FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA

 

O Cotidiano da FEB



O Cel. Caiado de Castro, através de uma central de transmissão de campanha,
transmite aos seus comandados do Regimento Sampaio as ordens de ação.
Foto escaneada do livro "E FOI ASSIM ... que a Cobra fumou" de Elza Cansação.


Grupo de mensageiros da Companhia de Comunicações
Foto escaneada do livro "E FOI ASSIM ... que a Cobra fumou" de Elza Cansação.

As Comunicações

Durante uma operação de campanha, este serviço é vital. Através de seus 72 telefones de campanha e pelos 174 telefones magnéticos (sem baterias e sem campainha) ou pelos 29 rádios de mão tipo Cia ou mesmo pelos 48 rádios de mochila e dez rádios de mesa ou mesmo pelos mensageiros, forma feitas todas as comunicações da FEB, quer na frente, quer na retaguarda. Podia ser o mais acirrado combate, mas as comunicações não podiam sofrer solução de continuidade. As comunicações são como as artérias por onde circulam o sangue, no caso, as ordens dos chefes, as informações preciosas dos sentinelas, a palavra dos capelães, ou mesmo a música para alegrar o "mestre-praça". Três linhas telegráficas e de telefonia eram estendidas por todas as frentes interligando-as com os postos de comando. As centrais telefônicas são o coração pulsante. Quando por acaso eram interrompidas essas comunicações, saía de imediato urna equipe correndo a linha afim de restabelecê-la de imediato, mais das vezes sob o fogo do inimigo. Essas patrulhas de reparos geralmente eram compostas por um cabo e dois soldados. Muitos foram os atos de bravura praticados por esses homens, mas não podemos deixar de citar um, o soldado do 1º RI Laércio Xavier de Mendonça. Ele fazia o impossível para que as comunicações não fossem interrompidas, reparando as linhas em situações as mais difíceis, frente ao inimigo, estendendo os cabos nos lugares mais perigosos. Por uma ironia do destino, veio a falecer quando, gozando de um merecido repouso, foi fazer uma "tocha" até Milão. Das comunicações eram também os mensageiros, cuja função era complementar a tarefa das comunicações. Quando a mensagem não podia ser transmitida pelo rádio ou pelo telefone, cabia ao mensageiro a função de levá-la pessoalmente. Sobre os mensageiros, diz M. T. Castelo Branco em seu livro "O Brasil na II Grande Guerra:

"De dia ou de noite, quase sempre debaixo do fogo do adversário, particularmente nas linhas de frente, onde era mais intenso, enfrentando perigos outros, próprios do meio ambiente, os mensageiros escreveram, com muito suor e sangue, uma das páginas mais gloriosas da história das comunicações da FEB, somente superada pela epopéia
dos telefonistas."

"E FOI ASSIM... que a Cobra fumou"
Elza Cansanção


Inspeção do Gen. Clark, Comandante do XV Corpo de Exército.
Foto escaneada do livro "A Verdade sobre a FEB" do Mal. Floriano de Lima Brayner.

SERVIÇO DE TRANSMISSÕES

Serviço de capital importância, por meio do qual os comandos enviam ordens e recebem informações, o Serviço de Transmissões da FEB funcionou de modo impecável e exaustivo. A cargo de oficiais de Engenharia, de que faz parte, mas cujas tendências modernas são de completa autonomia, foi chefiado pelo Major Arnaldo Augusto da Mata, tendo como Adjunto o Cap. Hervê Berlanez Pedrosa. Seus principais auxiliares foram o Cap. Afrânio Viçoso Jardim, chefe do Depósito de Material de Transmissões, o qual foi gravemente ferido, a 4 de janeiro de 1945, sendo substituído pelo Ten. Carlos Pereira; Ten. Pedro Abdala, chefe do Grupo de Tradutores; Ten. Aristides Pereira de Morais, do Serviço de Rádio. Nos corpos de tropa havia dez Oficiais de Comunicações, encarregados do serviço nas unidades. O órgão principal de execução era a Cia. de Transmissões, comandada pelo brilhante oficial Cap. Mário da Silva Miranda, tendo como Sub-Cmte. o Cap. Hélio Richard. Os Tens. Marcelo Mena Barreto Falcão, Rui de Andrade Costa, Gernes da Silva Costa (também ferido no dia 4 de janeiro de 1945), Hélio da Costa Nunes Pinto, e Antonio Carlos Sequeira, completavam a oficialidade da Cia. de Transmissões. Intimamente ligada à tropa, agindo em plena zona de combate, as Transmissões pagaram o tributo de quatro mortos (os rádio-operadores Sargs. Assad Féres e Geraldo Santana, o soldado mensageiro Ulpiano Santos e o soldado cozinheiro Miguel Francisco Dias) e quinze feridos, sendo dois oficiais, dois sargentos, três cabos e oito soldados. A organização do Serviço compreendia as seguintes seções : Chefia, Serviço de Rádio, Grupo de Tradutores, Ser. Trans. do Dep. de Pessoal, "2688 Signal Detachment", Pelotão SIAM, Depósito de Mat. de Trans. e Cia. de Transmissões. O "2688 Signal Detachment" e o Pel. SIAM foram duas seções americanas, do V Exército, postas à disposição da FEB, a primeira para facilitar a ligação da FEB com o V Ex. e IV Corpo, e a segunda (Signal Information And Monitoring) , para controlar a segurança criptográfica, o sigilo das comunicações pelo rádio e prestar informações de ordem tática das unidades em linha aos Cmtes. da Divisão e do Exército. Em todos os setores de atividades bélicas, nosso convívio com os norte-americanos foi cheio de ensinamentos, dando-nos oportunidade de conhecer os progressos a que atingiram a ciência e indústria dos Estados Unidos e a fabulosa riqueza de meios com que eles literalmente abafaram seus inimigos. Creio entretanto foi no setor das Transmissões que maiores proveitos tivemos, pela variedade e perfeição de instrumentos postos em mãos de nossos especialistas. A quantidade de recursos à nossa disposição excedeu a todos os cálculos e, segundo a opinião do Major Arnaldo Mata, nenhuma outra Divisão teve tão extensa rede de comunicações. Consumimos 6 610 000 metros de cabos telefônicos e utilizamos 1 117 telefones. Foram empregadas quatro centrais de quarenta direções e 85 quadros de 12 e 6 ligações. Usamos onze tipos diferentes de aparelhos rádio-transmissores, desde os montados em caminhões, até os portáteis, de 29 quilos, com alcance de 8 quilômetros, em radiofonia. Telégrafos com fio, criptógrafos e teletipos foram empregados. Aparelhos de "remote-control" e frequencímetros completavam o equipamento técnico. Para estender as mil léguas de fios (mil léguas !) , nossos homens utilizaram desenroladeiras à mão ou montadas em caminhões e "jeeps". As linhas telefônicas ao longo das estradas eram de fácil construção, mas difíceis de serem conservadas. Eram com freqüência danificadas pelos caminhões, tanques e tratores, ou cortadas por pessoas ignorantes ou de má fé. As linhas que se afastavam das estradas davam mais trabalho para construir, porém, se conservavam com facilidade. O tronco de Porreta a Marano, para o PC do 6º RI foi estendido pelo leito do Rio Reno, durante o inverno. Foi nessa construção que o Ten. Marcelo Mena Barreto Falcão apanhou graves geladuras nas mãos, que o fizeram baixar ao hospital. Os cabos na maior parte não eram recolhidos, apesar dos esforços do Comando nesse sentido, sobretudo por falta de pessoal. Quando havia um deslocamento de PC, que liberava os cabos instalados, havia urgente necessidade de novas instalações, para manter a ligação com as unidades que avançavam. O pessoal era todo absorvido em acompanhar a tropa e os cabos iam ficando abandonados para trás. Cada quilômetro de cabo custava 825 cruzeiros, donde se vê que só aí lá se foram 5 701 25 cruzeiros. Os pombos-correios foram utilizados em pequena escala. O V Exército pôs ao serviço da Divisão Brasileira o "62nd. Pidgeon Loft" e muitos colombogramas foram enviados. Com o progresso da telefonia com e sem fio, esse processo de comunicação passou a segundo plano, embora haja tendência em conservar os pombos-correios, como recurso de emergência. O Serviço de Rádio da Chefia de Transmissões estabeleceu o circuito Itália-Brasil, através da estação de ondas curtas JJQW, graças aos esforços do Cap. Hervê B. Pedroza. A princípio as comunicações se faziam com PUC, estação da Rádio Internacional, e mais tarde com PTA, Central Rádio do Exército. Assim é que durante a campanha nosso Quartel General na Itália estava em constante comunicação com o Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro. Nos primeiros dias de maio de 1945, após a vitória, já em Alessandria, a JJQW iniciou as transmissões em radiofonia, falando diretamente com PTA. Criou-se então um serviço de ligações telefônicas entre PTA e as residências dos oficiais expedicionários, o que permitia conversarmos com pessoas de nossa família. O caminhão onde funcionava a JJQW se tornou a Meca dos expedicionários. As conversas radiofônicas principiavam às 21 horas (hora italiana) ou sejam 16 horas do Rio de Janeiro e às vezes se prolongavam por mais de duas horas. Quando a Divisão se deslocou para Francolise, próximo de Nápoles, a JJQW se instalou numa pequena elevação, atrás do acampamento, para onde toda noite havia uma romaria. Foi organizada uma transmissão de mensagens ditas pelos próprios soldados, ao microfone, e ligações domiciliares para os oficiais. Nos primeiros dias houve cenas interessantes. A ligação telefônica no Rio de Janeiro era feita de improviso e a pessoa que atendia já falava diretamente com o esposo, pai ou irmão, na Itália. A surpresa era tão grande que muitos desligavam o telefone, pensando se tratar de uma brincadeira. - Alo! Quem fala aqui é fulano. - Ah! Não é possível. Ele está na Itália . E pá! Punha o fone no gancho. Era preciso que o Major Masson obtivesse nova ligação e explicasse o que se estava passando. Muitos oficiais ficavam tão emocionados ao microfone, que não conseguiam entabular uma conversa. Gaguejavam uns lugares comuns, repetidas vezes e acabavam se despedindo. Também, não era possível dizer tudo que desejávamos nos curtos três minutos e ainda mais em público, pois todo mundo metia a cabeça para dentro do caminhão, para ouvir a conversa dos outros. As poucas palavras que conseguíamos dizer e sobretudo as que ouvíamos, tinham um sabor todo especial e cada qual voltava para a barraca, no meio da noite, por entre as oliveiras, olhando o céu estrelado e pensando nos entes queridos que estavam a milhares de quilômetros, e cujas vozes ouvira por alguns instantes, graças ao milagre da radiofonia. O Major Mata e os Caps. Hervê e Richard, que dirigiam pessoalmente a JJQW, se viram alvos de mil pedidos e atenções. Todos queriam agradar aos donos daquele precioso caminhão, onde havia um microfone em ligação direta para Copacabana ou Tijuca. As Transmissões, que haviam sido de vital importância durante os combates, continuavam na paz a revelar seu inestimável valor na vida de uma tropa.

"A Epopéia dos Apeninos"
José de Oliveira Ramos


Brasileiros conquistam casamata alemã em Soprapasso.
Foto escaneada do livro "A Verdade sobre a FEB" do Mal. Floriano de Lima Brayner.


Quadro escaneado do livro "Epopéia dos Apeninos"
José de Oliveira Ramos

ESTATÍSTICAS DAS DOENÇAS INFECTO CONTAGIOSAS
NA FEB

Diagnósticos.................................................................................Número de casos

Rubéola...................................................................................................6
Sarampo................................................................................................81
Varicela..................................................................................................66
Parotidite epidêmica..............................................................................532
Gripe simples..........................................................................................79
Pneumonia típica.....................................................................................92
Pneumonia atípica....................................................................................26
Difteria......................................................................................................4
Tifo............................................................................................................4
Disenteria aguda não específica..................................................................4
Disenteria amebiana...................................................................................4
Hepatite infecciosa...................................................................................46
Paludismo crônico....................................................................................34
Paludismo agudo......................................................................................10
Meningite cerobrospinal............................................................................15
Tuberculose pulmonar...............................................................................22
Febre de Malta...........................................................................................2
TOTAL....................................................................................................1 027 
 

Doenças Venéreas

Blenorragia aguda simples....................................................................480
Blenorragia crônica................................................................................77
Cancro mole........................................................................................234
Cancro sifilítico......................................................................................90
Sífilis secundária....................................................................................78
Sífilis terciária........................................................................................20
Papiloma venéreo..................................................................................16
Doença de Nicola-Favre..........................................................................17
TOTAL................................................................................................1 012

Para completar as estatísticas médicas, devemos citar duas bem interessantes, que se referem à classificação dos ferimentos pelos agentes vulnerantes e a das regiões atingidas.

Classificação dos ferimentos pelos agentes vulnerantes

Estilhaço de granadas e bombas..............................1 421.......................76,33%
Balas (metralhadoras e fuzis)....................................175.........................9,39%
"Blast" (deslocamento de ar).....................................163.........................8,75%
Minas........................................................................81.........................4,35%
Coronhadas.................................................................2.........................0,10%
Baioneta.....................................................................1.........................0,05%
Projetis secundários...................................................19.........................1,02%
TOTAL...................................................................1 862........................99,99%

Esse quadro nos mostra o tipo de guerra que nossa tropa enfrentou. Não houve combates à baioneta e predominaram os ferimentos por estilhaços de bombas e granadas, indicando maior emprego da artilharia, morteiros e granadas de mão . As minas foram espalhadas "larga manu" pelo inimigo, mas foram bastante neutralizadas pelos cuidados na progressão, dando, porém, 4,35% no total de feridos. O número de feridos, em relação à tropa engajada, cerca de 16 000 homens, dá mais ou menos 10%.

Classificação dos ferimentos pelas regiões atingidas

Membros...................................................................799....................52,01%
Poli-feridos................................................................321....................20,89%
Cabeça......................................................................204......................3,28%
Tórax.........................................................................171....................11,13%
Abdômen.....................................................................41......................2,66%
Total.......................................................................1 536....................99,97%

Nas formações avançadas foram tratados 250 prisioneiros alemães feridos, sendo 223 no mês de abril. Além dos brasileiros, nossas formações divisionárias atenderam 93 americanos, 32 ingleses, 2 africanos, 236 italianos, 1 polonês, 1 francês e ainda 341 civis italianos.

"Epopéia dos Apeninos"
José de Oliveira Ramos


Ação de Artilharia da FEB nos Apeninos.
Foto escaneada do livro "A Verdade sobre a FEB" do Mal. Floriano de Lima Brayner.

Um Herói nunca morre!

Simples História de um Homem Simples
As Origens
Força Expedicionária Brasileira
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A vida felizmente pode continuar... 

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