FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA |
CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA Na madrugada do
dia 24 de dezembro caiu a primeira nevada. Chão, árvores, gramados e
postos eram, de ponta a ponta, um só tapete branco. As castanheiras
imóveis, com o frio, pareciam imersas em banho de cal. Encantava sobremodo
ver de súbito a paisagem mudar e vestir-se com um esplendoroso véu de
noiva. Por outro lado, foi um desastre horroroso a nevada daquele ano - a
maior de quantas iam ficar manchadas de sangue nas encostas dos Apeninos.
Na Companhia, os que mais se fascinaram foram os baianos e mato-grossenses
que, ao acordarem pela manhã, já vinham lavando o rosto com água aquecida
no capacete de aço. Os obuses desapareceram na paisagem branca. Arrastando
a neve fofa à altura média da coxa, andávamos pelos caminhos bloqueados
que levavam às diversas direções. Na noite desse dia, véspera do Natal, os
camponeses de Corvella organizaram uma festa para comemorar com o pessoal
da Companhia a data máxima da cristandade. E não faltaram os tradicionais
bolos que as "signorinas" confeccionaram com o açúcar, farinha e demais
ingredientes fornecidos pela nossa cozinha. E já passava da meia-noite,
lembro-me bem, quando um grupo de moças e rapazes, sob a direção de
Gemina, cantou a canção pastoral "Chiesetta Alpina": "Nós
Estivemos Lá" |
O lindo espetáculo da neve
PRESENTE DE
NATAL "O Sexto
Regimento de Infantaria Expedicionário" |
Esquiando...
Arquivo Diana de Oliveira Maciel
O PRACINHA E A NEVE Preocupava, sobremaneira, a estação hibernal, por não se poder precisar como o pracinha brasileiro, nascido e criado em clima tropical, iria enfrentá-la. Sucediam-se, portanto, os problemas. O elevado número de baixas, bem como a estafa, aconselhavam uma pausa, mesmo que fosse breve. A par disso, a necessidade premente de se completar os efetivos sensivelmente desfalcados, antes de ser tomada a decisão definitiva quanto ao prosseguimento da campanha no mesmo ritmo ou talvez em maior escala. Para tentar resolver os graves problemas que tendiam a crescer à medida que os dias passavam, foi convocada uma reunião de todos os comandantes das Grandes Unidades presentes ao teatro de operações. O debate franco, não poucas vezes tornou-se acalorado, onde cada chefe, com a linguagem fria de guerreiro, expunha e procurava fazer prevalecer o seu ponto de vista. Dentre as decisões mais importantes tomadas durante a reunião, mereceu especial destaque a que dizia respeito à suspensão temporária das operações que deveriam culminar com a conquista da cidade de Bolonha antes do Natal. Julgou-se desaconselhável, também, lançar a Força Expedicionária Brasileira na linha de frente antes que seus componentes melhor se ambientassem às condições climatéricas e, muito especialmente, ao inimigo curtido em outras campanhas, manhoso e perfeito conhecedor do terreno. Seria uma temeridade o lançamento prematuro dos pracinhas em combates de grande envergadura. Apesar de bravos, faltava-lhes muito para que pudessem ser considerados guerreiros na acepção da palavra, tendo-se em vista que somente a prática amadurece o soldado. A bravura não pode ser considerada como elemento indispensável, se excessiva. Ela só tem valor positivo, quando dosada. Caso contrário transforma-se em suicídio. O excesso auxilia alguma coisa, mas nem sempre resolve. Dez homens bem armados e postados podem dizimar facilmente um batalhão que se lance à luta de peito aberto. Muitos homens, orgulhosos de serem bravos, deixaram-se matar na guerra sem que com essa atitude conseguissem provar coisa alguma. Entre estes podemos destacar os que, por auto-recreação, desempenhavam o papel de "isca", expondo-se acintosamente para que o inimigo, atirando neles, denunciasse sua posição! Não foram poucos os que assim procederam, mas foram raros os que conseguiram sobreviver. Em regra geral o brasileiro parecia não dar "bola" para o azar. A prova disso é que muitos dos que não voltaram, morreram por não acreditar nos campos minados, nas armadilhas e nas artimanhas do inimigo que chegava à extrema maldade de minar os cadáveres dos próprios companheiros! Nossos pracinhas tinham por princípio respeitar as insígnias da Cruz Vermelha, e os tedescos, sabendo disso, não poucas vezes utilizaram-se das padiolas para transportar metralhadoras e morteiros, como se fossem feridos! Era a guerra sem trégua, sem quartel, desumana; guerra diferente da que faziam os nossos soldados, incapazes de atrocidades e avessos às tocaias, preferindo, sempre que possível, desentocar o inimigo, a esperá-lo oculto numa dobra do terreno para apanhá-los pelas costas. A humanidade em luta, a se destruir impiedosamente; homens transformados em feras; feras fugindo dos homens. O Século Vinte, com suas memoráveis conquistas técnicas e científicas, via-se pela segunda vez envolvido pelo fragor da metralha, pela morte, pela destruição, pelo sangue, pelas lágrimas. O mundo em chamas, num verdadeiro caos; a vida sem valor algum. E lá iam os nossos pracinhas tamborilando alegremente no capacete o ritmo gostoso da música brasileira, numa evocação à Pátria distante, certos de que, mesmo faltando-lhes o essencial adestramento, saberiam provar ao mundo o valor e a pujança de uma raça. "A Neve foi
Testemunha" |
Mensagem de Natal de Mascarenhas de Morais
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