FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA


 
Alessandria - 08/05/1945
Gravura de Carlos Scliar

 

Relatos de Guerra I

Um fato bastante curioso, era a fuga de soldados do Depósito de Pessoal para as unidades em linha. Isso se passava da seguinte maneira: todo soldado que, por qualquer motivo, baixasse ao hospital, ao ter alta não regressava à sua unidade, mesmo porque sua vaga já havia sido preenchida por outro elemento. Ia para o Depósito de Pessoal, em Staffoli, onde aguardava sua vez. Pois bem, quase diàriamente, soldados nessas condições, abandonando a segurança e o conforto do Depósito, que ficava bem à retaguarda, apanhavam a primeira condução que fosse para o "front" e iam juntar-se a seus companheiros, que andavam metidos em "foxholes", ao sabor das balas inimigas. Isto era uma indisciplina, atrapalhava o sistema de recompletamento adotado pelo Estado Maior, mas era sobretudo uma prova de destemor, de apego a seu batalhão, de solidariedade com seus camaradas.

" A Epopéia dos Apeninos"
José de Oliveira Ramos


Os alemães costumavam colocar minas nos corpos dos soldados mortos,
pois para eles, um alemão morto ainda podia ainda destruir os inimigos.
Foto escaneada do livro "E FOI ASSIM... que a Cobra fumou" de Elza Cansanção.

ATAQUE VIOLENTO

Não podemos deixar de mencionar os extraordinários acontecimentos que se passaram com o Ten. Manoel Genito do Carmo, comandante do 2º Pelotão da 7ª Cia., do 1º RI, durante o ataque ao Monte Castelo, no dia 12 de dezembro. A marcha para a base de partida do ataque foi iniciada às três horas da madrugada, na mais completa escuridão, com chuva e frio, num terreno lamacento. Para seus homens não se desgarrarem, o Ten. Genito ligou todos por meio de uma corda e marchou à frente, orientando-se pela bússola fosforescente. Às sete e trinta o Pelotão se achava à frente do primeiro objetivo, o Monte Fornelo, trezentos metros aquém do Monte Castelo e pouco adiante de Cá Vitelline. Às oito horas, quando o Pelotão penetrou num campo limpo, preparado para cultura, a cerração, que antes era densa dissipou-se ràpidamente. Os atacantes são apanhados pelas vistas de Fornelo, em pleno descampado. O Ten. Genito dá ordem para seus homens atravessarem o campo, já sob forte tiroteio inimigo, e se abrigarem no terreno pedregoso à frente. De Cá Vitelline também partem tiros de metralhadoras, ficando assim o pelotão entre dois fogos. A situação era desesperadora. O soldado Toledo Dias, especialista em tiros com luneta, embora ferido, consegue acertar um metralhador alemão, calando assim uma "lourdinha", em Cá Vitelline. Outras armas automáticas porém continuam a castigar o terreno, impedindo a progressão. Vários homens feridos pediam socorro. O Ten. Genito a custo reúne os Sargentos Aires da Silva Dias e João Batista Ferreira, comandantes dos grupos, e determina: "Estamos no fogo e dele vamos sair queimados; não devemos morrer encurralados, sem demonstrar nossa ação. O Sarg. Aires vai deslocar seu grupo um pouco para a esquerda, sobre aquele ponto do terreno e bater com sua metralhadora o inimigo de Cá Vítelline. O Sarg. Ferreira coloca sua arma um pouco à frente e bate a posição de Fornelo, para onde vou pedir fogos de morteiros. Recebida a ordem, o Sarg. Aires prontamente se desloca para cumprir sua missão. O Sarg. Ferreira, mais afoito, quer avançar sobre Fornelo e propõe: "Tenente, meu desejo é avançar sobre a posição de Fornelo e, se eu conseguir chegar até lá, eles vão ter um leão pela frente". O Ten. Genito procura conter a impetuosidade do Sarg. Ferreira, aconselhando-o a esperar os tiros de morteiro, antes de assaltar. Pelo aparelho portátil de rádio pede ao Comte. de Cia. tiros sobre Fornelo. Ao terminar a comunicação uma bala de metralhadora estilhaça o fone, junto à sua boca, Inutilizando o aparelho, sem feri-lo. O Sargento Aires é apanhado por uma rajada de metralhadora e morre poucos metros adiante. Seu metralhador também atingido, fica no local, gravemente ferido. O Ten. Genito rasteja até o telefone, que se achava próximo e tenta de novo se comunicar com seu Cmte. de Cia. O soldado telefonista, ao passar-lhe o fone, é mortalmente atingido. O Sarg. Ferreira, diante da situação cada vez mais aflitiva, grita para o Ten. Genito: "Tenente, meus soldados estão morrendo e eu vou avançar sobre Fornelo, vou pegar à unha os bandidos!" Reúne seus homens ainda em condições de prosseguirem e avança, para cair ferido uns trinta metros adiante. O soldado metralhador Álvaro Gomes Santiago Sobrinho, um dos mais arrojados, cai morto ao lado do Sargento Ferreira. O Ten. Genito liga-se pelo telefone com o Cmte. de Cia., conta-lhe o que se passa, pede-lhe socorro para retirar seus homens e tenta mais uma vez localizar as metralhadoras, para orientar os tiros de morteiro. Neste momento recebe um tiro de fuzil que lhe atravessa de lado a lado o capacete de aço, produzindo profundo ferimento no couro cabeludo, sem entretanto atingir a parte óssea. Com a pancada violenta da bala e com o sangue a escorrer pela face, Genito nada mais vê e procura apenas se abrigar. Para isso resolve sair dali, dando ràpidamente dois lances para a esquerda e nesse momento é de novo atingido por uma rajada de metralhadora, que lhe rasga o uniforme, sem feri-lo, entretanto. Após várias peripécias consegue sair da zona de combate, sendo socorrido por uma família italiana, donde foi encaminhado ao Posto de Socorro do Regimento Sampaio e daí para o Hospital de Evacuação de Pistóia, onde foi operado. Recuperou-se em poucos dias e voltou ao seu Regimento, onde prosseguiu até o fim da campanha. A história do Ten. Genito do Carmo, esse valente paraense, que milagrosamente escapou vivo daquele inferno de fogo, que foi o ataque ao Monte Castelo, em 12 de dezembro, e a de seus heróicos companheiros, dizem bem do valor guerreiro de nossa gente. Foram homens dessa têmpera, que depois de feridos continuavam a lutar com mais denodo e, depois de exaustos, ainda faziam um derradeiro esforço, até serem ceifados pela morte; cuja serenidade e sangue frio não se perturbavam diante dos estrondos do canhoneio; homens que disputavam um lugar na vanguarda e partiam satisfeitos para desafiar o inimigo em suas tocas; foram homens dessa fibra que dobraram a resistência alemã e contribuíram de modo decisivo para a conquista da vitória aliada. Se numa guerra são indispensáveis os recursos materiais, entretanto é inegável que o elemento humano continua a ser o fator predominante. A mecanização dos meios de combate não chegou ainda a prescindir das qualidades morais do homem. A metralhadora mais moderna de nada vale se não tiver um pulso para manejá-la e uma vontade para dirigi-la. Após os grandes bombardeios de aviação e de artilharia, são ainda a coragem e a tenacidade que vencem no terreno. E felizmente essas qualidades morais não faltaram aos nossos homens, como vimos nas citações acima. O Brasil pode orgulhar-se dos filhos que o representaram no grande conflito mundial, lutando nos campos de batalha europeus. Eles se mostraram dignos herdeiros de seu passado militar e acrescentaram novas glórias à História de nossa Pátria.

" A Epopéia dos Apeninos"
José de Oliveira Ramos


Tenente Genito do Carmo
Foto escaneada do livro "A Epopéia dos Apeninos"

Amputados...

A gravidade das lesões muitas vezes é tamanha que os recursos mais modernos são impotentes para salvar os membros ofendidos, tendo de ser feitas as amputações, para garantir a vida do doente. E' o caso, por exemplo, do Cabo José Aleixo Ribeiro, do 9º BE, cuja historia ele assim me contou: "Sou natural de Ouro Fino, Minas Gerais, e fazia parte da 2ª Companhia do 9º Batalhão de Engenharia. No dia 21 de novembro de 1944, às 13 horas, na Vila de Silla, começaram a cair granadas de artilharia, no lugar onde estacionávamos. Não havia abrigos preparados e tivemos de abandonar a posição. Uma granada caiu próxima à casa onde pretendia abrigar-me, ferindo doze companheiros, dos quais três morreram, sendo um na hora e dois no hospital. O mato-grossense Valdemar Martins foi o que morreu na hora. Eu, apesar de ferido gravemente na perna esquerda, fui andando até a estrada, onde caí, banhado em sangue. Meu companheiro Bibiano, largando o fuzil, correu para me acudir. Nisto passava um jeep americano. O Bibiano me jogou em cima do motor e foi sentado me segurando, até o Posto de Saúde de Silla. Vi que o posto estava cheio de feridos italianos e brasileiros. Aplicaram-me uma injeção e rasgaram minha roupa e calçado para tirar com mais facilidade. Fui transportado para Pistóia, onde cheguei à tardinha. Fui operado nesse mesmo dia, às vinte horas. Com as injeções que me deram perdi o conhecimento das cousas e às vezes que dava por mim, gritava de dor. Durante três dias os médicos se esforçaram para salvar minha perna. Eu enxergava tudo que estavam fazendo comigo, com um olho só, pois o outro estava fechado, devido a um estilhaço de granada que me havia ferido o globo ocular direito. Via ampolas amarelas, vermelhas e brancas, dependuradas ao redor de minha cama, ligadas por tubos de borracha e agulhas ao interior de minhas veias, onde esvaziavam plasma, sangue e soro. Dia e noite, de três em três horas, a penicilina era injetada. Mas o ferimento da perna era muito grave e no fim de três dias me levaram de novo para a sala de cirurgia, onde fui amputado. Só vim a saber disso quatro dias depois, em Livorno, para onde me haviam transportado. Segui depois para Nápoles, onde fui de novo operado na perna e na vista direita. Um mês depois fui de avião para os Estados Unidos, em Miami, donde vim para o Rio, também de avião. Fiquei no HCE, onde me foi fornecida uma perna artificial, com a qual ando perfeitamente".

" A Epopéia dos Apeninos"
José de Oliveira Ramos


Imagem retirada de filme do You Tube sobre a atuação da FEB na Itália

 

Ferido de Guerra

Vejamos a história de um ferido de guerra, o soldado Tertuliano Pinto Ribeiro, da 6ª Companhia do 6º RI, contada por ele mesmo: "Sou natural de Piraí, Estado de Paraná. Segui no 1º Escalão, tomando parte nos combates de Camaiore, Monte Prano e várias outras localidades do Vale do Rio Serchio. No dia 30 de outubro de 1944, em Galicano, próximo de Barga, às quatorze horas, saí com uma patrulha, sob comando do 2º Ten. Múcio e depois do Sargento Rezende. Viemos pelo mato, até a vila de Molazzana, entrando por uma direção onde não havia alemães. Quando regressávamos, após obter as informações que desejávamos dos italianos, os alemães que estavam cercando a vila abriram fogo de fuzil, metralhadoras e granadas de fuzil contra nós, ao qual respondemos. Terminada minha munição, procurei abrigar-me. Durante o tiroteio acertei vários alemães, que estavam a cento e poucos metros, pouco abrigados, "dando sopa". A lurdinha" (metralhadora alemã) cantava dando rajadas por todos os lados, mas não atingiam os nossos. Depois de abrigados fomos alvos de bombas de artilharia, até que uma 88 caiu dentro de nosso abrigo. Eu estava de pé, quando ela caiu. A 22 é a única bomba que não assobia. Vem silenciosa e, quando a gente vê, ela já estourou. Oito companheiros foram feridos, morrendo dois ao chegarem ao hospital, um mato-grossense, o soldado Ribeiro, e um italiano partisan. Com a explosão fui atirado a uns três metros de distância. Meu capacete de aço voou longe. Esse foi o último tiro que os alemães deram. Dos feridos o que mais gemia era o italiano, que foi transportado pelos patrícios para uma casa da vila. O sangue corria por toda parte. Só às dezenove horas é que vieram os padioleiros, que não podiam andar de dia pelas estradas. Recebi cento e um estilhaços de bomba. Fui operado quatro vezes. Na primeira operação retiraram setenta e cinco estilhaços. Tive fraturas do joelho, perna e pé direitos e do tornozelo esquerdo. As últimas radiografias ainda acusam vinte estilhaços nas pernas. Cheguei a tomar doze litros de sangue, em várias transfusões. Quando estava baixado no 38 Hospital de Evacuação, em Pisa, tomei parte na inundação desse hospital e fui transportado às pressas, para o Hospital de Livorno, debaixo de uma chuva torrencial. Estive depois em Nápoles, donde segui para os Estados Unidos, em Charleston e New Orleans, donde vim para o Rio de Janeiro, passando uma temporada no HCE."

" A Epopéia dos Apeninos"
José de Oliveira Ramos


Major Wolf sendo condecorado com a Bronze Star.
Foto escaneada do livro "Histórias de Pracinha" - Joel Silveira.

A Morte de um Herói

Sabíamos todos que naquela data iria realizar-se um golpe de mão no famigerado ponto cotado 747 situado nas imediações de Montese. Patrulhas aguerridas do valoroso 11º RI já haviam realizado reconhecimento nos dias que anteciparam ao histórico ataque àquela localidade. Nosso observatório da Artilharia situava-se no Monte Forte, elevação que se debruçava sobre Montese e demais redutos do rígido sistema defensivo alemão. Dele conduzíamos os tiros dos obuses em apoio aos elementos que, pela força, reconheciam as posições inimigas instaladas à nossa frente. E a elevação 747 parecia ser o seu baluarte. Outros golpes de mão já haviam sido apoiados por nossos artilheiros. Mas, naquele dia a operação possuía um significado todo especial: participava dela uma forte patrulha comandada pelo sargento Max Wolf, figura consagrada como personagem lendária, pelos feitos heróicos, por vezes, sobre-humanos, realizados em vários combates, já tendo recebido das mãos do Comandante dos Exércitos Aliados na frente italiana, General Mark Clark, a Estrela de Prata, condecoração das mais valiosas dos Estados Unidos da América do Norte. Seria esta a última missão como graduado, pois sua promoção pôr ato de bravura a 2º Tenente, concedida pelo Comandante da FEB, Marechal Mascarenhas de Moraes, já havia sido propalada. A missão de efetuar, como comandante de um pelotão, um golpe de mão, talvez o decisivo, na casa do ponto cotado 747, seria sua consagração como Sargento. Tudo nele era orgulho e felicidade por estar à frente daquele punhado de homens que iriam, sob sua ordem, sob sua exclusiva responsabilidade, atacar o objeto, fazer prisioneiros e buscar informes para o alto comando. Seus olhos azuis refletiam toda a alegria que lhe ia na alma. Dois cintos com munição, sobre seus ombros, cruzavam-se nas costas, permitindo diferenciá-lo, ao longe, de seus comandados. "Posso contar com sua Artilharia, capitão?", perguntou ele ao passar pelo observatório, ponto obrigatório de passagem para se atingir as posições inimigas daquela frente. Claro que podia, - foi a pronta resposta. E o artilheiro fez-lhe ver que, naquele momento, estava ali exclusivamente para apoiá-lo com os tiros que quisesse. A ele pertencia a totalidade das missões de sua Bateria. Com um "tchau" amigo de despedida desceu, o infante, as escarpas do Monte Forte, à frente de sua patrulha. Caminhava confiante e orgulhoso aquele rapaz do Paraná, reconhecido líder de seus companheiros de Arma. A atenção do artilheiro voltou-se imediatamente para sua Zona de ação, para onde ia o Sargento Wolf com seus comandados. A despedida alegre e otimista transformara-se em nervos tensos acompanhar o seu deslocamento até sem binóculo. Ao atingir o sopé do Monte Forte, a patrulha que marchava em comuna, passou a se espraiar no terreno e avançava na direção existente no ponto a alcançar. Na "terra de ninguém", seus elementos progrediam despreocupadamente. À medida, porém, que se aproximavam do objetivo, tomavam maiores precauções, aproveitando as dobras do terreno a fim de observarem, com segurança, qualquer movimento inimigo. À frente de seus comandados o Sargento Wolf avançava, cautelosamente, procurando sempre incutir-lhes ânimo e coragem. Era fácil reconhecê-lo pelos cintos de munição cruzados às suas costas. Já se aproximava da casa. Tudo era silêncio. Tudo indicava que lá não mais existia inimigo. Deitado, agora, fazia sinal aos companheiros como a indicar-lhes a direção do ataque. Com a devida precaução os componentes da patrulha se aproximavam de seu comandante. Tudo pronto se efetivar o assalto ao objetivo. Reinava silêncio quase absoluto. Cá no observatório parecia que ninguém respirava. Levanta-se o Sargento Wolf para se aproximar mais da casa. Uma rajada de metralhadora partiu das edificações que pareciam abandonadas e, rápido, lança-se ele ao solo. O mau pressentimento apossou-se do pessoal vigilante no posto de observação. Todos esperavam que aquele salto fosse, apenas, um gesto de defesa do sargento. Mas ele permanecia deitado. Apreensivamente, comunicamos o que víamos ao comandante do Batalhão. Não, não havia chegado ao seu Posto de Comando nenhuma noticia especial do sargento. Por enquanto, tudo ia bem. Mas lá continuava imóvel, aquela figura deitada de bruços, com duas cartucheiras cruzadas às costas. Eis que levanta a cabeça com esforço, olha para trás e deixa-a cair. Alguém rasteja em seu socorro. Outra rajada de metralhadora levanta poeira em sua direção. A esperança de que aquela rajada não atingiria o alvo foi logo desvanecida. Mais dois soldados avançam na direção dos que se encontram caídos na tentativa de socorrê-los. Uma saraivada maior de tiros vinda de outras direções obriga-os a recuarem ao ponto de origem. Nossa artilharia desencadeia, então, seus fogos e martela o terreno inimigo. O artilheiro, de seu observatório, vasculha os pontos de onde poderiam ter partido as rajadas inimigas e, neles, dirige seus tiros sem cessar. Rompido o cerco, a patrulha recebeu ordem de seu Batalhão para regressar, pois a missão de reconhecimento havia alcançado o êxito almejado. Com que angústia foi aguardado o seu regresso. Um a um, chegaram ao ponto de partida com fisionomias tristes, cabeças baixas, os comandados do sargento Wolf. Não havia mais dúvidas. Morrera o herói.

Cel R/1 Salomão Naslausky integrou a FEB, como Tenente Observador Avançado, do Grupo do Cel. Presta. Depoimento retirado do site http://www.brasil2gm.hpg.ig.com.br


Cabo Orlando Teixeira Borges, ferido por bala alemã é transportado  por
 dois companheiros, de um posto médico para uma ambulância.
Foto escaneada do livro "Histórias de Pracinha" - Joel Silveira.

Horrores de um Campo Minado 

Um dos agentes mais vulnerantes que os alemães usaram em larga escala foi a mina. Os horrores de um campo minado nos são descritos pelo soldado Alberto Rossi, da 8ª Cia. do 6º RI: "Eu era apontador da segunda peça do morteiro do Pelotão de Petrechos. Tomei parte na guarda de honra do Ministro Winston Churchill, quando ele nos visitou em Vada. Fiz toda a campanha do vale do Serchio; seguindo depois para o vale do Reno. No combate ao Monte Castelo, em 26 de novembro de 1944, tomei parte, juntamente com minha Companhia. Em março de 1945, estava em Gaggio Montano, quando a 10 de abril, partimos para Pietra Colora, perto de Abetaia. Já se falava no ataque de Montese, quando toda a frente italiana atacaria também. Na madrugada do dia 14 de abril nossa aviação e artilharia martelaram as posições inimigas . Às seis horas partimos para o ataque, que principiou às dez e quarenta. Às seis horas da tarde revezamos uma companhia do 11º RI, sob um fortíssimo bombardeio. Minha Companhia estava a poucos metros da igreja de Montese, que já estava toda queimada. Meu pelotão, comandado pelo 2º Ten. Gerson Pires Machado, tomou o lado esquerdo da rua e o restante da companhia o lado direito e nos organizamos no morro. Mal meu pelotão se havia organizado, um de meus colegas pisou numa mina, perdendo a perna, na altura do terço médio. Logo em seguida outro companheiro pisou noutra mina, ficando também sem a perna. Eu estava perto e fui socorrê-los, dando-lhes água e comprimidos de sulfanilamida. Vendo eu não poder transportá-los, tentei ir para junto de minha peça, para colocá-la em posição, e fazer fogo, pois os alemães nos repeliam. Dei uns dez passos e, quando me abaixei para apanhar o morteiro recebi uma explosão que me jogou às alturas. Já era escuro e eu não pude ver a mina. Meus ferimentos eram graves, pois perdi a perna esquerda, na altura do terço médio, a vista esquerda vazou completamente; fiquei com o rosto todo aberto, ambos os braços feridos e a vista direita ofendida, sem poder enxergar bem. Tarde da noite dois colegas tentaram socorrer-me, trazendo a manta para servir de padiola e quando deram uns dez passos um deles pisou em outra mina, perdendo também a perna direita. Logo após o outro ficou sem metade do pé, tudo por mina. Vendo não poder ser socorrido, fiquei até às dez horas do dia seguinte, quando fui socorrido pelo pelotão de minas. Já quase sem vida fui transportado ao posto de socorro, indo depois para o hospital de Pistoia, onde permaneci até 27 de abril, com os olhos vendados e o rosto em ataduras. Em Livorno tiraram as gazes, mas eu não enxergava um palmo na minha frente, sendo as refeições dadas pelos colegas que estavam melhores ou pelas enfermeiras. Estive em Nápoles, donde segui de avião para os Estados Unidos. Estive em Utah, Miami, Alabama, Pensilvânia, Colorado, New York, vindo depois para o Rio de Janeiro. No meu pelotão perderam a perna os seguintes colegas: José Antônio Lourenço, João Zangirolamo, Mauro da Cunha Canto e eu, Alberto Rossi. Meu comandante era o Capitão João Augusto dos Reis".

" A Epopéia dos Apeninos"
José de Oliveira Ramos

 
Alessandria - 13/05/1945
Gravura de Carlos Scliar

Relembrando o Passado...

Quando ainda no Brasil e na fase de organização do Corpo Expedicionário, além daqueles que profissionalmente deveriam integrá-lo, foi aberto o voluntariado para os que do mesmo desejassem fazer parte; ainda por que, em tão difícil missão, era necessário que seus componentes estivessem conscientes da responsabilidade que sobre seus ombros passaria a pesar. Conseqüentemente nada melhor que a espontaneidade da presença, para a priori atentar tão grandiosa decisão: de colocar a própria vida a serviço da Pátria. Objetivando a todos propiciar tão decisiva parcela de atuação na vida brasileira, à mulher também foi - através do voluntariado - possibilitando integrar a FEB como enfermeira. como no passado, a isso ela não se fez alheia. Ao chamamento da Pátria ainda sangrando, inúmeras foram as patrícias que de pronto atenderam ao concitamento feito: das mais distantes regiões dessa Pátria continente, muitas foram aquelas que tudo deixando de lado, ofereciam suas jovens e preciosas vidas em favor do Brasil. Quase ainda meninas, colocavam o aconchego de seus lares e seus naturais sonhos de moças em segundo plano: isso porque, à semelhança de seus irmãos, sentiam felicidade em poder dedicar suas vidas ainda em formação a serviço do nosso querido Brasil. É de se notar que, ressalvadas as raras exceções, a quase totalidade de nossas patrícias jamais se havia dedicado, mesmo por um minuto, aos misteres da enfermagem ( a não ser caseira). Para elas, experiência nova e jamais pensada se lhes era anteposta, todavia, estavam conscientes de que viriam a ser úteis à Pátria estremecida, esse seu objetivo e maior prêmio. Depois de vários cursos intensivos, onde inclusive fisicamente sentiram dificuldades, foram essas irmãs consideradas como aptas; e, assim, passaram a integrar o efetivo febiano. A partir daí, palmo a palmo, ombro a ombro, lado a lado, passaram elas a viver juntamente com seus irmão os piores momentos que uma guerra pode proporcionar. Quando em campanha, ficaram lotadas nos "hospitais de retaguarda", onde viriam a ter oportunidade de prestar serviços os mais significativos, na tentativa de prolongar e salvar as vidas daqueles que viessem a ser atingidos pelos petardos de guerra na linha de frente. Ao caracterizarmos suas bases de trabalho como "em hospitais de retaguarda", não tenhamos em mente o seguro afastamento dos mesmos em regiões não atingidas pelos conflitos da guerra. Pelo contrário, podemos considerá-los como também integrando o complexo de um campo de batalha; mesmo por que, por razões mais que lógicas, havia necessidade que os mesmos se situassem o mais próximo possível do local de combate, dada a urgente necessidade de vir o combatente ferido a ser assistido no mais curto espaço de tempo. Por diversas oportunidades, os denominados "hospitais de retaguarda" tiveram sua segurança posta à prova, precisando, inclusive, da proteção bélica e de balões de barragem ante a iminência de um ataque aéreo, como no caso, do hospital de Livorno. Jamais pensemos que suas instalações se processavam em prédios edificados com segurança. em muitas vezes, eram imóveis semidestruídos que, depois de convenientemente reparados e adaptados, eram utilizados como local destinado a receber os feridos da linha de frente. Tais locais, não fazia muito, haviam servido como palco dos mais cruentos combates. Houve ocasião em que, pretendendo dar um melhor aspecto ao local, ao ser revolvida parte do terreno, o jardineiro inadvertidamente atingiu com sua ferramenta uma mina, ocasionando com isso o aumento de vítimas da guerra; inclusive duas enfermeiras brasileiras que, na oportunidade, se encontravam em enfermaria próxima, foram atingidas por estilhaços do petardo em questão. Assim, bem difíceis foram os momentos vividos por nossas enfermeiras. Porém, com estoicismo e abnegação, a tudo superaram. Em tudo e por tudo, maravilhoso foi o seu trabalho na tentativa de minorar o sofrimento do irmão dolorosamente atingido pelos mortíferos engenhos da guerra. Quantas vezes, e em noites indormidas, à cabeceira do leito do combatente atingido tudo fizeram para devolvê-lo ao aconchego dos seus entes queridos! Quantas vezes, tentavam suprimir as deficiências de um hospital de campanha com o fervor das preces que os seus corações brotavam em favor daquele irmão que somente a Providência Divina tinha condições de prolongar a vida! Quantas vezes, por bem entenderem as frases que brotavam do companheiro ferido e ante a compreensão da chegada do inevitável, num esforço superior às suas frágeis forças tudo faziam para conter as lágrimas que, vindas do mais fundo de seus corações femininos, só desânimo causariam ao herói ferido! Quantas vezes, somente desejando voltar a vê-los sorrir, a essas bravas somente cabia cerrar as pálpebras daquele que oferecera à Pátria sua jovem e radiosa existência! Creiam todos que, se difícil foi a missão do querido irmão combatente, não menos fácil foi a tarefa de nós outras, as Enfermeiras da FEB. Ao recordarmo-nos de momentos tão marcantes em nossas existências; ao revermos irmãos tão queridos que, pelo muito que junto sofremos, mais aprendemos a estimar; ao reverenciarmos saudosas aqueles que lá ficaram ou mesmo os que já se foram; jamais poderemos esquecer do que para nós representou o privilégio de havermos integrado a FEB. Inúmeros foram os momentos por nós vividos que, pelas circunstâncias que os cercaram, jamais poderão ser esquecidos. Dentre muitos e, numa sincera homenagem a todos aqueles que por força da guerra mais diretamente estiveram ligados às atividades de nossa missão como Enfermeira da FEB, ressaltamos os dias (ou meses) em que estivemos servindo no 7 th Hospital, em Livorno; onde, em média, tínhamos sob nossos cuidados cerca de 50 baixados com as mais diferentes origens. Certa feita, aproximávamo-nos de nossa enfermaria, quando constatamos que um pracinha recém-chegado da linha de frente, completamente desmemoriado em razão de um deslocamento de ar produzido por explosão de uma mina, era com muita dificuldade contido por 4 enfermeiros dentre os mais fortes que serviam no hospital. Era para todos nós difícil aceitar a simples visão de tal cena, isso por que os que conheciam aquele irmão, sabiam-no dos mais alegres e loquazes, naquele exato momento de tudo isso pouco ou quase nada restava. Era um ser humano àquela altura alheio a todos e a tudo que, como verdadeira fera, a ninguém atendia. Eis que, quando maior resistência oferecia, possivelmente num segundo de reflexão vislumbrou ele a nossa pequenina figura, da irmã que por missão e coração - mesmo em lágrimas - procurava compreender e socorrer o mano aflito. Exatamente nesse momento, aquele que nada atendia e ninguém respeitava, inclusive pela força, foi por nós docilmente conduzido e levado a tratamento. A bondade divina para nossa alegria, inclusive daqueles que são caros, fez com que ele regressasse ao Brasil e, ainda hoje, o temos como um irmão muito querido. Não havia ainda o Brasil entrado na guerra e nossa geração já vibrava com a destacada atuação de um companheiro. Inúmeras foram mais oportunidades em que, em diferentes competições esportivas (civis e militares) esse patrício fazia vibrar a todos nós com suas retumbantes vitórias para as cores brasileiras nas pistas de atletismo (nacionais ou mesmo estrangeiras). Organizada a FEB, sentimos orgulho de tê-lo entre nós. No decorrer da campanha em solo italiano, eis que ferido em combate, foi seu corpo atingido em vários locais. Quis o destino que suas pernas, responsáveis por tantas glórias no esporte, viessem no decorrer da campanha a ser, de uma vez por todas, impossibilitadas de continuar conseguindo para o Brasil, medalhas as mais honrosas. Hoje, se com orgulho pode ele exibir as condecorações que por seu esforço para o Brasil conseguiu nas competições, com muito mais orgulho ostenta ela a Cruz de Combate obtida nas irregulares passarelas dos campos de batalha. Dentre muitos, não podemos esquecer de um valente patrício dos mais bravos e destemidos Comandantes de Patrulha - que numa das incursões em terreno inimigo, nas proximidades de Monte Castelo, foi seriamente atingido por explosões de granadas. Ao dar entrada no Hospital, quase semimorto, grande foi o trauma a nós causado ante a visão que seu corpo ensangüentado nos ensejava ver. Seu tronco, e principalmente a cabeça, eram como que uma só ferida, tal o sangue que brotava das partes atingidas. Por toda parte trazia aquele bravo da linha de frente encravados em sua carne, muitos e muitos estilhaços da granada que o vitimou. Dizer o que para nós significou a assistência àquele irmão é impossível. Cremos que estamos dispensados de mais palavras, para contarmos que, por muitos dias e noites, num trabalho difícil e doloroso para nós dois, nossa missão era extrair - um a um - aqueles pedaços de ferro e aço que contiveram aquele bravo em sua escalada vitoriosa. Nos dias de hoje, quando temos felicidade de reencontrá-lo em nossa Pátria, ainda vivemos momento de emoção ao lembrarmo-nos do acontecido. Segundo ele, como troféu maior, ainda tem incrustados em seu corpo estilhaços daquela granada que há 28 anos passados quase não o deixaram voltar à Pátria. Assim, temos ocasião de, evocando um passado para nós sempre presente, dentre muitas, citar passagens por nós vividas quando, como Enfermeira da FEB, tivemos a felicidade de, servindo no 7th Hospital, em Livorno, dar um pouco de colaboração e assistência a nossos irmãos atingidos nas refregas da linha de frente.
Ao concluirmos, citaremos apenas mais um caso de que tomamos parte, já no Brasil e quando mais de 10 anos já nos separavam de nosso vitorioso regresso à Pátria. Certa tarde, quando era grande o movimento de pessoas no hall dos elevadores junto ao Gabinete Ministerial do Palácio do Exército, eis que um senhor, cego das duas vistas, sentia dificuldades (como é natural), em locomover-se. Por razões que não recordamos, naquele exato momento também transitávamos pelo mesmo local. Naquela babel de vozes, no burburinho entre a chegada e saída dos elevadores, para emoção nossa, aquele cego, possuidor da acuidade que somente Deus permite em tais casos, identificava dentre as variadas e diferentes tonalidades de voz a nossa. Incontinente, dele nos aproximamos e entre risos de alegria e lágrimas de emoção que a nós ambos envolvia, e ante a natural perplexidade de que ficaram possuídas as demais pessoas no momento presentes à cena, tivemos a felicidade de merecer dele o carinho que lhe ensejava naquele encontro. Sob forte emoção e com a natural dificuldade que tal situação determina, entrecortada de risos e lágrimas, a muito custo conseguiu aquele bravo e querido irmão nos dizer: "Que felicidade, que alegria ao novamente encontrar você. A você, que foi minha dedicada e carinhosa enfermeira na Itália, o meu eterno muito obrigado". Essas, dentre muitas, as inúmeras e evocativas passagens de momentos por nós vividos na guerra que, para todo o sempre e ao recordá-las, se júbilo podem nos proporcionar ao coração por certo são determinantes de lágrimas ante a grande emoção que nos ensejavam.

1º Ten. Enfermeira Jandyra Faria de Almeida
"Revista Militar Brasileira" - Número Especial - Secretaria Geral do Exército - 1973


Engenharia em ação
Foto escaneada do livro "Eu estava lá" de Elza Cansanção

ROMA FAMINTA

As oito horas, o camariere me deixa aqui no quarto 7, do Hotel de La Ville, os dez ou 11 diários romanos, uma única folha comprida e estreita impressa dos dois lados. É começo de um novo ano e a imprensa de Roma tem palavras amargas e comentários melancólicos a respeito de como 1945 tratará a gente italiana, e pergunta se com os próximos 365 dias virá alguma solução definitiva para seus males físicos e políticos. Tenho andado, nestes últimos dias, por quase todas as estradas entre a frente e Roma, e sei perfeitamente o que são aqueles males. Vi, em Viterbo, famílias inteiras habitando em cavernas abertas na rocha, porque seus lares foram destruídos. Vi, em Pisa, os bambini me assaltarem com fúria, atrás de um pedaço de chocolate ou de uma carteira de cigarros. Em Pistóia, uma pequena cidade próxima ao setor em que lutam os brasileiros, uma senhorita me ofereceu um broche florentino em troca de um pouco de açúcar que eu poderia trazer do meu quartel. Nas idas e vindas do meu jipe por dezenas de povoados e cidades do litoral e do centro italianos, tenho contemplado espetáculos que dificilmente poderão ser esquecidos. É toda a tragédia de um povo aniquilado pela guerra, faminto, esfarrapado, um povo que, ao contrário das várias outras nações que vão sendo libertadas pelos aliados, não enxerga no futuro qualquer esperança amiga. Todos os erros e traições do fascismo estão agora ressurgindo em sofrimentos atrozes e o fascismo cometeu tantos crimes na Itália que muitos deles ainda não são conhecidos dos próprios italianos. Muita gente me tem perguntado aqui, por exemplo, por que os brasileiros, uma gente tão simile, estão em luta contra os italianos. E quando lhes respondo que, entre outras coisas, submarinos da Itália afundaram navios brasileiros, eles me olham com espanto e incredulidade, como se eu lhes estivesse repetindo qualquer história fantástica da Rádio de Berlim. O ano de 1945 entrou em Roma através de 3 mil pessoas miseráveis, sem abrigo e seminuas, tangidas da Toscana pela guerra. Tive oportunidade de ver de perto, no primeiro dia do ano, a multidão aniquilada reunida numa praça de um dos subúrbios romanos. Hoje, em toda a Itália, há um círculo de famintos e desabrigados abraçando as grandes cidades abandonadas pelos nazistas. O problema de Roma é o problema de Nápoles, de Florença, de Pisa, de Catânia. O governo não sabe o que fazer, já que qualquer solução implica fornecimento de víveres, roupas e habitações, coisas impossíveis de encontrar numa Itália rovinata pela guerra. Mesmo nas cidades menos atingidas, como Roma, o estado de pauperismo da população é fácil de ser notado. Desde 1940, por exemplo, que o italiano não manda fazer um terno novo, com exceção, é lógico, dos maiorais fascistas, muitos dos quais ainda se encontram em seu cômodo na parte libertada do país, protegidos por uma política aliada de conciliação que tanto vem sendo combatida pelos partidos da esquerda. Neste inverno, um dos mais agudos dos últimos tempos, os homens vestem sobretudos surrados, e as mulheres repetem, através dos seus vestidos gastos, as modas de ontem. Os preços fantásticos tornaram impossível a compra de um par de sapatos ou de um simples casaco de lã. As vitrines das melhores lojas de Roma, no corso Humberto, estão vazias como se tivessem passado por um saque. Um diário romano, ltália Nuova, pergunta em grandes títulos: "De que precisamos?", e a resposta vem logo abaixo: "Precisamos de tudo: roupa, remédios, alimentação, lares." Il Popolo publica em toda sua primeira página o apelo que Myron Taylor, representante do presidente Roosevelt junto ao Vaticano, acaba de endereçar ao povo dos Estados Unidos, pedindo-lhe que ajude por todos os meios a desgraçada gente italiana. O premier Bonomi e o ministro Gasperi, do Exterior, também fizeram transmitir pelo rádio apelos semelhantes. Entrementes, milhares de italianos rondam as embaixadas aliadas, particularmente a brasileira e a norte-americana, à procura de um meio qualquer através do qual possam trocar seu país devastado pelas promessas do Brasil ou dos Estados Unidos. Uma das coisas mais comuns, aqui na Itália, é encontrar um italiano que possui parentes em São Paulo. Eles falam conosco nas barbearias, nos bares, e nos perguntam se conhecemos seus parentes ou amigos, como se o Brasil fosse apenas uma rua do Brás ou da Mooca. Ainda hoje, num estabelecimento fotográfico, um rapaz me levou para o canto da sala e me encheu de perguntas angustiosas. Ele é filho de um brasileiro, seu pai se chama Valdemar Cordeiro, funcionário do Ministério do Trabalho e residente numa cidade do interior goiano, parece que Ipameri. Desde o começo da guerra que o rapaz está tentando se comunicar com o Brasil, mas tem sido inútil. Ele me conta que quer deixar tudo isto, aqui, tomar um navio e ir para onde está seu pai, pergunta o que deve fazer. Mas que sei eu? O seu desespero é o desespero de milhares.

"O Inverno na Guerra"
Joel Silveira

Um Herói nunca morre!

Simples História de um Homem Simples
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