FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA

 


Banda de Música da Companhia do Quartel General em Alessandria
Arquivo General Tácito Theóphilo Gaspar de Oliveira

 

Músicas e Canções ligadas à FEB

 


Banda de Música da 1ª Divisão de Infantaria desfilando na Itália.
Foto escaneada do livro "Eu estava lá" de Elza Cansanção

A atividade musical está sempre ligada às atividades militares, destacando-se a música chamada marcial, tocada por bandas pertencentes às unidades e as entoadas pelos soldados, desde canções populares às músicas evocativas, compostas para determinadas épocas ou acontecimentos. Há ainda os hinos oficiais de cada país. Os planejadores da FEB não esqueceram uma banda de música para a 1ª Divisão Expedicionária. (...) A FEB levou para a Itália a música popular brasileira e lá recebeu influência de músicas e canções de outras nacionalidades, como ocorreu com as demais tropas, porque afinal a música não tem fronteiras. (...) Na obra de Gracio Barbalho sobre música popular brasileira encontra-se referência às primeiras músicas que traziam a influência dos acontecimentos ligados à guerra. Segundo esta obra, uma das primeiras músicas foi Brasil Pandeiro de Ataulfo Alves e Almir Valente em outubro de 1941. Em dezembro de 1942, Haroldo lobo e David Nasser compuseram Alô, Tio Sam, que continha a seguinte estrofe:

'Se precisar de mim,
pode chamar que eu vou'

Com a entrada do Brasil na guerra, foi lançada a música de autoria de Benedito Lacerda e Haroldo Lobo, denominada 'A Cobra está fumando'. Em 1943 foi promovido em São Paulo um concurso de música, sendo escolhida para ser a canção expedicionária uma obra com partitura musical composta por Spártaco Rossi e letra de Guilherme de Almeida. Esta música foi oficializada como 'Canção do Expedicionário', sendo hoje tocada em solenidades relacionadas a acontecimentos da FEB. Antes de embarcar, a tropa foi exaustivamente treinada para cantar uma canção americana muito em voga, 'Deus Salve a América', e por ocasião do desembarque dos brasileiros na Itália ela foi cantada, causando espanto e satisfação aos americanos. Muitos soldados levaram consigo instrumentos musicais, como violão, cavaquinho e acordeon. Nos acampamentos e estacionamentos, e nas horas de folga nas cidades, formavam-se rodas de samba em que se cantavam músicas que eram sucesso na época. 'Adeus Mangueira', 'Juro', 'Rancho Fundo', 'Teu Cabelo não nega' e outras. Não era cantada a 'Canção do Expedicionário', por ser talvez de difícil interpretação, apesar dos versos serem evocativos e de muita beleza. As músicas populares italianas tiveram uma grande aceitação na tropa, não só pela beleza das melodias como pela facilidade no aprendizado da letra - os soldados não cantavam com perfeito sotaque, mas dava para ser compreendido. Certas músicas se tornaram inesquecíveis para os brasileiros, entre elas: 'Firenze Sogna', cujo primeiro verso era repetido por quase todos os soldados:

 'Firenze sta notte sei bella, in un manto di stelle'. 

Não houve brasileiro que não cantasse ou recitasse essa estrofe. Havia também 'Torna a Surriento' e 'La Strada del Bosco', música muito cantada pelo corpo de partisani e ainda a famosa 'Mamma', canção com bela melodia e letra um pouco piegas, mas que era número obrigatório nas rodas de música por ser uma canção de saudade. Mas a canção de maior preferência, cantada pela maioria das tropas aliadas e de qualquer nacionalidade, era a música denominada 'Lili Marlene', música alemã que se transformou numa legenda para os soldados combatentes da II Guerra Mundial e tem uma curiosa história. Composta há 65 anos por Heins Leip e musicada por um músico berlinense, Nobert Schultz, na década de 30, foi gravada pela primeira vez no ano do início da Guerra, 1939, por Lele Anderson. Mas foi em 1941 que a música começou a se tornar popular entre os soldados alemães, sobretudo na tropa do Afrika Corps. A partir dai, a canção começou a ser traduzida e editada em outras línguas, sendo cantada pelos soldados aliados. Chegou até a ser conhecida na frente russa. Quando a FEB chegou à Itália, a canção estava no apogeu e sua letra foi traduzida para o português, sendo rapidamente adotada pelos pracinhas. O sucesso de Lili Marlene junto às tropas aliadas causou espanto e perplexidade entre os nazistas que terminaram por proibir que a música fosse divulgada entre os alemães. Essa proibição chegou tarde: a canção era cantada por todos os soldados combatentes, independentemente de nacionalidade, posto ou língua. (...) 'Lili Marlene' foi incorporada definitivamente ao folclore musical da FEB, sendo executada nas cerimônias evocativas de feitos da FEB, sobretudo no Quartel do Regimento Sampaio, quando comemora a tomada de Monte Castelo, encerrando a solenidade.

"A FEB por um Soldado"
Joaquim Xavier da Silveira


A Banda de Música realizando um concerto no acampamento.
Foto escaneada do livro "Eu estava lá" de Elza Cansanção

73ª Pergunta: Tinha a FEB alguma canção?

Resposta: Muito poucos brasileiros a conhecem por que não há uma sistemática divulgação de tudo que se refere à FEB, desde os feitos individuais heróicos aos atos altruísticos de desprendimento humano e, até mesmo, ao farto anedotário da guerra. A delicadeza de sua letra e a beleza de sua composição musical são notáveis. Ei-la:

CANÇÃO DO EXPEDICIONÁRIO
Letra de Guilherme de Almeida
Música de Spártaco Rossi

Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do engenho,
das selvas, dos cafezais,
da boa terra do coco,

da choupana onde um é pouco,
dois é bom, três é demais.
Venho das praias sedosas
das montanhas alterosas,

dos pampas, do seringal
das margens crespas dos rios,
dos verdes mares bravios
da minha Terra Natal.

Estribilho:

Por mais terras que eu percorra,
não permita Deus que eu morra
 sem que eu volte para lá.
 Sem que leve por divisa
esse V que simboliza
a Vitória que virá.

Nossa Vitória final
que é a mira do meu fuzil,
a ração do meu bornal,
a água do meu cantil,
as asas do meu ideal,
a Glória do meu Brasil.

Outra canção que se tornou largamente difundida entre os brasileiros que emocionalmente a cantavam junto com os americanos era a God Bless América.

DEUS SALVE A AMÉRICA

Quando nuvens negras,
como um negro véu,
descem sobre as Serras
empanando o céu,

ouve-se uma prece
dessa gente audaz,
que não teme a guerra,
mas deseja a Paz!

Deus salve a América!
Terra de Amor!
Verdes mares, florestas,
lindos campos abertos em flor.

Berço amigo da bonança,
da esperança o altar,
Deus salve a América
meu céu, meu lar.

Deus salve a América
meu céu, meu lar.

"100 Vezes responde a FEB"
Marechal José Machado Lopes

 
Sargento Antonio Gomes, apelidado "Caroço", autor da marchinha "Tedeschi hanno portato via".
Foto escaneada do livro "a Epopéia dos Apeninos" - José de Oliveira Ramos.

Clique aqui para ouvir a canção

SERVIÇO ESPECIAL

Uma das novidades na organização do moderno exército norte-americano foi o Serviço Especial, incumbido de proporcionar diversões, alegria e bom humor aos soldados. A FEB adotou a inovação e criou também seu Serviço Especial, que foi chefiado pelo Major Reinaldo Ramos Saldanha da Gama, auxiliado pelos Capitães Alcides Boiteux Piaza e Álvaro de La Roque Couto. O Serviço Especial da FEB. teve as seguintes missões - organizar espetáculos (os "shows"), para divertimento da tropa; distribuir presentes, brindes, objetos de toilete, etc., que vinham do Brasil ou eram fornecidos pelos americanos; cooperar com o Serviço de Assistência Religiosa, no conforto moral e material dos soldados baixados aos hospitais; publicar órgãos de divulgação cultural e noticiosa; dirigir o Hotel de Praças de Florence, etc. Dois jornais foram publicados pelo S. Especial, o "Zé Carioca" e "O Cruzeiro do Sul", com a colaboração do pessoal das unidades e noticiário telegráfico e radiofônico. Com elementos "descobertos" na tropa, cantores, músicos, contadores de anedotas, acrobatas, etc., organizava seus shows. A Banda de Música do 1º RI, que ficou anexa ao Quartel General Recuado, fornecia os conjuntos de "jazz-band", que abrilhantavam os espetáculos. O Hotel das Praças em Florença, além da hospedagem proporcionava aos pracinhas diversões, excursões, etc. Grande animador dos "shows" era o conhecido acrobata, Adio Novak, convocado no posto de Sargento. Novak pertencera ao elenco do Cassino da Urca e estava bem familiarizado com o palco. Além de seu excelente número de acrobacias, ginástica e poses plásticas, ele era uma espécie de diretor de cena, "speaker" e organizador de programas. Com os aparelhos e filmes sonoros fornecidos pelo V Exército, o S. Especial dava freqüentes sessões nas sedes das unidades e Quartéis Generais. A Banda de Música, regida pelo Maestro Ten. Franklin de Carvalho Júnior, era a alma das diversões. Através de seu repertório de peças brasileiras, mitigávamos as saudades da Pátria. Nunca poderíamos imaginar que a Banda representasse tão importante papel, junto a uma tropa em guerra . Houve mesmo oficiais que reprovassem sua inclusão na Força Expedicionária, achando ser ela um órgão supérfluo. A verdade porém, é que a Banda foi de um valor inestimável na vida dos acampamentos e dos quartéis, dando a nota ao mesmo tempo marcial e pitoresca nas formaturas, nas recepções das altas autoridades brasileiras e aliadas. Sentíamos necessidade da música nacional, que para nós tinha uma significação toda peculiar. Longe do Brasil como estávamos, num ambiente estranho que nos absorvia, falando e ouvindo inglês e italiano, usando alimentação e peças de fardamento norte-americanas, a música brasileira era como que a voz da Pátria a nos reunir, num toque de brasilidade a exaltar o sentimento de nacionalismo. Uma das músicas prediletas da coleção do Mestre Franklin era a "Cidade Maravilhosa" .Quando suas notas ritmadas e alegres soavam no ar fino das montanhas, ecoando pelas encostas, sentíamo-nos transportados nas ondas sonoras, para muito longe e nosso pensamento vagava pelas praias e morros do Rio de Janeiro, como se estivéssemos apreciando, do alto do Corcovado, os "encantos mil do coração do meu Brasil". Após uma tocata nos sentíamos reanimados e confiantes. Nada pagaria aqueles momentos de puro prazer espiritual que a música nos proporcionava. E' claro que a Banda enriqueceu o repertório com algumas peças italianas, especialmente "Firenze sogna", a internacional "Lili Marlene" etc. Surgiram também os compositores, tais como o Sarg. Antonio Gomes, apelidado "Caroço", que baseado no "leit-motiv" das queixas dos italianos, compôs a interessante marchinha "Tedeschi hanno portato via". É escusado dizer que, além das tocatas oficiais, organizadas pelo Serviço Especial, os músicos faziam suas reuniões particulares, em festas que se arranjavam nas casas de famílias conhecidas. Mas tudo isso não deixava de ser um prolongamento do Serviço Especial, embora clandestino. Um aspecto importante da presença de uma Banda brasileira na Itália foi a propaganda cultural de nosso país, na terra da música. Em muitas cidades houve concertos públicos, em que eram executadas, além das peças populares, trechos de óperas de compositores nossos, especialmente Carlos Gomes, muito aplaudidos pelos italianos. E tínhamos orgulho de explicar-lhes que se tratava de autor "brasiliano" que havia estreado suas óperas no Scala de Milão. Eles ficavam sabendo que afinal das contas "questi brasiliani" não eram tão selvagens assim. Por várias vezes correu o boato de que iriam artistas de nosso teatro fazer excursões pelo "front", para alegrar os pracinhas. Se isso tivesse acontecido seria um grande sucesso e uma enorme alegria para nós. Um bom "show" tem um efeito moral extraordinário numa tropa em guerra. Descansa o espírito, suprime a tensão nervosa e ao mesmo tempo, desperta novo ânimo, deixa entrever as belezas da vida, pelas quais devemos lutar. É na paz que se cultivam as artes, mas é preciso ganhar a guerra, para desfrutarmos as delícias da paz. E' justamente esse o fundamento psicológico do Serviço Especial. Nem só de pão vive o homem". O Serviço Especial, além de contribuir para manter o equilíbrio mental dos soldados, foi um importante fator de estímulo de suas qualidades guerreiras. Os dirigentes do S. Especial lutaram bastante com a escassez de recursos para o desempenho de sua missão, que exigia grande riqueza de pessoal e material. A FEB estava muito espalhada no território italiano e em cada lugar de estacionamento ou concentração de soldados havia necessidade de um passatempo, de uma distração para amenizar as agruras da campanha. Em Florença, Stafoli, Pistóia, Montecatini, Livorno, Pávana, Porreta, nas sedes dos Regimentos de Infantaria e dos Grupos de Artilharia, nos diversos hospitais, em todos esses lugares o S. Especial era reclamado. Seu pessoal se desdobrava, se locomovia daqui para ali, num esforço para contentar a todos, conseguindo um resultado bem compensador, que seria mais perfeito se contasse com maior fartura de meios. Como síntese da atuação do S. Especial, transcrevemos o elogio que o Gen. Mascarenhas de Moraes lhe fez no Boletim Interno de 1º de maio de 1945:

"À tropa brasileira não tem faltado meios que lhe permitam amenizar as durezas da guerra. Os bem organizados hotéis de repouso em Florença, dotados de conforto que faz esquecer os dias das más instalações da frente; os já indispensáveis "Cruzeiro do Sul" e "Zé Carioca", interessando vivamente todos os componentes da FEB e a eles entregues com regularidade e presteza; a distribuição de artigos úteis, cigarros, agasalhos e presentes vários, até aos soldados dos escalões mais avançados; o funcionamento de conjuntos musicais em várias partes do setor da Divisão; a exibição de fitas cinematográficas em locais onde podem ser vistas pela tropa; a visita aos doentes e feridos nos hospitais; tudo isso executado com a alta compreensão da resultante de tais atos, trás reflexos sensíveis na conservação do valor combativo de nossa gente. Os resultados da atuação do Serviço são verificados. O homem que termina um período de repouso, volta alegre para a continuação de sua honrosa tarefa em qualquer parte. Aquele que lê um dos nossos jornais, fica sabendo que seu esforço é bem compreendido por todo mundo e principalmente pelos Brasileiros e que o inimigo está sendo derrotado onde apareça. O que recebe um presente que lhe enviam do Brasil, volve para nossa terra querida o pensamento de saudade e cria ânimo para a continuação da luta que apressa a vitória. O Serviço Especial, confortando o físico e o espírito, pelo conjunto de suas atividades, é fator importante na guerra e faz jus ao conceito de órgão útil e auxiliar valioso da eficiência da tropa. Os agradecimentos do Comando e de toda a FEB pela sua atuação".

"A Epopéia dos Apeninos" 
José de Oliveira Ramos

  
Durante a viagem no Gen. Mann, os pracinhas se ocupam com a música.
Foto escaneada do livro "Eu estava lá" de Elza Cansanção

FIRENZE SOGNA

Firenze stanotte sei bella in un manto di stelle
che in cielo risplendono tremule come fiammelle.
Nell'ombra nascondi gli amanti,
le bocche tremanti si parlan d'amor.

Intorno c'è tanta poesia per te vita mia
sospira il mio cuor.
Sull'Arno d'argento si specchia il firmamento,
mentre un sospiro e un canto si perde lontan.

Dorme Firenze sotto il raggio della luna
ma dietro ad un balcone veglia una Madonna bruna. 
Balconi adornati di pampini e glicini in fiore,
stanotte schiudetevi ancora che passa l'amore.

Germogliano le serenate:
Madonne ascoltate son mille canzon,
un vostro sorriso è la vita
la gioia infinita l'eterna passion.
Sopra i Lungarni senti un'armonia d'amore,
sospirano gli amanti stretti stretti cuore a cuore.

Cesare Cesarini - 1939.

Um Herói nunca morre!

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