FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA |
Cemitério de Pistóia -
1945
O RETORNO DOS MORTOS
|
Enterro de um soldado brasileiro, no
Cemitério de Pistóia, precedido pelos nossos capelães.
Foto escaneada do
livro "Eu estava lá!" de Elza Cansanção.
O repatriamento dos mortos da FEB sempre foi uma preocupação na vida do Marechal Mascarenhas, como relatou em suas memórias: "Minha obra de Comandante da FEB ficaria incompleta se não trasladasse para o Brasil os despojos dos que tombaram na campanha da Itália. Eu os levei para o sacrifício, cabia a mim trazê-los de volta para receberem as honras e a glória de todos os brasileiros." (Memórias, p. 585.) Foi uma tarefa ingente; havia uma série de obstáculos, inclusive a idéia de sepultá-los em seus Estados de origem, além de haver em Pistóia uma surda e natural resistência a essa mudança. O cemitério militar em Pistóia, muito bem cuidado, se transformou num ponto obrigatório de turistas brasileiros e mesmo de estrangeiros que passavam pela Itália. Zelava por esse cemitério um antigo febiano, que se radicou na Itália e recebeu esse encargo do governo. Quando o governo brasileiro decidiu trasladar os corpos, resolveu também construir em Pistóia um belo monumento que perpetuasse o cemitério militar e fosse uma manifestação de agradecimento à "Comuna" de Pistóia que, durante todos esses anos, guardou com tanto carinho e veneração os corpos dos que tombaram na campanha da Itália. Por decreto assinado em 10 de outubro de 1952, foi criada a Comissão de Repatriação dos Mortos do Cemitério de Pistóia, cabendo ao Marechal Mascarenhas a presidência da Comissão, cargo que ocupou até a conclusão dos trabalhos. A Comissão, composta de representantes das três forças armadas e de outras entidades federais e estaduais envolvidas no assunto, tinha também como incumbência erigir um monumento aos mortos da II Guerra Mundial. A Comissão do Governo do então Distrito Federal, através do Prefeito Alim Pedro, conseguiu a concessão de uma área no Aterro da Glória, obra de expansão da via litorânea, que estava em final de conclusão. Um local nobre, de frente para a entrada da Baía de Guanabara, permitindo que o pórtico do monumento a ser erigido fosse um prolongamento do eixo da Av. Rio Branco. A obra da construção iniciou-se em 24 de junho de 1957 e foi concluída em 24 de junho de 1960. A exumação dos restos mortais foi promovida por uma comissão especialmente criada por decreto de 20 de julho de 1960 e presidida pelo General Oswaldo de Araújo Mota que, na Itália, tomou todas as providências necessárias. A transferência dos corpos, em urnas especiais, coube à Comissão Militar de Trasladação, cujo presidente era o General Cordeiro de Farias. Ficou estabelecido que as urnas, em vez de virem para o Brasil em navios de guerra, seriam transportadas por aviões militares da FAB. Nessa trasladação quase ocorreu uma tragédia num episódio pouco divulgado, menos ainda lembrado. O percurso aéreo Itália - Rio de Janeiro previa, entre outras, uma parada técnica em Lisboa. Nas manobras de aproximação do Aeroporto de Lisboa, um dos aviões sofreu um acidente na aterragem, quebrou a asa e teve um início de incêndio. Alguns tripulantes e passageiros tiveram ferimentos leves, mas todos ficaram profundamente traumatizados com o acidente e com os possíveis danos à preciosa carga que levava o avião. Em seu depoimento, Cordeiro de Farias, que estava a bordo, conta com detalhes esse episódio ligado à história da FEB. As urnas não sofreram danos de monta e puderam ser reparadas para prosseguirem viagem em outro avião. A carga chegou no dia 16 de dezembro de 1960 ao Aeroporto do Galeão, onde permaneceu por alguns dias, sendo depois levada para o Palácio Tiradentes, então sede do Congresso Nacional. No dia 22 de dezembro, em solenidade de grande imponência, as urnas foram transportadas em cortejo por ex-combatentes, soldados e parentes até o Monumento. Coube ao Marechal Mascarenhas, juntamente com ex-expedicionários, levar uma urna, entregando-a em mãos ao Presidente da República, Juscelino Kubitschek, que a colocou em túmulo especial, coberto por uma lápide negra contendo a seguinte inscrição: "O BRASIL AO SEU SOLDADO DESCONHECIDO." A construção do monumento, com escolha das suas linhas arquitetônicas, foi objeto de muita controvérsia. A comissão encarregada escolheu o projeto idealizado pelos arquitetos Hélio Ribas Marinho e Márcio Konder Neto, entre mais de 30 projetos apresentados. Esses arquitetos idealizaram um monumento moderno, inovador e arrojado, no qual erguia-se em uma plataforma um pórtico monumental com duas colunas que subiam e eram ligadas em cima por um elemento ligeiramente côncavo como a palma de uma mão. O conjunto simbolizava dois braços e mãos na posição de prece. A escadaria monumental que dá acesso à plataforma contribui para a imponência do conjunto, que contém ainda outros elementos artísticos, concebidos para ressaltar a harmonia do monumento. Houve reações a essa linha moderna escolhida, mas as várias opiniões foram aos poucos se conciliando, e não se pode deixar de reconhecer, independentemente do critério ou do gosto de cada um, que a singela beleza da cripta induz o visitante a uma atitude de recolhimento e respeito. Lá se encontram sepultados, e enquadrados numa ordem simétrica, os corpos daqueles brasileiros, homens do povo, que atravessaram o Atlântico e morreram lutando pela Pátria e pelo ideal supremo da liberdade. Na solenidade de trasladação dos corpos, o Presidente da República, em sua oração em nome do Governo que representava, declarou que a presença daqueles pracinhas mortos se fazia necessária: "O Brasil precisava de seus mortos como exemplo para os vivos." Frase de rara felicidade. "A FEB por
um Soldado" |
Enterro de soldado brasileiro em
Pistóia.
Foto escaneada do livro "Eu estava lá!" de Elza
Cansanção.
Monumento
Votivo Militar Brasileiro Nêodo N.
Dias Jr. |
Eles também precisavam enterrar seus
mortos: cortejo fúnebre alemão.
Foto escaneada do livro "Eu estava lá!" de Elza
Cansanção.
INSTALAÇÃO DO
CEMITÉRIO MILITAR DE PISTÓIA Mário
Pereira |
Nossas cruzes brancas em Pistóia
Esta terra sagrada foi sepultura dos soldados brasileiros mortos no campo da honra pela dignidade da pessoa humana... Assim está escrito no monumento aos soldados brasileiros mortos na campanha da Itália, no lugar que foi o nosso cemitério militar, um campo entre oliveiras, perto da Igreja de San Rocco, em Pistóia. A terra sagrada escapou de virar plantação de cebolas ou campo de futebol porque, depois que os corpos foram transladados para o Rio, em dezembro de 1960, houve um período de incertezas; diante da inação de nossas autoridades, é natural que alguém em Pistóia reivindicasse o terreno para outros usos. E a idéia de um monumento foi, entretanto, avante, e em boa hora o projeto foi encomendado ao arquiteto Olavo Reidig de Campos, que fez um trabalho expressivo, mas sóbrio. Quatro cedros prateados e muitos ciprestes orlam o retângulo em que há um jardim de pedras e flores. O monumento foi inaugurado em 7 de junho de 1966; em 7 de junho de 1967, foi a ele recolhido mais um morto, não identificado, cujo corpo foi encontrado em Montese. O subtenente da reserva Miguel Pereira, antigo combatente, que se casou com uma jovem italiana, é o encarregado de zelar pelo monumento, onde palpita uma chama perene; quatro guardas de Pistóia revezavam-se na vigilância de 24 horas por dia, e há também um jardineiro. O gaúcho (de Santa Maria da Boca do Monte) Miguel Pereira mostra-nos o monumento, e quando batem as seis horas, nos convida a recolher a bandeira brasileira, que é hasteada diariamente às oito da manhã. Na pequena construção ao lado, onde estão algumas lembranças da guerra e o livro dos visitantes, ele gostaria de ter uma fotografia grande, boa, do Monumento aos Pracinhas do Rio. Diz que antigamente, todo Dia de Finados vinha alguém do Brasil - um oficial, uma viúva de guerra, um mutilado, um corneteiro, uma enfermeira... - trazendo flores de nossa terra para os mortos. Depois que os corpos foram removidos, isso não se fez mais; agora, que um soldado brasileiro desconhecido descansa ali, ele acha que essa prática piedosa deveria ser retomada. Aqui fica a sugestão para as associações de ex-combatentes: flores, no dia dos mortos, para o nosso pracinha solitário e anônimo que ficou na Itália. Visitamos o antigo QG Recuado na Piazza San Lorenzo, onde tantas vezes dormimos - os correspondentes Raul Brandão, do Correio da Manhã, Egídio Squeff, de O Globo, Joel Silveira, dos Associados, Thassilo Mitke, da Agência Nacional, Harry Bagley, da Associated Press, Allan Fisher e Frank Norall, da Coordenação de Assuntos Interamericanos, e eu, do Diário Carioca. O velho quartel bombardeado é hoje uma grande fábrica de móveis; ali junto, estranhamos alguma coisa no antigo hospital que a certa altura acolheu feridos e doentes brasileiros, o Ospedale del Ceppo, uma construção que vem da Idade Média. É que durante a guerra havia sido coberto e protegido o friso de terracota esmaltada de Guido dei la Robbia que desde o século XVI embeleza a fachada.Pistóia é hoje uma cidade de 90 000 habitantes - três vezes maior que em "nosso" tempo - que tem sempre um sindaco (prefeito) comunista. Sua eleição é assegurada pelo grande número de operários (só a Breda tem mais de 5 000) e outros trabalhadores; além disso, o PC italiano costuma receber muitos votos de gente da classe média, devido à sua tendência reformista. "Crônicas da
Guerra na Itália" |
Foto gentilmente enviada por Mário
Pereira, Administrador do Monumento Votivo Militar Brasileiro em
Pistóia
O MONUMENTO
VOTIVO MILITAR BRASILEIRO DE PISTÓIA A terra de
sepultura A cruz toma
posse do terreno O
horizonte é o perfil da terra A pedra é
símbolo da resistência Para ascender à
gloria dos mortos A presença dos
vivos Olavo Redig de Campos Foi então o mesmo Arquiteto projetista, solicitado pelo Exmo Embaixador D’Alamo Lousada a escolher as palavras, dando voz aos sentimentos patrióticos do mesmo Embaixador, que manifestam-se numa carta ao Marechal Cordeiro de Farias (Cmte da Artilharia Divisionária): “Quando o saudoso Presidente Castelo Branco honrou-me ao designar-me Embaixador do Brasil em Roma, tornei prioritária, entre outros assuntos, a restauração de um marco, que para sempre fizesse lembrar a epopéia da Força Expedicionária Brasileira na Itália.” Assim, os
visitantes podem entender o significado da presença deste Monumento, que
representa o esforço do Brasil para a recuperação da dignidade e liberdade
do povo italiano. Na parede alem do espelho de água onde estão gravados os
465 nomes dos tombados brasileiros lê-se: A atender as visitas desde o 1947 foi o Sr. Miguel Pereira, integrante da FEB que teve a honra de ficar como guardião, recebendo inúmeras importantes visitas (passaram até dois Presidentes do Brasil) e sem poupar esforços, ao longo dos anos, recuperou boa parte dos extraviados, bem como os contatos com as Prefeituras dos locais onde os soldados brasileiros atuaram, estreitando ainda mais as relações entre os dois países. Falecido em fevereiro de 2003 deixou ao filho a tarefa de continuar a “missão” de cuidar deste singelo lugar onde Historia, Honra e Glória estão de mãos dadas, num cartão postal que fala num conjunto único das qualidades humanas do povo do Brasil. Mário
Pereira |
Foto gentilmente enviada por Mário
Pereira, Administrador do Monumento Votivo Militar Brasileiro em
Pistóia
O Monumento Votivo Militar Brasileiro fica no Bairro S. Roque, periferia leste de Pistoia, na estrada que liga a cidade a Montale. Saindo da Rodovia (A11) a direita, seguindo as placas marrom que indicam Monumento Votivo Militar Brasileiro. Da estação da estrada de ferro (FS) pela linha de ônibus 19 (Montale). De taxi todos conhecem o Monumento (chamado às vezes ainda Cemitério). ATIVIDADES NO
MONUMENTO VOTIVO MILITAR BRASILEIRO A cada ano, no dia de finados a 2 de novembro, tem no Monumento uma comemoração que envolve as Autoridades do Brasil, bem como as da Itália, contando com a presença do Prefeito, do Presidente da Província e do Governador de Pistóia representando o poder estadual, alem dos Prefeitos das demais cidades atingidas de soldados brasileiros ao longo do conflito. São geralmente presentes o Exmo Embaixador do Brasil junto ao Governo italiano, bem como o Exmo Embaixador da Santa Sé, a Representação junto à FAO, e os demais altos funcionários da Embaixada. Também os Adidos das Forças Armadas do Brasil, Marinha, Exército e Aeronáutica e Defesa prestigiam a comemoração bem como, desde que foi instituída, a REMABI. Nos últimos anos destacou-se a presença de Veteranos da FEB (Força Expedicionária Brasileira) e da representação do Navio Escola Brasil. Em todas as solenidades que se realizam sempre há presença de jovens das escolas e idosos que estiveram junto com os soldados, com um intercâmbio cultural-histórico de valor muito elevado. Visitas O horário de
visitas é das 8 da manhã até as 18. Como o dia nesta região varia muito ao
longo do ano, a Bandeira é hasteada diariamente às 8, e retirada, nos dias
mais curtos, antes do pôr do sol. Apesar disso o Monumento Votivo Militar
Brasileiro de Pistóia pode ser visitado a qualquer hora do dia e da noite,
sendo totalmente privo de fechaduras, e deixado à civilidade e respeito
das pessoas que mantenham um porte conforme com o respeito e decoro que o
local exige. Há possibilidade de efetuar visitas nos locais que foram
campo de luta, visitando os Monumentos que foram construídos pela
população das prefeituras atingidas pelos brasileiros ao longo do
conflito. Mário Pereira |
Um Herói nunca morre!
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