FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA |
A MULHER
BRASILEIRA NA SEGUNDA GUERRA
Enfermeiras do 7th
S. Hospital. Da esquerda para a direita: sentadas - Nilza, Elza Viana,
Alice,
Nicia, Lindaurea e Amarina; de pé - Virgínia Leite, Haidée, Acácia, Lígia e
Alkmin.
Foto escaneada do livro "A Mulher Brasileira na Segunda Guerra
Mundial"
Cap. Enf. Olímpia de Araújo Camerino.
A Revolta Feminina aos Torpedeamentos Quando o Brasil começou a ter seus navios mercantes torpedeados, a população começou a revoltar-se, e principalmente as mulheres, que não podiam suportar tal ofensa. As mulheres brasileiras jamais se furtaram à sua obrigação, ao seu dever patriótico de defender a sua Pátria. Imbuídas desse espírito de patriotismo, procuraram encontrar uma forma de atender a esse chamamento e a maneira encontrada foi preparando-se para tratarem os futuros feridos. As Escolas de Enfermagem encheram-se de jovens candidatas a enfermeiras. Como não havia tempo hábil para formar enfermeiras profissionais, cujo curso tinha a duração de 3 anos, foram criados dois outros cursos: de Samaritanas, que era um Supletivo de Enfermagem com a duração de um ano letivo, e o de Voluntárias Socorristas, com 3 meses de treinamento.O número de enfermeiras profissionais era muito pequeno, assim, resolveram aceitar qualquer diploma de curso de Enfermagem, fosse o de profissional, cuja duração, como disse, era de 3 anos, o de Samaritana, de 1 ano letivo, ou o de Voluntária Socorrista, de 3 meses. Uma vez apresentado o diploma de habilitação ao atendimento ao doente, qualquer que fosse o grau, no Curso que seria ministrado, no Exército seriam feitas a seleção e o aperfeiçoamento, específicos para a guerra. O Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército (CEEREX) foi ministrado em sua maioria com integrantes desses dois cursos, e a FEB contou apenas com 6 enfermeiras profissionais. Uma vez elaboradas as leis de convocação, teve início o recrutamento. Naqueles idos de 1940, havia uma carência muito grande de Enfermeiras Profissionais (como eram chamadas as atuais Enfermeiras de Alto Padrão). Contou-me o Gen. Souza Ferreira que, certo dia, os americanos a ele se dirigiram perguntando: "E as suas enfermeiras?", e o Gen. respondeu: "Não temos". Os americanos se mostraram surpresos e disseram que nós teríamos que ter as nossas próprias enfermeiras, pois as deles estavam já muito cansadas e, além do mais, não falavam a nossa língua. Partindo dessa pressão dos americanos foi que nossas autoridades se movimentaram no sentido de organizar uma equipe de enfermeiras. Face a essa situação é que foi criado o Corpo de Oficiais Enfermeiras do Exército. 1... 2...
Esquerda... Direita... Acertem o Passo |
Formatura das
Voluntárias Socorristas, em 1942, no Palácio Tiradentes.
Foto escaneada do
livro "1... 2...
Esquerda... Direita... Acertem o Passo" de Elza Cansanção.
Criação e Preparação do Corpo Feminino O Quadro de
Enfermeiras da Reserva do Exército foi criado pela Lei que, a seguir,
transcrevo: 1... 2...
Esquerda... Direita... Acertem o Passo |
Samaritanas da Cruz
Vermelha em 1942.
Foto escaneada do livro "1... 2... Esquerda... Direita... Acertem o
Passo" de Elza Cansanção.
As Primeiras
Militares
E FOI ASSIM...
que a mulher brasileira, conscientizada de que a defesa do território
pátrio não é missão exclusiva do sexo masculino, com o romper da contenda
procurou uma forma de ajudar e revidar as afrontas recebidas. A forma
encontrada, face ao machismo da época, foi acorrer às escolas de
enfermagem. O quadro de enfermeiras militares foi criado, na realidade,
por imposição dos americanos. Não pensavam os dirigentes militares da
época em incorporar mulheres, tanto assim que quando me apresentei, a 18
de abril de 1943, o Coronel Emanuel Marques Porto, ao receber-me no
gabinete do Diretor de Saúde, ficou surpreso e comentou: - "Mas o
Brasil não vai para a guerra, como é que você quer ir? Olhe, minha cara, o
mínimo que você tem é febre cerebral". Mas eu não tinha outra febre,
senão a de revidar a afronta que estávamos sofrendo e de defender minha
PÁTRIA. E o Brasil foi para a guerra e, melhor, FOI E VENCEU.
O machismo brasileiro imperou acima de tudo. Primeiro, não
queriam organizar o Corpo Auxiliar Feminino, depois tiveram de fazê-lo,
mas não queriam dar posto militar e, por isso, criaram um complicado
esquema para o quadro feminino. Para a criação do contingente feminino,
procurou primeiro o Exército entrar em ligação com a diretora da principal
escola de enfermeiras, para que ela indicasse as que poderiam formar o
quadro militar; entretanto, a diretora primeiro quis saber: "quanto vão
ganhar as enfermeiras?", e ao saber que o soldo seria de
Terceiro-Sargento, ou seja, de 520$000 (quinhentos e vinte mil réis),
respondeu que as enfermeiras de sua escola não se sujeitavam a ganhar uma
quantia tão ridícula. Vejam que a "patriota" não quis saber se o Brasil
precisava de ajuda, só se interessou pelo dinheiro. Assim sendo, o
Exército decidiu abrir um voluntariado, a fim de recrutar as enfermeiras.
O quadro de enfermeiras da reserva do Exército foi criado pelo Decreto-lei
6.097, de 13 de dezembro de 1943. O presidente da República, usando das atribuições que
lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta: Seguiu-se a esse decreto da criação a preparação dos
cursos e a abertura do voluntariado. Por já haver no País uma grande falta
de enfermeiras, chamadas profissionais, hoje conhecidas como de alto
padrão, decidiram que aceitariam também as Samaritanas, curso instituído
na época e que era uma espécie de Artigo 99 de enfermagem, pois tinha a
duração de um ano, com toda a matéria condensada, e o de Voluntárias
Socorristas, cuja duração era de 3 meses. De posse do diploma de
enfermagem, a voluntária passaria a freqüentar o curso do Exército, que
era o equivalente ao CPOR, sendo feminino. Nossa sigla era
CEEREX. Curso nos Estados Não foi só no Rio de Janeiro que foram ministrados cursos. Do Ceará veio Maria Hilda Melo, que chegou à Itália em 2 de maio de 1945, portanto já com a guerra terminada. Da Bahia vieram: Araci Arnaud Sampaio, Isabel Novais Feitosa (sergipana), Jandira de Almeida, Joana Simões de Araújo (sergipana) e que foi para o Transporte Aéreo, Lenalda Campos (sergipana), também do Transporte Aéreo. De Minas Gerais foram: Carlota Melo, llza Meira Alkimim, Rosely Belém Teixeira. Do Paraná eram: Acássia Cruz, Edith Fanha, Guilhermina Rodrigues Gomes, Hilda Ribeiro, Jacy Chaves Lasserê, Maria da Conceição Soares, Wanda Sofia Magewsks e Virgínia Leite. "E FOI ASSIM... que a Cobra fumou" |
Enfermeiras do 45th
General Hospital - Nápoles.
Da esquerda para a direita: Nair, Soares, Edith,
Carlota, Roselys e Isabel
Foto escaneada do livro "A Mulher
Brasileira na Segunda Guerra Mundial"
Cap. Enf. Olímpia de Araújo
Camerino.
As Enfermeiras da FAB A nossa Força Aérea, quando de sua organização, ofereceu maiores vantagens, quer pecuniárias, quer militares, para as enfermeiras, de forma que incorporaram seis enfermeiras oriundas da Escola Ana Néri. Foram elas: Isaura Barbosa Lima (chefe de grupo), Ocimara Ribeiro, Regina Cerdeira Bordalo, Judith Areas, que foi das enfermeiras a primeira a falecer (1954), Maria Diva Campos e Antonieta de Holanda Martins, ambas falecidas em 1970. Essas moças não foram treinadas aqui no Brasil como nós, não passaram por toda aquela tortura de treinamento físico a que fomos submetidas, nem tiveram aulas de francês, para trabalharem com os americanos. Foram enviadas para os Estados Unidos e treinadas nos hospitais americanos, adaptando-se às técnicas e ao material que iriam utilizar durante o serviço de guerra. Acompanharam todo o tempo a sua tropa, inclusive seguiram para o teatro de operações no navio Colombe como os demais oficiais, chegando ao porto de Livorno no dia 6 de outubro e indo servir primeiro no 154th Station Hospital em Civitavecchia, e posteriormente no 12th General Hospital em Tirrena-Livorno, onde permaneceram até o final da guerra. O grupo de enfermeiras do Exército era completamente heterogêneo, quer no que se refere à parte técnica, como às condições sócio-econômicas, o que dificultava o comando. Por inadaptação, tivemos que fazer retornar ao Brasil algumas. Das 67 que foram à Itália, apenas 54 ficaram em serviço, sendo que umas, já com ordem de retornar, conseguiram ir protelando até voltarem com o grupo que retomou de navio escoltando a espiã Margarida Richermann, uma espiã brasileira que operava na rádio alemã insuflando nossos soldados à deserção. As primeiras voluntárias do Brasil sofreram difamações e pechas horríveis. Até a mulher de um militar de alta patente do Exército tachou-nos de "prostitutas que queriam ir para a guerra para fazer a vida". A nossa guerra, na realidade, começou aqui mesmo. É doloroso sentir que ainda hoje, passados mais de 40 anos, ainda se encontrem pessoas maldosas que procuram minimizar o nosso trabalho, daquelas jovens que não titubearam em trocar o conforto de seus lares pela incerteza da guerra. Mas uma coisa posso dizer de cabeça erguida, podem não ter sido as melhores enfermeiras do mundo, mas o melhor testemunho de sua situação e de sua eficiência pode ser dado por aqueles que estiveram sob seus cuidados em hospitais de campanha: os brasileiros que delas receberam não só um alívio para suas dores, como o carinho e o apoio, jamais negado, de uma palavra amiga e bondosa, na ocasião certa. A enfermeira militar, que integrou a FEB e a FAB na Itália, que arrostou com todas as incompreensões e preconceitos da época, constata, com tristeza, que ainda existem pessoas desinformadas que procuram minimizar tudo aquilo que elas fizeram com carinho, eficiência, abnegação e patriotismo. Como enfermeira-chefe que fui do maior contingente reunido em um só hospital, o 7th Station Hospital, com 24 das 67 que foram, não posso me furtar de dizer que souberam ombrear-se satisfatoriamente com as profissionais americanas. A Falta de Assistentes Sociais O Exército americano contava com um grupo de moças que aliviava grandemente o trabalho das enfermeiras: eram as assistentes sociais, voluntárias da Cruz Vermelha. A elas cabia a função de dar todo apoio moral aos pacientes, escrevendo cartas para os que não podiam, lendo para os cegos, cortando-lhes as unhas, organizando shows nas enfermarias, enfim, cuidando do espírito, enquanto as enfermeiras cuidavam dos corpos. Entretanto, nós brasileiras, além de sermos em número muito reduzido, não contávamos com essa ajuda. Só no 45th General Hospital, em Nápoles, contamos com uma excelente voluntária. A consulesa Clarice (Lispector) Gurgel Valente. Em suas horas de folga dos misteres do Consulado, vinha nos ajudar a dar assistência moral aos pacientes. A Falta de um Posto Hierárquico Por
termos saído do Brasil sem posto hierárquico regular , passamos por
inúmeras situações difíceis, conforme já relatei. Alguns choques tivemos
com as enfermeiras americanas, principalmente com chefes, que procuravam
nos dar ordens. Várias vezes tive que fazer sentir que ali tínhamos as
mesmas funções, embora a questão de postos fosse diferente. Éramos também
de tropa diferente e não subordinadas a elas. Certa feita, quando estava
no 7th Station Hospital, a enfermeira-chefe americana, que era a Major,
transferiu umas enfermeiras brasileiras de enfermaria e deu-lhes uma série
de ordens, sem que eu fosse consultada, nem comunicada. Quando recebi o
boletim com as tais ordens, perdi a paciência e fui a ela de dedo em riste
e fi-la sentir que não admitia que ela se intrometesse na administração do
meu pessoal, que ela era Major e eu Segundo-Tenente, mas que as funções
eram iguais. Ela era enfermeira-chefe das americanas, e eu a chefe das
brasileiras. Se pretendia fazer algumas modificações na escala, primeiro
tinha que falar comigo e, se eu concordasse, então faríamos as
modificações. Que a tropa brasileira era soberana e não composta de
empregados dos americanos. Tudo isto foi dito à Major, em presença do
Coronel Comandante do Hospital. Está claro que tudo foi "muito bem
entendido", pois foi dito em claro e perfeito inglês. O Coronel ficou
passado e pediu milhões de desculpas, alegando que deveria ter sido um
misunderstanding, pois até pouco tempo as enfermeiras brasileiras não
tinham chefes e obedeciam às ordens diretas da Major, mas que eu ficasse
tranqüila que não aconteceria mais. Posteriormente, a Miss Falcone veio
desculpar-se e mais uma vez fiz-lhe ver que o posto máximo das brasileiras
era de Segundo-Tenente (arvoradas), mas que nossas funções eram iguais,
portanto ela deveria esquecer o posto e fixar-se na função. Tivemos
algumas dificuldades com umas colegas, que não se adaptaram ao serviço ou
às condições de vida em campanha e outras por terem tido problemas de
saúde, não agüentando os rigores da vida em barracas, sem conforto, e
tiveram que retornar ao Brasil. Permaneceram apenas 54 em serviço nos
quatro hospitais onde trabalhavam os brasileiros. "E FOI ASSIM... que a Cobra fumou" |
Um Herói nunca morre!
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