvida de que em Santa Catarina o integralismo era claramente mais forte nas regiões de colonização alemã e italiana. As eleições municipais de março de 1936 provaram que a maioria dos que votaram na Ação Integralista Brasileira se concentrava no vale do Rio Itajaí, tendo escolhido oito prefeitos e 72 vereadores integralistas na região. Também no Rio Grande do Sul, os maiores percentuais de integralistas estavam em municípios típicos de colonização alemã e italiana, mesmo que em número menor. Das escassas quatro cadeiras conquistadas em câmaras municipais nas eleições de novembro de 1935, três foram em Caxias do Sul e uma em Novo Hamburgo, cidades de colonização italiana e alemã, respectivamente. Para o público da época, e para muita gente até hoje, esse fato não requeria explicação, pois, sobretudo no que tange a alemães e descendentes, estava muito difundido o mito de que não se tinham integrado à nossa realidade e, mesmo sendo cidadãos brasileiros, nenhum deles tinha qualquer interesse pelo país. Ouvia-se dizer que quando falavam em “pátria”, eles se referiam à Alemanha. Comentava-se que conheciam o nome de todas as autoridades alemãs, mas que não teriam a menor idéia de quem fosse o presidente do Brasil e muito menos quem eram seus ministros ou quem fosse o governador de seu estado. Teriam formado “quistos étnicos”, à margem da sociedade e do Estado brasileiros. Com isso, teriam sido integralmente assimilados pelo nazismo. Com o apoio entusiástico desses leais “cidadãos no exterior”, a Alemanha teria tramado a divisão do Brasil. E os integralistas teriam se associado a esse projeto imperialista da Alemanha. No livro O punhal nazista no coração do Brasil, publicado por autoridades policiais de Santa Catarina em 1943, lê-se: “Do estudo da documentação apresentada, é de concluir: nazismo e integralismo são unos”. Parece lógico. Além disso, há indícios de que é verdade. Em Santa Catarina, um jornal em língua alemã (a Blumenauer Zeitung) fez propaganda para o integralismo e o nazismo; o livro das autoridades policiais catarinenses traz uma foto com sedes embandeiradas de diretórios integralista e nazista no mesmo prédio. No Rio Grande do Sul, o almanaque Der Heimatbote [O mensageiro da Pátria], de Santa Cruz do Sul, fez propaganda para ambos. No entanto, quem lê com atenção aquilo que se escreveu sobre esse tema acaba detectando problemas sempre que se tenta generalizar a lógica da identidade absoluta dos dois movimentos. Num outro livro da época, The nazi octopus in South America [O polvo nazista na América do Sul] (1943), do uruguaio Hugo Fernández Artucio, é dito que a “arrogância das autoridades alemãs em Santa Catarina [evidentemente, consideradas nazistas] ia a ponto de tentar proibir que a Ação Integralista Brasileira se organizasse naquele estado”. Passagens deste tipo têm sido utilizadas de forma totalmente acrítica por autores contemporâneos. É notório que o integralismo teve uma expansão muito significativa no estado, fato que mostraria “uma dicotomia entre a cúpula dirigente germânica e os membros da colônia”. Diante de constatações desse tipo, o pesquisador é obrigado a perguntar se a Alemanha efetivamente tinha controle absoluto sobre alemães e descendentes, como prega a tese do “perigo alemão”, difundida no Brasil desde, pelo menos, 1870, pois se as “autoridades alemãs” tentaram agir contra o integralismo em Santa Catarina e mesmo assim ele floresceu, a propalada manipulação absoluta da população por parte dessas “autoridades alemãs” não existia. Mesmo tentativas mais sofisticadas, que recorrem a traços culturais, também não vão longe antes de caírem em contradição. No seu livro Nacionalismo e identidade étnica, a antropóloga Giralda Seyferth afirma: “É muito difícil pensar em centenas de pessoas identificadas com um nacionalismo essencialmente antibrasileiro [germanismo/nazismo], filiadas a um partido nacionalista brasileiro [integralismo]”. Na verdade, só se consegue entender o que houve nas regiões de colonização alemã do sul do Brasil naquela época, quando se descartam alguns mitos. É evidente que uma narrativa com espetaculares trombadas entre superespiões rivais, em meio a uma população exótica e alienada, com suspeitíssimos mapas contendo diabólicos planos de dilaceração do Brasil desenrolando-se pelo chão, é muito mais empolgante do que uma história em que não aparecem evidências da estocagem de milhares de mortíferas armas marcadas com o sigma e a suástica; ou uma história que não consegue confirmar que cidadãos brasileiros loiros escalavam as escarpas do litoral na calada da noite para, com lamparininhas de querosene, guiar submarinos nazistas ao destino certeiro para garrotear o Brasil. Isso não significa que não tenha havido intensa espionagem nazista no Brasil. Ela está descrita no livro A guerra secreta de Hitler no Brasil, do historiador Stanley Hilton. Fato, porém, é que a população de origem alemã do sul do Brasil não teve nada a ver com isso. Um dos espiões citados nesse livro se hospedou num hotel do Rio de Janeiro dizendo que era “catarina”, mas era espião profissional, vindo de fora. O que está mais próximo da verdade histórica? Primeiro, a alienação política da população de origem alemã do sul do Brasil, um pressuposto das versões “fascinantes” dessa história, é uma lenda. No Rio Grande do Sul, o controle dos governadores Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros sobre as regiões de colonização alemã e italiana, com prefeitos e vereadores impostos, pode ter dado a impressão de desinteresse e alienação. Mas logo que o poder quase absoluto de Borges foi quebrado pelo Pacto de Pedras Altas, que pôs fim à revolução de 1923, isso mudou. O acordo proibiu Borges e os prefeitos de serem reeleitos, além de conceder anistia geral aos revoltosos, o que permitiu que nas “colônias” se instituíssem práticas republicanas, como “prévias eleitorais”. Isto propiciou uma intensa mobilização política nos municípios coloniais. Se nas eleições municipais de 1928 em Porto Alegre, por exemplo, compareceram míseros 4% da população, em muitos desses municípios perto de 40% da população votou. É a partir de dados assim que se pode entender por que cerca de 20% dos eleitores de Novo Hamburgo, uma das “colônias alemãs” mais típicas do Rio Grande do Sul, tenham votado no integralismo nas eleições municipais de 1935. Esses dados mostram que é a situação política local que explica o relativo sucesso do integralismo nesse município, e não uma ordem de Hitler, transmitida em código pela Rádio de Berlim. Em Santa Catarina, o sucesso da AIB se explica de forma muito racional, e sem qualquer mistério, pela tradicional rivalidade entre as famílias Ramos e Konder, e a influência desta última no vale do Itajaí. Os Konder dominavam a política catarinense pelo menos desde 1914. Na Revolução de 1930, apostaram no candidato do governo, Júlio Prestes, e os Ramos, em Getulio Vargas. Com a vitória, os Ramos começaram a desforra contra os Konder, que se manifestou numa brutal perseguição a toda a população, com cenas de guerra civil desde o primeiro dia. Assim, as duas famílias acabaram perdendo seu eleitorado, abrindo espaço para os candidatos integralistas. Também ali, não foi uma ordem de Berlim que levou os eleitores a votar nos “camisas-verdes”. É a relação nazismo e integralismo? Mais uma vez, é preciso deletar mitos. Apesar de eventuais exceções, nem a diplomacia alemã nem as principais instâncias do Partido Nazista apostaram cegamente no integralismo. Alguns integralistas, por sua vez, destacavam que nada tinham a ver com o nazismo. Segundo o professor Luís Edmundo de Souza Moraes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o número de nazistas em todo o Brasil não chegava a três mil. Cerca de 500 estavam registrados no Rio Grande do Sul, e mais ou menos o mesmo número em Santa Catarina. Com muita freqüência, brigavam com as lideranças tradicionais das “colônias” e, nesses casos, se aliavam, por vingança, aos integralistas, que tinham um discurso nacionalista. Isso explica o fato de que um mesmo jornal fizesse propaganda integralista e nazista. Há mais uma questão: o mito da total homogeneidade político-cultural das regiões de colonização alemã leva à conclusão de que nazistas e integralistas eram “tudo a mesma coisa”, só porque tinham sobrenomes alemães. Essa visão levou a alguns absurdos. Depois da implantação da ditadura de Vargas, em 1937, o prefeito “integralista” de Blumenau, por exemplo, foi ruidosamente derrubado, e em seu lugar colocou-se o vereador “integralista” mais votado do município. A diferença entre ambos foi que o primeiro se chamava Alberto Stein, o segundo José Ferreira da Silva. René E.
Gertz é professor dos Departamentos de História da PUC-RS e da UFRGS e
autor de O fascismo no sul do Brasil. Porto Alegre: Mercado Aberto,
1987. |
Declaração de
Guerra
Foto do site da FGV - CPDOC: www.cpdoc.fgv.br
A POLÍTICA PRÓ-NAZISTA NO BRASIL E A LUTA NOS BASTIDORES O Brasil dos anos
30 ainda era uma nação agrícola. A maior parcela da população vivia no
campo e, politicamente, ressentia-se das revoluções e pronunciamentos
militares da década de 20. Os anos 30 iniciaram-se com a Revolução que
colocou Getúlio Vargas na Chefia do Governo. Durante seu mandato, ele
procurou amoldar a situação política, disposto a apoiar a indústria para
tornar o Brasil um país desenvolvido. Imersos em seus problemas internos,
o Governo e a opinião pública davam pouca atenção aos acontecimentos que
se desenrolavam na Europa. A ascensão do nazismo e a quebra dos
compromissos do Tratado de Versalhes começavam a preocupar alguns membros
do Governo; era evidente que a face da Europa mudava rapidamente e uma
nova guerra se aproximava. O Governo nazista espantava o mundo com o
rápido e grandioso ressurgimento da Alemanha que, dos escombros da I
Grande Guerra, manietada pelo Tratado de Versalhes, rompeu os grilhões,
transformando-se numa potência de primeira linha, sob a chefia de Adolf
Hitler. A política expansionista da Alemanha, graças à complacência dos
demais países europeus, estendia-se muito além de suas fronteiras,
procurando incentivar as minorias raciais alemãs em outros países a agirem
em defesa dos interesses do III Reich, mesmo que isso fosse contrariar
interesses da nação que os abrigava. No Brasil, os estados do Sul,
notadamente Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tinham colônias de
imigrantes da primeira e segunda gerações que passaram a sofrer pressão
política emanada de Berlim, na tentativa de criar, através dessa minoria,
algo semelhante ao que existia na região dos Sudetos, na Tchecoslováquia -
essa circunstância serviu, posteriormente, de pretexto para anexação deste
país à Alemanha. O noticiário da agência alemã Transozean, dirigida pelo
notório Dr. Goebbels, exercia forte influência sobre essas minorias
raciais. Por ordem direta do Marechal Goering, foram organizadas, em todo
distrito brasileiro que abrigasse número suficiente de súditos alemães,
unidades de combate filiadas às S.A. (Sturmabteilung). Essas unidades
paramilitares estavam bem camufladas em clubes recreativos, esportivos, e
sempre que possível, compareciam às festas cívicas, com o objetivo de
conquistar novos simpatizantes. Em 1938, o Governo brasileiro estava
atento ao problema, tanto que os estados sulinos começaram a tomar algumas
medidas. Como interventor do Rio Grande do Sul, o General Cordeiro de
Farias procurou, por todos os meios, tolher as influências dessas
atividades políticas alienígenas, combatendo no terreno da política o
mesmo nazismo com que, anos depois, como comandante de artilharia da FEB,
se defrontaria nos campos de batalha da Europa. O Embaixador alemão no
Brasil, Ritter, exercia atividades além dos limites permitidos a
diplomatas, obrigando o Governo brasileiro a negociar sua retirada, por
considerá-lo "persona non grata". Em carta enviada a um diplomata
brasileiro sediado em Roma, o Chanceler Oswaldo Aranha determinou que ele
procurasse o Conde Ciano, Ministro das Relações Exteriores da Itália
fascista, e solicitasse seus bons ofícios para conseguir um entendimento,
afim de amenizar a crise criada entre Alemanha e Brasil pela retirada do
Embaixador Ritter, a pedido do Governo brasileiro. Para ressaltar a
gravidade desses problemas, convém reproduzir um trecho do documento
assinado por Oswaldo Aranha, no qual se pode aquilatar a política adotada
junto às colônias alemãs pelo Governo nazista: "Os novos alemães, porém,
mandados pelo Governo alemão, querem mudar essa situação. Resolveram
organizar aqui seu partido, não para alimentar a tradição e a fidelidade
raciais, que nós compreendemos e até facilitávamos, mas para obrigar e
compelir os velhos alemães a obedecerem ao credo nazi, sob pena de
martirizarem na Alemanha os seus parentes e tomarem os bens dos que não
quiseram vender. Isso não é possível. Temos de protegê-los custe o que
custar. Não impediremos ninguém de voltar à Alemanha, mas os que
preferirem ficar terão a proteção do Brasil e a continental. Não queremos
minorias, nem formadas por nós, nem pela Alemanha; todos são e continuarão
a ser brasileiros. Não temos a menor queixa da gente alemã do Brasil, mas
unicamente desse que quer vir, dentro de nossas fronteiras, tão abertas
para entrar quanto para sair, impor normas e regras que não são nossas e
com objetivos contrários a nós." Assim, antes mesmo da conflagração
européia, e bem antes de o Brasil ingressar no conflito, homens do
Governo, pessoas esclarecidas como Oswaldo Aranha, já defendiam nossa
soberania contra o imperialismo nazista. Os alemães já faziam o Brasil
figurar em mapas, como o existente em Leipzig, do lnstitut für
Auslandskunde, Grenz und Auslanddeutsch, que exibia um mapa da América do
Sul como um demonstrativo das minorias teutas. Por ele se podia verificar
o número de cidades gaúchas com maioria alemã: Novo Hamburgo, São Leopoldo
e Marcelino Ramos, entre outras. Já não se tratava do perigo das minorias
alemãs: em muitas localidades, a minoria era de brasileiros. Essa política
não passou despercebida aos Estados Unidos que procuravam atrair o Governo
brasileiro, visando a possível extensão do conflito, àquela altura bem
delineado na Europa. As autoridades americanas tinham consciência de que a
guerra total, como estava sendo planejada pelos nazistas, não permitiria o
status da neutralidade outrora respeitado. A participação no conflito era
uma questão geográfico-estratégica, não importando o estrito cumprimento
das regras e convenções por parte do país neutro; a estratégia militar
predominava sobre qualquer outra consideração e, na Europa, a invasão da
Noruega, Dinamarca, Holanda e Bélgica comprovaria esse novo conceito de
guerra total. O chefe do Estado-Maior do Exército brasileiro, General Góis
Monteiro, convidou o General Marshall a visitar o Brasil e ele desembarcou
do navio Nashville, no Rio de Janeiro, em 25 de maio de 1939. O General
visitou vários estados brasileiros, sobretudo no Sul, onde foi recebido
pelo General Leitão de Carvalho, comandante da 3ª Região Militar. De
acordo com o interventor do Estado do Rio Grande do Sul, General Cordeiro
de Farias, a grandiosa recepção chegou a comover o militar americano, que
pôde avaliar pessoalmente a situação de nossas Forças Armadas. Atendendo a
convite, o General Góis Monteiro seguiu junto com o General Marshall na
volta deste aos Estados Unidos, criando-se condições para que as duas
autoridades militares estabelecessem conversações. A iniciativa tinha o
objetivo de anular em parte o convite feito (e aceito) pelo Governo alemão
para que o General Góis Monteiro visitasse a Alemanha nazista. Na
correspondência que enviou ao Presidente Vargas, o General Góis Monteiro
manifestou a admiração que passou a ter pelos Estados Unidos, enfatizando
que sua viagem à Europa (Alemanha) tornava-se agora muito importante, para
colher ensinamentos na área profissional. O General Góis Monteiro disse
também que havia conversado sobre o assunto com o General Marshall,
comprometendo-se a remeter um relatório ao militar americano, afim de
contar o que veria na Europa. Os militares sul-americanos, em geral,
admiravam a técnica e a bem montada organização militar alemã. Era uma
admiração baseada no aspecto puramente profissional, e nunca no
ideológico. Admitia-se a superioridade das forças militares nazistas e se
acreditava numa vitória final alemã na Europa. Essa crença, ou convicção
nos meios castrenses, era um obstáculo à aproximação política com as
potências ocidentais, fato que sempre foi bem explorado pela
quinta-coluna. Os americanos não escondiam a preocupação com a defesa das
áreas Norte e Nordeste, porque, se caíssem nas mãos inimigas, o poder
naval dos Estados Unidos estaria ameaçado. Eles sabiam que o Canal do
Panamá era vulnerável a ataques aéreos que partissem daquela região. Com o
recrudescimento da política expansionista dos nazistas na Europa,
tornou-se intensa a troca de mensagens e de visitas entre membros dos
Governos brasileiro e norte-americano. Nessa mesma época Oswaldo Aranha
partiu em missão aos Estados Unidos, onde foi recebido em audiência pelo
Presidente Roosevelt. O Chanceler brasileiro, aliás, previa a
inevitabilidade da guerra, tanto que alertou o Presidente Vargas para a
necessidade imperiosa de preparar o Brasil para enfrentar a crise
internacional, aconselhando a adoção de medidas preparatórias, entre as
quais a arregimentação da opinião pública. Como veremos adiante, esse
prudente conselho não foi seguido à risca: a opinião pública brasileira
não foi arregimentada para a guerra e tampouco para a paz, como se
verificará quando for tratada a desmobilização da FEB. A propaganda
nazista no Brasil era orquestrada. No Rio de Janeiro, então capital do
País, dois jornais (um matutino tradicional, Gazeta de Notícias, que já
circulava no século passado, e um vespertino, moderno, denominado
Meio-Dia) veiculavam toda a propaganda a favor da Alemanha. Eram
abastecidos pelas agências alemãs e italianas de notícias, e recebiam das
respectivas embaixadas material de propaganda e apoio. Dessa forma, mesmo
sem ampla circulação, tinham bastante influência. A propaganda era bem
feita e bem dirigida, mostrando o lado construtivo, as realizações da nova
ordem alemã. O lado sombrio, os campos de concentração, a cruel
perseguição aos judeus, a Gestapo, nada disso era mencionado. O que se
veiculava, além das vitórias nazistas, era o tema de apoio ao trabalhador,
denominado "Força e Alegria", as realizações culturais, as grandes obras
de engenharia, o ressurgimento econômico. Apesar do volume de publicidade
nunca visto antes - o Dr. Goebbels foi um pioneiro da propaganda para
massas -, o povo brasileiro, porém, não se deixava iludir, o que levou
Oswaldo Aranha a dizer com propriedade e acerto que 90% da população eram
a favor da democracia ocidental e contra o nazismo. |
No sul do Brasil, grupos de colônias alemãs mostravam abertamente
seu apoio ao regime de Hitler.
Foto escaneada do livro "Os Brasileiros e a
Segunda Guerra Mundial"
Francisco César Ferraz
Um Herói nunca morre!
Um Herói nunca morre!
Simples História de um Homem
Simples
As Origens
| Home | Contato | Cantinho Infantil |
Cantinho Musical |
Imagens da Maux |
l
Recanto da Maux |
Desenterrando Versos | História e Genealogia l
l
Um Herói nunca morre l
Piquete - Cidade Paisagem l
MAUX HOME PAGE- designed by Maux
2003 Maux Home Page.
Todos os direitos reservados. All rights reserved.